O mundo está a viver um tempo de enorme transformação.

Um tempo de inovação na tecnologia e um tempo de reajustamento interno e externo das sociedades que o compõem.

A estrutura criada a partir do pós-guerra nas sociedades do mundo ocidental promoveu uma caminhada de desenvolvimento baseada na paz entre elas, na democracia dentro delas e na procura de um conhecimento cada vez maior, que resultou na qualidade de vida que temos nos dias de hoje.

Tudo isto só foi possível por se ter conseguido criar um espírito de união entre todos os diferentes países e os cidadãos de cada país, que estavam extraordinariamente motivados para criar este paraíso depois do sofrimento da guerra.

Contudo, essa qualidade de vida que obtivemos, levou-nos a ser mais exigentes nos direitos e benefícios e menos disponíveis nos deveres e responsabilidades.

O tempo de guerra que precedeu esta nova realidade deu aos cidadãos destes países a consciência da sua responsabilidade sobre a necessidade de trabalharem e de se sacrificarem para promover uma sociedade aonde se viva em paz e em segurança com a capacidade de satisfazer as necessidades de cada um e melhorando sistematicamente a vida de todos.

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Com o tempo, os cidadãos, principalmente aqueles que já não passaram pelo sofrimento da guerra, foram criando a sensação de que aquela forma de vida não devia ser suportada pelos seus esforços e sacrifícios, mas seria, sim, um direito que lhes assistia por terem nascido nesta parte do mundo.

Por outro lado, a estrutura do regime democrático, que leva os políticos a ambicionarem ter o poder de governar em períodos de quatro ou cinco anos, tornou fácil a proposta de não exigir aos cidadãos esses sacrifícios, que serão sempre essenciais ao estabelecimento daquela qualidade de vida e que funcionou como o fator de angariação de votos para a sua eleição.

A falta de responsabilidade dos políticos sobre as reais necessidades do país que pretendem governar e a criação de ideias totalmente desfasadas da realidade da vida – que foram lançando ao longo dos anos para criar a ideia de que seriam modernos e para encantarem os eleitores –, conseguiu iludir o povo enquanto não foram visíveis os resultados dessas ideias, mas estão hoje a ter como resultado uma reação extrema no sentido diametralmente oposto e, também agora em exagero.

Pior ainda, a mudança da perceção dos eleitores sobre aquilo que os fizeram passar, não diminuiu a divisão profunda a que se tem exposto a sociedade e até o está a agravar.

Em cima de toda esta situação de crise social e política que estamos a viver, a inovação tecnológica, tão importante ao nosso desenvolvimento e à promoção da qualidade de vida das sociedades, está a permitir a toda a população uma forma de ocupação do tempo cada vez mais isolada e cada vez menos social, fator que propicia o individualismo e a divisão e não promove a partilha de preocupações nem de soluções.

A vida fácil, sem compromissos fortes para com a sociedade, funciona ao contrário dos momentos de sofrimento e sacrifício, como elemento de divisão e de rotura entre os seus membros. E neste momento temos a consciência de que estamos profundamente divididos, tanto nas ideias políticas como em quase todos os temas que se discutem na sociedade.

Durante décadas fomos capazes de promover um crescimento económico, uma melhoria na educação, um avanço extraordinário na saúde, nas condições de trabalho, enfim na qualidade de vida.

Hoje, começamos a sentir que tudo isto começa a ser posto em causa e não estamos a ser capazes de encontrar as soluções certas para fazer frente a esta realidade e, por isso, muitos tentam encontrar a solução nas promessas nos novos projetos políticos que apareceram em todo este Mundo ocidental.

Eu não creio que extremar as posições seja a solução para melhorar.

Pelo contrário, acredito que é na procura da união, da concórdia, do respeito entre todos, que poderemos voltar a tomar o caminho que perdemos.

Não é fácil pedir a quem está cómodo que se disponha a se sacrificar pelo bem de todos, e sei que precisamos de voltar a confiar uns nos outros para que possamos reiniciar esta caminhada, mas vejo que é a única via que nos permitirá voltar a crescer em comunidade.

Divididos, não avançaremos um metro e juntos construiremos um caminho.