Desde 1975 que o Ministério da Educação teve variadíssimos nomes – e competências, presume-se. Em 1975 foi, de imediato, a Educação ligada à Investigação Cientifica (ministério da Educação e Investigação Científica); faz sentido, pois não há educação sem ligação à ciência visto que o mundo evolui e, em consequência, todo o saber, que deve ser transmitido, também evolui.

Esta designação manteve-se até 1979. Durante um breve período, apenas alguns meses, a ciência passou a estar ligada à cultura e à coordenação cultural (Ministério da Coordenação Cultural, da Cultura e da Ciência – Agosto de 1979 a  janeiro de 1980) – após o que, novamente, passámos a ter um Ministério da Educação e Ciência, se bem que passados uns escassos 18 meses (setembro de 1981) a ciência foi novamente ligada à cultura e tivemos um Ministério da Cultura e Coordenação Científica.

Após 1983, a ciência passou a estar integrada em diferentes ministérios, ou na Presidência do Conselho de Ministros. O Ensino Superior manteve-se sempre na Educação.

Em 1995, com Mariano Gago, tivemos o primeiro Ministério da Ciência e Tecnologia  (sem Educação, o ensino superior continuava  junto com os restantes graus de ensino). Foi o grande salto da ciência em Portugal que se deve, sem sombra de dúvida, a Mariano Gago.

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Em 2002 (2.º governo Guterres), apareceu finalmente o Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior. Mas temos que ser muitíssimo sinceros, Mariano Gago foi, neste período, um excecional ministro da Ciência, não foi um excecional ministro do Ensino Superior.

Até 2011 com, algumas variantes tivemos ministérios de Ciência, Inovação e Ensino Superior, Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, este último novamente com Mariano Gago e com um pouco de mais atenção ao Ensino Superior com a saída do RJIES e a reforma de Bolonha, mas sempre com um muito maior foco na ciência. Finalmente, em 2011, no governo de Passos Coelho, novamente  Ministério da Educação e Ciência, com secretarias de Estado para o Ensino Superior e secretaria de Estado para a Ciência.

A partir de 2015 e até ao presente tivemos ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior .

O ministro Manuel Heitor tutelou a pasta entre 2015 e 2022, era visionário no que à ciência diz respeito e, concorde-se ou não com a estratégia que definiu, e eu concordei, é indiscutível que tinha uma estratégia para o desenvolvimento da ciência. No entanto, não me apercebi de que tivesse uma estratégia tão bem concebida para o Ensino Superior (aliás como Mariano Gago). O Ensino Superior, principalmente o Universitário, foi parente pobre no Ministério. Havia apenas uma secretaria de Estado sem competências delegadas.

De 2022 a 2024 Elvira Fortunato foi ministra, apesar de ter quase passado despercebida, até porque teve, eventualmente, demasiado pouco tempo para definir a sua estratégia para a ciência. Quanto ao Ensino Superior, a verdade é que delegou no secretário de Estado – secretário de Estado do Ensino Superior – O Ensino Superior ficou numa secretaria de Estado e, de alguma forma, foi separado da Ciência.

Temos agora um Ministério da Educação, Ciência e Inovação, e começou-se de imediato a ouvir vozes (anteriores ministros, associações académicas, professores universitários) dizendo que é um retrocesso.

Será retrocesso ou será visionário?

Não queremos, não quer o país, cada vez mais Investigação e Inovação?

Não está mais que provado que se estimularmos desde cedo os jovens para a investigação teremos mais espírito crítico, mais capacidade de investigação e maiores probabilidades fazer crescer a inovação cientifica?

Está provado sim!

Aliás, os centros Ciência Viva, foram a resposta de Mariano Gago ao alargamento da ciência aos mais novos. Porque é fundamental.

Em consequência, juntar Educação com Ciência e Inovação não é um erro, é o resultado de um país com uma comunidade científica já amadurecida, que quer alargar os horizontes da ciência a todo o ensino. Parece-me bem como visão!

E juntar Educação com Ensino Superior? Para além do facto de que todos os graus são educação, o que é óbvio, talvez esta ligação esteja a faltar já há tempo demasiado.

O clamor que se ouve nas Universidades (sou professora universitária) de que os estudantes “vêm mais mal preparados todos os anos”, provavelmente não é culpa dos estudantes, mas sim do facto de o Ensino Superior não ter sequer uma ideia sobre a evolução que os curricula do secundário têm sofrido ao longo dos anos.

Não sei se é mas pode ser!

Desconhecemos tudo o que anteriormente se passou e como se passou, e talvez fosse útil conhecer esses percursos anteriores.

Referir que se quer menorizar o Ensino Superior, que tem sido sucessivamente menorizado, ao juntá-lo com a Educação é prematuro, pode resultar, pode ser um passo em frente, como será, seguramente, a ligação da ciência, que não deve ser exclusiva do ensino superior, à educação, no geral.

Esperemos pela orgânica do Ministério, esperemos pelos resultados, não sejamos apressados a destruir o que ainda não se começou.

Parece-me arrojado e visionário, não o contrário.