Jorge Jesus já não é treinador do SLB. Terminou um ciclo que começou mal e terminou pior. A primeira época foi o que foi, esta época vai pelo mesmo caminho, sem as desculpas do Covid, a equipa apresenta um futebol confrangedor e o fundamentalismo do ex-treinador contra as jovens promessas da Academia, negando-lhes oportunidades iguais aos outros jogadores, foi criminoso. Investimos mais de 100M€ em jogadores, temos a maior carga salarial dos três grandes e a maior de sempre da história do SLB e o sucesso não aparece.

Com os objectivos desportivos deste ano muito comprometidos, a sua saída vai permitir planear a próxima época de outra forma e com tempo. No entanto alerto que a sua saída não resolve tudo e que também não tivemos sucesso sustentado com os treinadores Rui Vitória e o Bruno Laje, com este a último a fazer um trabalho extraordinário no Wolverhampton.

Por isso, responsabilizar exclusivamente, mais uma vez, o treinador pelo insucesso desportivo é curto. Despedem-se os sargentos, os oficiais vão ficando, nunca se vai ao fundo da questão e vai-se adiando o sucesso.

Aos olhos da maioria dos sócios a responsabilidade da escolha do treinador Jorge Jesus e do desastre da actual época continua na cabeça do ex-presidente pois o actual presidente e ex-director desportivo Rui Costa nunca foi na realidade responsabilizado por nada e nunca ninguém percebeu muito bem, durante estes 12 anos, qual era a sua responsabilidade na estrutura e quais eram as suas escolhas.

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Desportivamente a página Luís Filipe Vieira fica definitivamente virada com a saída do Jorge Jesus. Aos olhos da maioria dos sócios e da comunicação social o mandato da direcção do Rui Costa começou agora. Finalmente vamos conhecer as escolhas do actual presidente, aliás altamente legitimado nas últimas eleições com uma vitória com mais de 80% dos votos, mas que do escasso debate de ideias pré eleitoral, não se percebeu na realidade qual era a sua estratégia para o futuro do clube, se é que a tem.

Como sempre com a saída dos treinadores começa a discussão entre os sócios e adeptos sobre qual o novo treinador ideal, quais os novos jogadores que devem entrar em Janeiro e quais os sistemas tácticos preferidos. Se é normal esta discussão entre os sócios e adeptos, já o presidente e a sua direcção têm que fazer uma reflexão mais profunda sobre o desastre competitivo generalizado do clube caminhando alegremente para a sua banalização desportiva.

O problema está longe de ficar resolvido com mudança de treinador. Na minha opinião há quatro condições fundamentais que têm de acontecer para se ambicionar a ter sucesso desportivo continuado:

  1. Política Desportiva.  

Ter Ideias claras quanto à política desportiva do Clube, definir um Rumo e ter a determinação para manter o RUMO escolhido mesmo que os resultados desportivos não apareçam de imediato.

E há escolhas que é preciso fazer e questões que é preciso reflectir e definir: Pretende-se dar oportunidade na equipa sénior aos talentos formados na Academia do Seixal ou não? Que tipo de futebol se pretende apresentar e como jogam as melhores equipas da Europa? Será que as melhores equipas da Europa jogam um futebol lento, lateralizado, sem agressividade sem intensidade ou bem pelo contrário? As características dos jogadores do actual plantel permitem praticar um futebol moderno e competitivo? Todos os jogadores do plantel actual têm a qualidade condizente com os altos objectivos que deve ter o Clube? Qual a média de idades das equipas mais vencedoras na Europa num cenário de calendários nacionais e internacionais cada vez mais congestionados? Com que tipo de estrutura e qual o perfil de treinadores e jogadores mais indicado para caminharmos no sentido da recuperação do nosso ADN de combatividade histórico das equipas do SLB? Etc., etc., etc.

Estas e outras questões têm de ser respondidas pela estrutura antes da escolha do novo treinador e da formação do novo plantel. E o treinador ideal é o treinador que encaixar na ideia desportiva do clube e que dê resposta a maioria das escolhas. Lançar nomes de treinadores a granel sem definir um rumo é mais uma vez adiar o sucesso sustentado. E os jogadores contratados deverão ser criteriosamente escolhidos dentro da mesma lógica colectiva em vez da habitual lógica do import/export que nos levou ao top de vendas na Europa mas que nos tem afastado dos títulos e nos descaracterizou totalmente. É possível fazer muito mais com muito menos desde que haja critério nas escolhas. Finalmente, não sei se há ou não há problemas de balneário, mas se os há não vale a pena trazer novos treinadores e novos jogadores antes de os resolver.

Com esta época praticamente comprometida é a hora de os enfrentar e começar a próxima época limpa para iniciar um novo ciclo. É hora de o actual presidente deixar de “olhar para o lado” e enfrentar os problemas recorrentes de há anos e que de certeza conhece muito bem.

