Os desafios que os temas da Sustentabilidade provocam ao nível da atuação das empresas no mercado são por demais evidentes e são já poucos aqueles que entendem que é possível ter êxito sem este tipo de preocupação. O “trilema” Profit, Planet, People só tem uma forma de ser entendido e resolvido: se é óbvio que sem Profit não haverá nunca preocupações Planet & People, o que é ainda mais óbvio é que sem preocupações Planet & People dificilmente haverá Profit.

E esta realidade vai chegando muito rapidamente a todas as dimensões empresariais. Até hoje parecia preocupação apenas para as Grandes Empresas, mas lidar com estes desafios é uma realidade que se impõe, cada vez mais, também, às Pequenas e Médias Empresas (PMEs).

Após algum tempo de contacto próximo, no Observatório dos ODS nas empresas portuguesas, da CATÓLICA-LISBON com várias Grandes e Pequenas e Médias empresas que operam na economia portuguesa, há duas grandes tendências que identificamos:

  1. As grandes empresas estão já muito conscientes dos desafios e oportunidades relacionados com a sustentabilidade. Ainda assim, algumas das grandes multinacionais a operar no nosso país não têm imperativos de sustentabilidade integrados na sua estratégia, não monitorizam os seus objetivos de sustentabilidade e não sentem que implementam e reportam as suas estratégias de sustentabilidade como ambicionam. Não obstante, estão já a preparar-se para o “tsunami legislativo” que afetará profundamente os seus negócios nos próximos anos (principalmente as diretivas CSRD e CSDDD).
  2. As Pequenas e Médias empresas (PME) encontram-se numa fase muito inicial, no que diz respeito à sua estratégia de sustentabilidade. A maioria não conhece com detalhe os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e desconhece a legislação de sustentabilidade que afetará profundamente os seus negócios no curto-médio prazo. As poucas que conhecem de forma mais profunda os imperativos da sustentabilidade estão a trabalhar o tema (ainda) de forma superficial. Adicionalmente, na generalidade, as PME portuguesas não reportam sobre os seus objetivos de sustentabilidade.

As PME’s têm, deste modo, uma oportunidade de criação de vantagem competitiva que as Grandes Empresas já dificilmente encontram. Nestas, o espaço para concorrer através de posicionamentos mais sustentáveis está já muito ocupado, e em muitas situações estamos já em “território” de licença para operar. Há 15 anos quando empresas como Unilever, IKEA e algumas outras começaram a ocupar esse espaço, a criação de vantagem competitiva foi possível, e muitas delas estão hoje a beneficiar desse “business case for action” onde o seu posicionamento permitiu fidelização de clientes e crescimento de negócio. Hoje, competir nessa dimensão é difícil e exige níveis de criatividade e investimento significativos.

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O mesmo não é verdade para as PMEs (sobretudo a operar no mercado português) onde eu diria que o espaço está todo por ocupar. Acredito profundamente que as PMEs que sejam agora capazes de posicionar a sustentabilidade no centro da sua estratégia de negócio terão a oportunidade de criar uma vantagem competitiva que as grandes dificilmente encontrarão.

Para muitas delas, competir por preço é inegavelmente o único caminho que se vêm obrigadas a trilhar. E a má noticia é que isso não vai mudar, vão ter de o continuar a fazer. Só que “em cima” disso aparece agora este caminho que vão também ter de traçar – quer porque a legislação europeia cada vez mais exigente as vai obrigar, quer porque nem sequer poderão participar em cadeias de abastecimento de grandes empresas que isso lhes vão exigir. Pelo que, na minha opinião, só há uma estratégia consistente e duradoura de sucesso: entender definitivamente que o tema de se ser mais responsável ambiental e socialmente é uma oportunidade e não uma ameaça. Esqueçam a ameaça, porque é bem mais do que isso – é uma realidade. E vejam estes desafios como oportunidades de negócio que, nesta fase, e por oposição às grandes empresas, ainda se afigura como um espaço de competitividade por ocupar. Há já várias histórias de êxito de PMEs em Portugal e que provam que é possível trilhar esse caminho.

Todas estas temáticas serão abordadas dia 25 de setembro na Conferência “ESTRATÉGIA ESG PARA PME EXPORTADORAS”, organizada pela Secretaria de Estado da Internacionalização, onde o Center for Responsible Business & Leadership da Católica irá moderar uma conversa com especialistas sobre o tema: “ESG – Autodiagnóstico, ferramentas de reporte e comunicação”. Este será também um momento para melhor compreendermos como as PMEs portuguesas se podem preparar para as exigências de reporting e compliance ESG cada vez mais importantes no futuro próximo.