Turandot foi a última ópera de Giacomo Puccini, sendo composta por três actos.

Resumidamente a peça retrata a história de uma Princesa chamada Turandot, filha de um imperador chinês. Turandot odeia os homens, promete que jamais se entregará a um deles. No entanto, o seu pai, exige que ela se case, não só por respeito às tradições, mas também por razões dinásticas. Para cumprir com os desejos do pai, Turandot, impõe uma condição. Só se casará com um pretendente que consiga resolver três enigmas. Paralelamente, o poder político discute o destino da China, e conclui que desde que Turandot começou a reinar com maldade, ninguém mais tem paz no Império. Facto que poderia tirar motivação a eventuais pretendentes da Princesa. No entanto, a incrível beleza da Princesa, proporcional à sua crueldade e frieza, leva a que um Príncipe decida arriscar a resolução dos três enigmas.

Apesar das diversas tentativas para o demover, aparece um Príncipe Desconhecido, que com a sua obstinação e determinação deixa todos estupefactos. Turandot com desdém lança os desafios, sem antes deixar claro que os enigmas são três, a morte é uma.

“Qual é o fantasma que nasce todas as noites, apenas para morrer quando chega a manhã?” ao que o Príncipe responde: “É a esperança!” Os sábios validam a resposta, sendo que Turandot, em choque, não se deixa abater, e diz cheia de escárnio: “Sim! A esperança que ilude sempre! “

“O que é vermelho e quente como a chama, mas não é chama?” “O sangue!” volta a responder o príncipe. Os sábios voltam a validar a segunda resposta. Turandot parece ter perdido um pouco a compostura, mas acredita ainda que nem tudo está perdido.

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“Qual é o gelo que te faz pegar fogo?” “Turandot!” é a pronta (e correcta) resposta do Príncipe. Turandot entra em pânico e pede ajuda ao pai, que diz nada poder fazer.

Nesta altura, o Príncipe Desconhecido afirma não querer ter Turandot contra a sua vontade, sendo que lhe propõe então um único enigma, e que se ela responder acertadamente, ele abdicará dos seus direitos, e entregará a sua cabeça ao carrasco: “Tens até ao nascer do dia para descobrir o meu nome.”

Numa ditadura, onde ela tem poderes ilimitados, Turandot ordena que ninguém durma nessa noite, pelo que impõe que todos devem ajudar a descobrir o nome do Príncipe Desconhecido. É então que o príncipe canta a famosa ária Nessun Dorma (Que Ninguém Durma).

Turandot não descobre o nome e a manhã chega. O Príncipe sente na princesa uma dualidade de sentimentos, ela que tanto o detesta, como o ama ao mesmo tempo. Detesta-o porque ele a enfrentou com a certeza da vitória, e ama-o por isso também. Para conseguir ter um amor livre, livre de promessas envolvendo enigmas, ele revela-lhe o seu nome: “Calaf!” Finalmente, ela tinha a resposta e estaria livre.  De imediato os guardas chegam, Turandot restaura o seu orgulho, mas na hora de revelar qual o nome do Príncipe, ela simplesmente responde que o nome dele é: “Amor”.

A ópera Turandot termina com a multidão cantando: “Amor! | Ó sol! Vida! Eternidade! |Luz do mundo é amor! | Ri e canta no sol | A nossa infinita felicidade! |Glória a ti! Glória a ti! Glória!”

Na ópera de Puccini, Turandot propõe três enigmas mortais, e apenas aquele que os resolver poderá conquistar seu coração e o trono. Esta narrativa, embora distante, espelha os dias de hoje com uma precisão quase lírica. 

Nas famílias, como na ópera, muitas vezes são poucos os momentos que definem o curso de uma vida inteira. Um gesto, uma palavra, um sacrifício, uma decisão – como a da Princesa Turandot, que com a sua decisão, de seguir o que sente, abdicando do que tem, desbloqueia a compaixão e o amor que não sabia ter, contribuindo para uma felicidade que assenta na paz que todo o coração procura, mesmo perante a incerteza do futuro que se segue. No final, o amor é sempre a escolha essencial para a felicidade, mesmo que isso signifique deixar para trás o convencional e até mesmo a história vivida até então, em busca de um novo começo, rumo a uma paz que nunca se teve.

Nas empresas, a analogia manifesta-se na forma como decisões críticas, muitas vezes tomadas por uma minoria influente, por vezes determinam o destino de toda uma organização. Assim como Calaf resolve os enigmas e conquista Turandot e o império, nas empresas, o foco das administrações, das direções e das gerências quando assente primeiro nas pessoas e na forma como o caminho é feito, contribui sempre para resultados duradouros e consistentes dessas mesmas empresas. Empresas com princípios, foco nas pessoas e no seu compromisso com a sociedade são as empresas que fazem a diferença.

Na política, a ópera também reflete a governação. Assim como a resolução dos enigmas pode levar a uma nova era para o reino de Turandot, políticas eficazes e bem direcionadas podem resultar em grandes benefícios para a população. A transformação de Turandot de uma líder fria para uma governante compassiva é o que todos os cidadãos esperam dos seus líderes: uma mudança do poder pelo poder, para colocar o poder ao serviço do povo.

Em Turandot, a ária Nessun Dorma é um hino à liberdade e ao amor, que se transforma numa espécie de promessa à vida. 

No governo, é como se os portugueses estivessem a cantar Nessun Dorma, exigindo um orçamento em detrimento de uma instabilidade que possa ser originada por novas eleições, cobrando ao PSD e a Luís Montenegro um acordo que responda a todas as exigências de um Partido Socialista. Um Partido Socialista que perde cada vez mais espaço para um Primeiro Ministro, preocupado em governar, mas que sabe ter um governo que está dependente de um parlamento focado em manobras de puro tacticismo. Assim como na ópera Turandot, a política é uma arena onde os desafios mais complexos escondem as oportunidades mais significativas para a mudança e crescimento.

No caso das empresas, é como o grupo Vanguard, que decidiu investir na Comporta e obteve um sucesso incrível, não só no campo de golfe, mas sobretudo na forma como consegue promover Portugal. Ou como a Indústria da Defesa pode potenciar Portugal em termos tecnológicos retendo bons quadros alavancando a nossa economia.

E na vida familiar, é como o conceito de família que se deve centrar na simplicidade das emoções, em detrimento da imagem perfeita que famílias por vezes pouco felizes projectam, pois por muito que não lhes falta nada, nunca têm tudo.

Todos eles têm um mistério: o mistério da liberdade, o mistério do amor e o mistério da mudança. E é nesse ponto que surgem os três mistérios: quem é que decide? Quem é que ama? E quem é que muda? É um jogo de ter e ser. Ter a autoridade, ter o amor e ter a mudança. Ser livre, ser amado e ser feliz. É apenas quando os mistérios são resolvidos, é que podemos dizer que Nessun Dorma é mais do que uma ária, é uma vida plena.