Menos conhecido em Portugal do que o sismo de 1755 é o sismo de 1906 em São Francisco, na Califórnia. Um movimento na falha de San Andreas causou um sismo que destruiu 80% da cidade, matou cerca de 3 mil pessoas e deixou metade da população de 400 mil residentes desalojada. Já o terramoto de 1755, em Lisboa, matou entre 10 a 30 mil pessoas e destruiu o que é hoje a baixa pombalina e que então era quase toda a cidade de Lisboa.

As autoridades da Califórnia preparam-se há muito para um novo sismo, que é um acontecimento certo. A única incerteza reside no quando. O California Building Code obriga a que todos os edifícios novos cumpram regras estritas de proteção contra atividade sísmica. Edifícios maiores incorporam sistemas de isolamento da base, que melhoram o comportamento do edifício e evitam a derrocada. A preocupação maior é que os edifícios não apenas resistam, mas continuem operacionais após o sismo.

Em paralelo, foram desenvolvidos planos de emergência e de resposta. Existe um concílio permanente responsável por assegurar que infraestruturas críticas, como hospitais, águas, energia, telecomunicações e transporte, se mantêm operacionais no cenário pós-sismo de assistência à população. Também foi concebido um plano, a iniciativa SF72, que ajuda os residentes a prepararem-se para catástrofes, explicando como se criam planos de emergência, se constroem disaster kits e se deve proceder.

Mais. A cidade realiza com frequência simulacros, como o anual — sim, um evento anual — ShakeOut para educar a população para a ocorrência de um sismo, e que envolve escolas, empresas e agências governamentais (um dos autores deste artigo experienciou este simulacro quando lá viveu). Existe também um programa de formação básica a cidadãos sobre como fazer buscas e socorro, supressão de fogo, triagem médica, entre outros, pois são os locais sempre os primeiros a responder após um evento catastrófico.

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E nós, em Portugal? De acordo com o Governo e o Presidente da República, parece que correu tudo muito bem com o sismo que teve lugar no dia 26 de Agosto em Sines. A Proteção Civil respondeu a tempo (não se percebe bem ao que respondeu), não houve feridos nem danos consideráveis. O Presidente da Câmara de Lisboa afiança que a cidade se está a preparar há dois anos e que até tem duas sirenes para dar o aviso.

Esta tentativa de serenamento é compreensível no curto-prazo, mas irresponsável no médio-prazo, porque o problema continua. Ocorre que a magnitude deste sismo recente foi de 5.3 na escala de Ritcher, substancialmente menor (a escala não é linear) do que os 8 do sismo de 1755. Ocorre também que é uma questão de tempo até surgir um outro sismo de magnitude superior que, esse sim, poderá ser uma catástrofe.

O país não está preparado e sobretudo a área metropolitana de Lisboa não está preparada para reagir a um sismo de elevada magnitude. Um exemplo: de todos os hospitais sitos na zona de Lisboa, apenas o hospital da Luz tem isolamento de base para prevenir a sua derrocada. Se é expectável que hospitais que estão em edifícios centenários, como é o caso de Hospital S. José, inaugurado em 1501, não tenham protecção antissísmica, menos compreensível é que o projecto do novo hospital oriental de Lisboa não tenha isolamento de base.

A vulnerabilidade sísmica do parque edificado português é, portanto, um problema real que não pode continuar a ser ignorado. A extraordinária capacidade de desenrasque dos portugueses de pouco servirá. Tem havido avanços significativos na legislação aplicável à reabilitação de edifícios no que diz respeito à segurança sísmica, mas há que começar a ser consequente em termos de intervenções de reforço, sob pena de tudo ficar como está. Há assim que subdividir o problema, desde logo em edifícios públicos e privados, e o Estado deve dar o exemplo na requalificação da sua infraestrutura e definir prioridades de atuação.

Compete a nós, decisores políticos, mas também a toda a sociedade civil, sobretudo da zona de Lisboa e Vale do Tejo, pressionar para que haja uma aposta séria na prevenção sísmica. Se mais não for porque poderão ser os nossos filhos ou os nossos netos presos nos escombros quando uma catástrofe ocorrer. A catástrofe não podemos evitar, mas tudo devemos fazer para minimizar os danos dessa catástrofe.