“Tendo em consideração o vosso compromisso recente com investimentos mais sustentáveis, qual o critério para renovar mandatos de CEOs e outros Diretores das empresas que controlam?”, perguntaram esta semana numa entrevista a Michelle Edkins, responsável a nível mundial pela gestão de investimentos da BlackRock (maior private equity do mundo, com a gestão de ativos no valor de 7 triliões de dólares, algo como o GDP de duas Alemanhas). Resposta: “a pandemia vai ajudar a entender quais as empresas que têm um foco a longo prazo, com planos sólidos de gestão de capital humano e planos credíveis de contingência. O conceito de sustentabilidade a longo prazo sugere que as empresas que atravessem esta crise e sobrevivam com um bom desempenho são exatamente o tipo de empresas que encaramos como exemplos a seguir, e que queremos no nosso portfolio”. Podia ter sido algo mais clara? Talvez, mas não creio que haja um só CEO a quem esta mensagem ia dirigida que não o entenda…claramente.

O mundo enfrenta uma das piores crises de saúde pública de que há registo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar covid-19 como uma pandemia causada pelo coronavírus mais recentemente descoberto, desconhecido antes do surto em Wuhan, China, em dezembro de 2019.

À data em que escrevo estão identificados, à escala global, mais de 800000 de casos de pessoas infetadas e cerca de 40000 mortes, e os especialistas não conseguem antecipar quando será atingido o pico.

Estes são momentos decisivos onde o melhor da humanidade precisa de aparecer.

Para os cidadãos, implica termos todos de agir de forma responsável, entendendo que o nosso mau comportamento (não seguindo as instruções das autoridades sanitárias) pode levar à perda de dezenas de milhares de vidas. Valores como a solidariedade, o respeito, a sustentabilidade e a dignidade ganham uma dimensão ainda mais relevante.

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Para o mundo corporativo, mais do que nunca, agir sob o entendimento de que há um “bem maior”, é primordial. Preservar o bem-estar e a segurança dos colaboradores e dos “stakeholders” em geral – sem os quais nem sequer vale a pena pensar em qualquer tipo de estratégia futura – tem de estar no topo da lista de prioridades corporativas.

Para um grande número de PMEs (Pequenas e Médias Empresas) o desafio representa nada menos que sobreviver, o tsunami económico que nos espera será seguramente maior do que a recente crise financeira. E é neste contexto que as grandes empresas têm uma responsabilidade acrescida de agir… responsavelmente. O COVID19 pode representar um “momento de ouro” para que essas empresas “agarrem” este desafio como uma excelente oportunidade para provar que as suas ambições de Sustentabilidade são “para todas as estações”. Uma excelente oportunidade também para ganhar a confiança e lealdade dos seus clientes e assim criar com eles o “vínculo emocional” capaz de resistir ao teste dos tempos.

À medida que sairmos da crise (e vamos sair!), uma quantidade significativa de “lições aprendidas” estarão disponíveis para as empresas que sejam capazes de olhar mais longe. Muitos aspetos das nossas vidas mudarão (desde a forma como interagimos até à forma como trabalhamos e estudamos) e haverá claras oportunidades para as empresas se reinventarem para modelos mais sustentáveis – modelos económicos, ambientais e sociais. O inimigo invisível está a dar-nos uma oportunidade para emergirmos melhores pessoas e melhores empresas. Eu vejo esperança no horizonte.