Este país tem umas traseiras que nunca são bonitas de ver. Quando nos aparecem à vista sem disfarces é que percebemos como tantas vezes preferimos viver na terrível ilusão do país mais-que-perfeito. Um país bonitinho mas que não é o nosso, ou não é o de todos nós.
E não, não estou a referir-me à estrada que caiu para dentro de uma pedreira em Borba, mas já lá irei. Estou a falar da família que morreu em Fermentões, Sabrosa, lá nos confins do Douro. Não apenas por ter morrido intoxicada por monóxido de carbono, quase sempre uma morte de pobres que recorrem a métodos primitivos para se aquecerem, pois infelizmente todos os anos morrem umas dezenas de portugueses assim. Mas por ter morrido na casa em que morreu, sinal de uma vida vivida como nem sabemos que pode ser vivida, e pelas razões que morreu.
Fait-divers? Uma tragédia como tantas outras? Sim, porque há outras iguais. Não, porque houve nas imagens daquele casebre, na história daquela vida, o vislumbre do Portugal para que preferimos não olhar, ou que tendemos a esquecer que existe (e sim, estou a escrever na primeira pessoa do plural, não me estou a excluir).
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.
Siga-me no Facebook, Twitter (@JMF1957) e Instagram (jmf1957).