Atualmente, as empresas enfrentam grandes desafios no modo como devem conduzir os seus negócios. Com a crescente importância das emergências climáticas e sociais aos olhos de uma sociedade cada vez mais exigente, torna-se imperativo que as empresas adotem um papel mais ativo no sentido de se responsabilizarem pelas consequências da sua atividade e de tentarem que as mesmas tenham um impacto positivo.
A nova visão da sociedade, nomeadamente das novas gerações, sobre sustentabilidade e responsabilidade social e as consequentes crescentes exigências da mesma, obriga a que as empresas procurem novas estratégias para os seus negócios. Aquelas cujo foco principal continue a ser os meros resultados financeiros, não atendendo às necessidades dos vários stakeholders e o impacto da sua atividade na sociedade, vão muito provavelmente perder quota de mercado e vantagem competitiva.
Só uma liderança responsável pode constituir-se como uma potencial resposta a estes desafios.
Neste contexto e consciente da sua responsabilidade como ator na sociedade com a obrigação de alertar todos os profissionais para esta nova realidade, a CATOLICA-LISBON, através do seu Center for Responsible Business & Leadership, acaba de publicar um estudo sobre Liderança Responsável – sempre no cumprimento do seu Propósito que consiste em “contribuir para uma sociedade onde só existam negócios responsáveis geridos por líderes responsáveis”.
Este estudo pretende identificar as características diferenciadoras da liderança responsável, em si mesma e comparativamente a outros estilos de liderança. Para além disso, procura entender a perceção dos executivos portugueses relativamente a esta temática, nomeadamente como percecionam as características que a definem, os aspetos que a potenciam ou dificultam.
De acordo com os resultados obtidos através de questionários e entrevistas a centenas de executivos, o caminho a seguir para ser uma empresa de sucesso parece passar por ir para além do estabelecido por lei, e de tomar iniciativa no sentido de procurar soluções cada vez mais responsáveis e éticas. Ao seguir este trajeto, não só se transformam em empresas nas quais os consumidores confiam, são geradoras de boa reputação, e aumentam ainda o seu potencial para atrair talento, nomeadamente no segmento das novas gerações que procuram empresas com valores e um propósito com os quais se identifiquem.
Uma das partes mais interessantes do estudo é a identificação por parte dos executivos que nela participaram das cinco principais características da liderança responsável: (1) a ética, (2) honestidade, (3) autenticidade, (4) ser fonte de inspiração, e a (5) humildade.
Ainda no âmbito do estudo, uma amostra comparativa realizada com executivos americanos permitiu concluir que apresentam muitas semelhanças, pois foram identificadas como mais relevantes pelas duas amostras as mesmas 4 das 5 características: honestidade, ética, autenticidade, e ser fonte de inspiração. A única diferença prende-se com a amostra portuguesa apontar a humildade do líder como mais importante, enquanto os americanos dão mais ênfase ao empoderamento dos colaboradores.
A responsabilidade pelas pessoas é, cada vez mais, um imperativo de gestão. Efetivamente, um fator intrínseco às organizações e que foi identificado como catalisador da liderança responsável a nível empresarial foi a equipa. A existência de uma equipa motivada, competente, e que acredite nos mesmos valores da empresa onde trabalha foi descrita como potenciadora de resultados positivos, sendo a adoção gradual de novas medidas sustentáveis a sua consequência natural. Por esta razão, cabe aos líderes impulsionarem o desenvolvimento das competências dos seus colaboradores nesta área, e de providenciar informação adequada relativa à relevância da liderança responsável.
Os principais fatores identificados como barreiras à adoção da liderança responsável estão relacionados com a questão financeira e com a definição de prioridades. Efetivamente, ainda que exista vontade por parte das organizações de implementarem medidas de liderança responsável na empresa, a sustentabilidade envolve um investimento inicial por parte das organizações, consistindo num compromisso a longo prazo, por vezes demorando até que os resultados para os acionistas sejam visíveis. Para além disso, quando se verifica algum choque externo na economia, como foi o caso da pandemia recente, alguns aspetos da sustentabilidade correm o risco de ser passados para segundo plano. A perceção incorreta sobre a liderança responsável de muitos líderes, a sua mentalidade pouco adaptada às novas realidades e a aversão ao risco são também razões que justificam o facto de não haver mais empresas a seguir este caminho.
Em suma, apesar das barreiras identificadas, a liderança responsável foi vista como o caminho mais correto e viável para assegurar a sobrevivência a longo prazo da empresa. Empresas sem propósito e valores, onde a única preocupação seja a rentabilidade, correm o risco de não ter sucesso a longo prazo. A liderança responsável pode assim corresponder à liderança do futuro.