Eu fui emigrante, nasci e cresci numa família portuguesa em Joanesburgo, na África do Sul. Eu sei o que é querer participar nas decisões importantes do meu país e encontrar apenas barreiras e burocracia.
Nos últimos dias fomos inundados nas televisões com a lenta e dolorosa contagem dos votos por correspondência dos portugueses emigrados, dos mais de um milhão e meio de portugueses inscritos para eleger 4 deputados. Sem perder muito tempo, é importante terem consciência da falta de representação que estes portugueses têm, quando comparamos com outros círculos. Por exemplo, o Algarve tem 382 mil eleitores inscritos e elege 9 deputados, e Setúbal tem 751 mil eleitores inscritos e elege 19 mandatos. Ou seja, a emigração tem mais do dobro de eleitores que Setúbal, mas elege menos 15 deputados, tem 5 vezes menos representação do Parlamento.
Mas, ainda mais grave, são os votos anulados nos círculos da emigração, que nestas eleições representou quase 40% dos votos. No ano em que houve mais participação, em que os portugueses no estrageiro mais votaram, mais de 122 mil votos foram para o lixo. A principal razão referida, não foi a anulação do boletim pelo eleitor, mas sim a burocracia, pela falta de uma cópia do cartão do cidadão no envelope de voto por correspondência. Também em 2022, muitos foram os votos que acabaram na reciclagem porque chegaram fora de prazo. Para mim, isto levanta logo duas questões: Será este um problema de comunicação da responsabilidade da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e das embaixadas, que não conseguiram explicar a complicação do processo de voto, ou será que estamos perante um método de votação que já não se adequa aos nossos tempos?
Numa época em que quase tudo é feito online, desde as transações bancárias até à interação com o portal das finanças, não se entende porque é que o nosso processo eleitoral não segue esta tendência. O voto eletrónico é a solução para muitas destas questões, facilitando o processo para todos e garantindo que a nossa vontade de participar seja respeitada e concretizada de forma eficaz e segura.
A vontade de participar é forte entre quem está emigrado, mas precisa ser correspondida por um sistema que permita exercer esse direito sem barreiras desnecessárias. É fundamental modernizar o processo de votação, garantindo assim que todos os portugueses, independentemente de onde estejam, possam ter a sua voz ouvida e contribuir para o futuro do seu país.
O voto só será verdadeiramente um direito quando for realmente universal e de fácil acesso.