  1. Coesão.

Uma direcção e uma administração da SAD coesas à volta da política e dos objectivos do clube é fundamental para o sucesso desportivo sustentado. A coesão começa na liderança do clube e vai até ao nível mais baixo da organização. Sem um alinhamento forte e total da governance do clube a coesão nunca será efectiva e mantida no tempo e transversalmente na estrutura e torna o cumprimentos dos objectivos desportivos muito mais difíceis de atingir.

A composição da actual direcção parece-me tudo menos coesa com muita gente da anterior Direcção, há muitos anos no clube (que esperar de diferente?), alguns elementos vindos do grupo “Benfica Bem Maior“, críticos da anterior direcção e somente um elemento da confiança pessoal do presidente trazido de fora. O actual presidente parece-me um homem bem intencionado e que quer o melhor para o seu clube, mas tem que ter a garantia que tem com ele uma equipa coesa, unida, alinhada e fechada senão dificilmente ultrapassará a enormidade dos desafios que tem pela frente.

  1. Liderança forte.

Um clube com a dimensão do Benfica e com as expectativas sempre tão altas não funciona sem uma liderança forte. Liderança forte não significa uma liderança do “quero, posso e mando” e sem trabalho de equipa mas é ter uma visão clara e ambiciosa para o clube e dá-la a conhecer, é ter convicções e ter a coragem de não as trair, é implementar a mudança, é confrontar, é viver criticado, é tomar decisões difíceis, muitas vezes contra a corrente e sobretudo nunca as adiando e é defender intransigentemente o superior interesse do clube.

A saída do Jorge Jesus foi a melhor solução para todos, mas não posso deixar de referir que a forma como a sua saída aconteceu não foi a mais correcta e abre um precedente grave para o futuro. Também as fugas de informação permanentes em todo este processo demonstram uma falta enorme de coesão na estrutura.

Se entrarmos no regime do “deixa andar” e nunca houver responsáveis, vamos ter mais “motins” dentro e fora do campo em breve. Se não houver firmeza fora de campo nunca haverá “garra” dentro do campo.

Fica o alerta, é preciso liderança.

  1. Ambição.

O clube precisa de uma nova ambição e de uma nova energia, precisa de uma mudança de ciclo que ambicione objectivos mais altos do que ganhar um campeonato de vez em quando e ficar contente com um futebol confrangedor, sem atitude, sem garra, longe do ADN de combatividade do clube. É urgente os sócios voltarem a identificar-se com as equipas do Benfica. A história e a dimensão do clube assim o exige. Mas a história que nos dá um orgulho imenso é passado, e não podemos ficar adormecidos no passado, é preciso ação no presente para ganhar o futuro.

Se estas quatro condições não se verificarem cumulativamente, dificilmente poderemos ambicionar a outros patamares e a outras ambições competitivas e o próximo ciclo que agora se abre continuará a ser de mediania desportiva generalizada.

Os sócios têm dada uma margem de confiança muito grande ao Rui Costa, e elegeram-no presidente com uma percentagem relevante. Mas é bom que o Rui Costa tenha consciência de que a sua hora chegou e não é mais possível continuar a andar entre os “pingos da chuva”, fingindo de morto quando os problemas aparecem à espera que eles se resolvam sozinhos. É preciso decisões. Não está em causa o seu benfiquismo e a sua dedicação, mas tem que acordar rapidamente do longo “sono” e tomar consciência do que representa ser líder de uma organização como a do Benfica.

Para além da liderança forte e determinada no dia a dia, como referimos acima, deverá também ser o motor de uma mudança tão necessária no futebol português, há anos condicionado, percebendo onde andam os cancros que o querem manter, tal e qual como está, e onde andam os agentes que também anseiam a saudável mudança. É que sem essa mudança, tudo se torna ainda mais difícil.

O presidente Rui Costa está há mais de 12 anos no clube e por isso tem obrigação de conhecer muito bem a estrutura, a organização, os jogadores, os treinadores e o balneário. É bom por isso que dispa de vez as vestes de Rainha de Inglaterra e comece a pôr as mãos na massa. Defina o Rumo e implemente as mudanças internas necessárias para a sua boa implementação. Se continuarmos em regime de navegação à vista e do “deixa andar” não sairemos da mediania onde caímos.

Também os temas importantes como a conclusão da Auditoria prometida, a Revisão de Estatutos e o delicado assunto da reestruturação do capital da SAD caíram no esquecimento, não há notícias.

Com meia dúzia de meses em exercício, cabe hoje a Rui Costa reflectir se já tem a real consciência da sua missão e se se sente totalmente capacitado e vocacionado para cumprir essa mesma missão, porque se não o fizer estará a contribuir, escudado no seu prestígio de ex-grande jogador, para o adiamento do Benfica e arrisca-se fortemente a que o mandato da direcção que lidera não chegue ao fim.

Aos adeptos tem sido pedido apoio, ilusão e paixão, aos dirigentes exigimos pragmatismo, rumo, coragem e ação e é disso que estamos à espera na entrada deste novo ciclo.