A última convenção dos liberais deixou marcas, feridas por sarar, mágoa por carpir, produto de uma crispação quase bélica, a que todos assistimos sem pagar bilhete. Mas não só. Os liberais souberam capitalizar o mediatismo e embatucar os críticos que insistiam em guetizar as suas causas.

Descobrimos que o ADN liberal em Portugal está muito distante da laissez-faire, que abomina a intervenção do estado, numa atitude fleumática para com a facção desprotegida da sociedade. Esta convenção surpreendeu! Descobrimos que os liberais não são só a facção do “Mokassin em segunda mão”, da bandeira da flax-tax ou da reacção anafiláctica às teorias Hobbesianas. Ouvimo-los falar de “bem-estar das pessoas”, da “cabeleireira do país esquecido”, da “meritocracia na função pública”, da “mobilidade social”, do “combate ao estatismo e ao despesismo”, do “resolver os problemas concretos de cada português”, do “passar uma mensagem de proximidade”, do “porta a porta, rua a rua”. Esta dúnia, encumeada intelectualmente, soube enaltecer de forma notável a sua imagem externa. Por entre obuses, espingardas e metralhadoras, conseguiu passar a imagem do partido fashion, cool e ecléctico, que empunha agora novas bandeiras, desconstruindo a persona criada por quem tenta sonegar o lugar ao sol deste movimento no panorama político português. Como uma cereja no topo do bolo, ainda assistimos à personificação da humanidade, quando o líder assumiu, tal qual o comum dos mortais liberais, que quem não se sente não é filho de boa gente.

Mas não só! Por entre o lavar de roupa suja, os liberais despertaram para a necessidade de “democratizar” procedimentos internos, fomentar a partilha de conhecimento e incentivar as relações inter-pessoais para além dos impassíveis Twitters, Linkedins ou Facebooks. Perceberam que a génese do seu movimento está em perigo, se se teimar em não assimilar o liberalismo no seio de um partido liberal. Chamemos o que quisermos, liberalismo conservador, anti Wokismo, liberalismo clássico, anti progressismo, o que for. Qualquer que seja a receita, por mais gourmet que se apresente, perder-se-á a identidade e, com isso, imergirá a falsídia, o declínio e a eclipse.

O mais entusiástico é que tudo isto não é fruto de um Sebastianismo bacoco. Resulta de palavrões como a diversidade, o confronto e a pluralidade. Voltando à analogia gastronómica, descobrimos não só que há vida para além do “arroz”, como percebemos que o “arroz” pode ser apresentado de formas diferentes, numa matriz de fazer ínvido um qualquer Chef cravejado de estrelas Michelin.

Desengane-se quem vaticinou a desagregação, o declínio, a implosão deste movimento partidário. A lamber as feridas e a afogar as mágoas, num rescaldo de agressividade quase brejeira, não fosse este um partido do povo, mas mais robusto e firme nas convicções, determinado em alcançar os objectivos, impregnado duma ambição temerária.

Estes liberais são inequivocamente a corrente fashion do espectro político português, uma espécie de “A Bonis Bona disce”. Termino com uma frase que não é minha, mas resume a robustez de um partido em plena adolescência política: “apertem os cintos liberais que a viagem vai começar!”

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