Aqui, no Porto faz quase sempre frio, chove mais e o vento desfaz-nos os cabelos a cada assobio. É por isso que há sempre um casaco de malha que nos afaga os ombros das orvalhadas de Junho. Aqui, o chão é de granito, duro e resistente. Os nossos caminhos são torpes, íngremes e mais difíceis. Mas também todos sabem que no Norte a festa é rija, pomposa e engalanada. Que falamos alto, gargalhamos em coro, que há sempre uma malga de verde para partilhar e um rosário de palavrões aliviados por um coração bom.

E esta cidade empenhada tem um clube à sua dimensão. Do Porto para o mundo.  A cidade e o clube não partilham apenas o nome, mas também os traços de uma personalidade rebelde, como uma herança de nobreza. O F.C. Porto é e será um dos maiores símbolos da afirmação nortenha, da sua raça, do ir longe sem palmadinhas nas costas.  As vitórias são os dias mais felizes da vida de muitos, uma força extra para ir trabalhar a cada manhã de inverno, as lágrimas que os mais implacáveis não sonharam deixar cair. O F.C. Porto está lá no alto como os Clérigos, vaidoso como a Ponte D. Luís, é uma foz burguesa ou uma ribeira bairrista, é de Ramalde e da Areosa, num ápice vai molhar os pés a Matosinhos ou subir a serra de Valongo. É do Norte, vem de dentro e está acima de qualquer rivalidade.

O F.C do Porto é uma energia que se comunga a cada jogo como uma fé, onde os crentes vibram, cegam sem esperar por um milagre e ficam sentidos quando lhes ferem o orgulho, pois só não sente quem não é filho de boa gente. Todos sabemos que teimamos numa certa revolta que não começa nem acaba nas quatros linhas. Uma impaciência antiga que existe de verdade e que revertemos na forma clara e obstinada como encaramos os nossos objetivos.

No Porto não se vive nem à grande, nem à francesa – livramo-nos deles com engenho e com a fome disfarçada por tripas –, aqui, os livres são diretos e as faltas discutem-se em casa. A roda com que nos unimos é a muralha que nos defende, onde só entram os que nos respeitam. Voamos sobranceiros sobre os que nos falharam, perdoamos e até esquecemos os que não nos dão a mão.

Se o F.C. Porto foi um justo campeão? Não sei. Os estudiosos terão uma opinião mais consistente e fundamentada. A minha está profundamente toldada pela alegria de adepta. Para já, que subamos virtualmente os Aliados, façamos ouvir os nossos hinos, que o céu seja o limite, azul e branco, em festejos comedidos, mas com os olhos brilhantes de esperança. Que não se negue este momento aos portistas, aos portuenses, aos nortenhos. Estes, cuja resposta a quem os tenta encolher é sempre igual, é sempre a mesma e histórica: resistir, trabalhar, exceder-se.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR