Como disse em entrevista ao jornal O Mirante em 2014, aquando da apresentação do meu livro “A Terra de Ninguém”, só voltarei a votar quando a sede do Governo, da Assembleia da República e da Presidência da República estiverem localizadas a sul do Tejo ou a leste da A1, pelo que já não faço conta de votar em eleições portuguesas. Sendo certo que, se votasse, nunca votaria no “Chega”, a não ser que as únicas alternativas fossem o PS e o PSD, os coveiros da coesão social e territorial que cinicamente inscreveram na Constituição da República.
No entanto, tenho de reconhecer que os resultados do “Chega” no Alentejo me encheram de orgulho. Como diz o povo, “para pouca saúde, mais vale nenhuma”.
Os alentejanos, tal como certamente os algarvios, beirões, transmontanos, não votaram no “Chega” por serem racistas e xenófobos. Bem pelo contrário, votaram no “Chega” como forma de mostrar o seu desagrado contra a pior forma de racismo e xenofobia que existe no nosso país: o racismo das elites lisboetas contra os cidadãos das periferias e do resto do território nacional.
O racismo daqueles que querem impor uma escola pública onde sujeitam os filhos dos que não têm escolha a todas as aberrações pedagógicas, inclusivas e educativas que publicamente professam, enquanto reservam as melhores escolas privadas para os seus filhos.
O racismo daqueles que sujeitam os que não têm escolha à morte anunciada nos corredores e às portas dos hospitais e centros de saúde públicos, enquanto reservam os melhores hospitais privados para si e para os seus.
O racismo daqueles que obrigam os que não têm escolha a viver em bairros problemáticos e inseguros, em nome da inclusão e do multiculturalismo que defendem, enquanto eles vivem protegidos em condomínios fechados ou em zonas nobres e seguras.
O racismo daqueles que trazem debaixo da língua a coesão territorial e que, com as suas políticas, reduziram o Alentejo e interior do país a um asilo da terceira idade, onde as pessoas mais qualificadas não têm outra alternativa a não ser emigrar para Lisboa ou para o estrangeiro.
Com a votação no “Chega”, os alentejanos, e certamente todos os cidadãos do interior e das periferias, apenas quiseram recordar aos nossos governantes, comunicação social e ao senhor Presidente da República que exigem ser tratados com a mesma consideração e respeito com que os nossos governantes e o senhor Presidente da República tratam os cidadãos de etnia cigana e que o PAN trata os cães e os gatos. Agora continuarem a ser tratados abaixo de cão é que já não aceitam. Como diz o povo, “já Chega!”
“Quem não se sente não é filho de boa gente.” Esta gente não gosta do “Chega”? Então tomem lá com o “Chega” para saberem o que custa a vida, porque nós também não gostamos da forma como temos sido tratados.
PS e PSD têm agora, no entanto, uma oportunidade única de refazer aquilo que destruíram nestes últimos 40 anos. Basta formarem um Governo de Bloco Central com vista a levar a cabo as prometidas reformas estruturais para tornar Portugal um país coeso social e territorialmente.
A título de exemplo: reforma administrativa, acabando com o municipalismo (a principal indústria da corrupção em Portugal) e criando autarquias com dimensão regional; reforma do sistema hospitalar, educativo e judicial adequando o modelo às novas autarquias; reforma eleitoral dotando cada nova autarquia do mesmo número de deputados, independentemente do número de eleitores (única forma de todo o território estar defendido, representado e protegido); transferência da sede do Governo, Assembleia e Presidência da República para o interior do país, única forma de equilibrar demograficamente o território (a Administração Central do Estado tem de funcionar como contrapeso relativamente à atracção do litoral); deslocação dos Hospitais de Santa Maria e de São José para a periferia da Área Metropolitana de Lisboa para uma zona com boas acessibilidades para todos os cidadãos.
Cabe agora ao PS, PSD e ao senhor Presidente da República responderem a esta simples pergunta: Já Chega? Ou ainda não Chega?

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