A Madeira atravessa um momento de profunda incerteza. A instabilidade política e institucional reflete-se na vida de cada madeirense e abala a estrutura do sistema institucional português. Após mais uma crise política, não podemos deixar passar esta oportunidade de virar a página e procurar, de forma decidida, respostas que tragam estabilidade e progresso duradouros para a região.

A queda do governo regional, precipitada por uma moção de censura, mergulhou a região numa crise política sem precedentes, cujas repercussões podem ultrapassar os limites do arquipélago. Com o governo em gestão, cabe agora ao Presidente da República, no final do seu mandato, tomar uma decisão sensata e firme, centrada na busca de uma solução duradoura para o impasse político na Madeira. Antes de decidir sobre a dissolução da Assembleia Legislativa da Madeira e a convocação de eleições antecipadas, o Chefe de Estado ouve os partidos políticos e o Conselho de Estado. Essa decisão exige ponderação, sentido de Estado e uma análise profunda dos cenários políticos atuais e futuros.

A Madeira prepara-se para a sua terceira eleição legislativa regional em apenas dezoito meses, reflexo de uma instabilidade política que, se não for devidamente tratada, poderá perpetuar-se e continuar a impactar negativamente o quotidiano da população. Há ainda o risco de um novo quadro parlamentar conduzir a um impasse, sem maiorias claras ou consensos entre as forças políticas. Tal cenário poderá resultar num novo governo de gestão, agravando o ciclo de instabilidade e aprofundando os problemas reais.

A oposição regional enfrenta desafios profundos. A ausência de uma alternativa credível ao partido no poder limita as possibilidades de uma transição política capaz de corresponder às expectativas dos madeirenses. Por outro lado, subsistem dúvidas quanto à possibilidade de o Presidente da República conceder tempo suficiente para que os partidos possam preparar eleições que assegurem um quadro parlamentar estável e uma governação eficaz nos próximos quatro anos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A crise política reflete-se igualmente na situação interna dos principais partidos. O PSD/Madeira, que governa a região há quase meio século, enfrenta a maior crise da sua história. As clivagens internas, resultantes da instabilidade política e institucional, aliadas ao silêncio de muitos dos seus quadros, comprometem a coesão indispensável para superar os desafios presentes. Para ultrapassar esta conjuntura, o partido precisa de legitimar a sua estratégia internamente, sobretudo num contexto em que o cenário político se alterou de forma significativa. Caso contrário, corre o risco de ficar associado aos piores capítulos da história regional, perpetuando a desconfiança dos eleitores e enfraquecendo a transparência dos processos político-partidários, com inevitáveis consequências negativas nos resultados eleitorais.

No PS/Madeira, as condições políticas favoráveis nas últimas eleições não se traduziram numa consolidação enquanto alternativa. O desempenho discreto e as pressões internas por mudanças na liderança expõem fragilidades, agravadas pela aposta do actual líder em eleições rápidas, evitando um escrutínio interno que poderia enfraquecer ainda mais a sua posição. Entre os partidos com maior representação regional, o Juntos pelo Povo (JPP) demonstra estabilidade interna, mas a sua capacidade de afirmação continua limitada pela ausência de alianças com outras forças da oposição.

Por sua vez, o futuro do CHEGA, CDS, Iniciativa Liberal e PAN permanece incerto, apesar de já terem afirmado ou denunciado as suas intenções em relação a alianças políticas futuras. Há ainda a incógnita sobre se o Bloco de Esquerda, o PCP ou o PTP conseguirão regressar ao parlamento regional.

Entretanto, a Madeira encontra-se num limbo político. Sob a gestão de um governo sem plenos poderes, os problemas estruturais agravam-se e as oportunidades continuam a ser desperdiçadas. Esta crise transcende o plano regional, abalando a confiança no modelo de Autonomia Regional. A instabilidade política compromete o desenvolvimento da região e ameaça o equilíbrio entre autonomia e governação eficaz.

Num momento de crise profunda, antes da decisão popular nas urnas, este é o tempo de líderes e estadistas. É imprescindível que os responsáveis políticos, tanto regionais como nacionais, assumam o compromisso de pensar no superior interesse da Madeira e contribuam para garantir eleições transparentes e organizadas, capazes de gerar estabilidade e soluções concretas para as necessidades da população. A Madeira não pode continuar refém de interesses partidários ou agendas individuais. Veremos quem estará à altura deste desafio.

A Madeira não é uma causa perdida, e os seus problemas não dizem respeito apenas a essa parcela de Portugal. Urge pensar em soluções antes das eleições. É tempo de um novo ciclo político e de um modelo de governação que coloque as pessoas no centro das prioridades.
Aqui, não se trata de ganhar ou perder, dar ou tirar razão. Trata-se de um bem maior. O momento é agora: decidir a pensar numa região e nas suas pessoas, rejeitando ciclos de crise sucessivos que em nada beneficiam o presente e, muito menos, o futuro.