Sim, Israel está a bombardear alvos terroristas em Gaza e a atingir também alvos civis, que o Hamas usa como escudos humanos. Cada vida inocente que se perde é uma tragédia.

Mas convém lembrar que todos os dias o Hamas continua a disparar centenas de rockets sobre as cidades israelitas, que só não matam milhares de israelitas inocentes porque Israel tem sistemas de defesa híper-sofisticados e eficientes.

Deve exigir-se, como muitos fazem, que Israel aceite continuar a ser bombardeada todos os dias, de braços cruzados, sem nada fazer, sem ripostar, sem se tentar defender?

Deve ignorar-se que Israel foi invadida, que mais de mil israelitas inocentes foram barbaramente chacinados, violados, desmembrados, imolados, por uma força terrorista?

Deve deixar de se pensar que mais de 200 israelitas inocentes foram raptados e continuam mantidos como reféns e escudos humanos em Gaza?

Infelizmente, a situação não vai melhorar, vai piorar ainda mais.

A entrada de Israel em Gaza e a eventual supressão dos terroristas não vai resolver o problema, não conseguirá extinguir o mal.

Cada criança de Gaza que vemos hoje nas televisões, ensanguentada ou coberta de pó, em fuga ou apenas a testemunhar a destruição e a morte que a rodeiam, é uma vítima.

Vítima também por se transformar num ser humano educado no ódio, que cresce no ódio, que testemunha da mais terrível maneira o ódio, e que vai odiar a vida toda. Cada uma destas crianças é um potencial terrorista quando crescer, e o problema nunca vai acabar.

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E é bom não esquecer que do outro lado, do lado israelita, isso também acontece. Todos os que morreram tinham familiares, amigos, gente que os amava. Também eles são capazes de odiar.

A “cabeça da serpente” não é o Hamas, nem o Hezbollah, nem a Autoridade Palestiniana, muito menos o povo árabe da Palestina.

No Médio Oriente, é o Irão a semente do mal. Uma teocracia repressiva, machista, que viola sem contemplações os mais básicos direitos humanos e esmaga o povo iraniano sob as solas da tirania religiosa.

O Irão também encarna o mal nas tentativas de desenvolvimento de armas nucleares, cujo sucesso levaria ao fim do mundo.

Na ajuda e armamento que fornece à Rússia (e vice-versa), para que esta possa continuar a sua tenebrosa destruição da Ucrânia. Um Eixo do Mal.

No financiamento e doutrinamento de várias células radicalizadas e potencialmente terroristas um pouco por todo o mundo, e em especial – no que nos diz respeito – na Europa.

O Irão é um regime da Idade Média, das trevas, que oprime o seu próprio povo sob o manto da mais absurda fé, e que espalha o mal pelo mundo.

O Irão é a cabeça da serpente, que tem de ser esmagada.

Judeus e árabes da Palestina foram enganados pelos ingleses, que prometeram a ambos um país, uma nação, no mesmo espaço, no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Ambos partiram de uma posição de acordo e de concórdia para se tornarem os mais ferozes inimigos.

Os países árabes vizinhos estão a borrifar-se para os palestinianos. As comunidades palestinianas de refugiados que vivem há décadas na Síria, na Jordânia ou no Líbano, ainda hoje não têm a maioria dos direitos de cidadania reconhecidos nesses países. Passadas quatro décadas, ou mais, de viverem nesses países, os palestinianos e seus descendentes já nascidos nos países de acolhimento, continuam a ser refugiados, párias. Se, como muitos acusam, há apartheid em Israel (algo dificilmente comprovável), ele é em muito maior escala nos países árabes que receberam refugiados palestinianos.

Mais. Qatar, Arábia Saudita, Emiratos… todos têm necessidades extraordinárias de mão de obra e de novas populações. Mas estes países preferem ir buscar semiescravos à Ásia, mais do que dar oportunidades de uma vida melhor, como homens livres, a muitos árabes da Palestina que anseiam por viver dignamente e em paz.

É muito fácil para os europeus entediados apontarem o dedo ao “grande satã” americano, à Europa, aos países livres e democráticos. Desde logo, porque têm essa liberdade de expressão e de manifestação que lhes seria negada na maioria dos países árabes.

Mas seria talvez mais útil tentar perceber porque é que a ideia pan-árabe, que esteve na génese e na base da ideia de uma nação Palestina árabe que, na realidade, nunca exisitiu de facto, nem de Direito, não serve também para defender e acolher os árabes da Palestina. Porque é que são os árabes os primeiros a rejeitar os palestinianos?

Sei quase nada sobre o conflito Israel-Palestina. Sei estas ideias desgarradas, talvez um pouco mais, podendo recuar ainda mais na História.

Sei que as democracias liberais e laicas ocidentais ainda são a luz que pode incidir sobre tantas trevas.

E sei que todos, árabes da Palestina, israelitas, árabes em geral, nós, ocidentais, todos, todos, todos, como diria o Papa Francisco, merecemos mais.

Mais paz, mais liberdade, mais razão, mais compaixão, mais amor ao próximo.

Não tenho solução para nada. Não sei nada. Só isto.