Como colaborador do Observador já tinha escrito umas palavras sobre as soluções Não Duais para o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) , isto é, uma solução sem outra complementar, e defendo que antes do NAL, o Aeroporto Humberto Delgado ainda pode servir a nossa competitividade turística e ser melhorado com algumas obras. Somos um país com recursos financeiros limitados e parece-me que quase não conseguimos acudir nem às necessidades básicas da população. As recentes notícias sobre as contas públicas não tão certas do Estado Português são prova disso. Por isso, como as novelas de várias temporadas sem que o final se concretize com uma conclusão lógica, ou um Big Brother trágico a que somos forçados a assistir com as mãos nos bolsos para que não nos tirem mais dinheiro, já enfada esta insistência no aeroporto de “Santarém” com o patrocínio do Grupo Magellan 500, que também começa a ser ofensiva por argumentar que é uma solução amiga do contribuinte por ser “de custo zero para o contribuinte” afirmando que o investimento no NAL em Santarém vai ser suportado por aquele grupo. Não conheço nenhum grupo financeiro que não corra atrás do lucro e da distribuição de dividendos pelos seus acionistas. Ou sou muito ignorante na atuação da alta finança ou convinha que o Grupo Magellan 500 esclarecesse se considera que os contribuintes portugueses são “ingénuos”. Ainda por cima é uma solução fracamente fundamentada, já inicialmente reprovada pela CTI por não cumprir os requisitos técnicos e é bastante contra a nossa competitividade turística. O frenesim do Consórcio Magellan 500 é notável se considerarmos que refuta tudo e todos os que se opõem ao seu projeto e não se cansa de afirmar que a sua solução é a melhor – Desde já me ofereço (a título pro bono) como consultor do Grupo Magellan 500 para canalizar tanto esforço e tanta generosidade financeira do Grupo para vários projetos de melhoramento das condições de vida da população portuguesa -. Regressando ao tema do NAL, se abandonarmos os terrenos do aeroporto aos promotores imobiliários, como julgo que estes esperam, perdemos o AHD, catalisador do turismo numa região estratégica, ainda que fosse apenas como aeroporto de reserva, o que não corresponde à prática de muitas capitais europeias: apesar da construção de um novo aeroporto, o anterior mantém-se ativo e como reserva para o aeroporto principal. Já o ex-Presidente da TAP, Eng. Antonoaldo Neves veio pôr a nu o embuste que os técnicos portugueses tinham montado à volta da impossibilidade de expansão do Aeroporto Humberto Delgado (AHD) . Sobre a expansão do AHD convém também ler todas intervenções do Professor Luís Janeiro, e a Resolução do Conselho de Ministros n.º 201/2023, de 28 de dezembro. Por isso me parece de bom senso, olhar para quem já avançou e concretizou um novo aeroporto, como forma de adotarmos o que é bom e não cometermos erros que nos custam muito dinheiro que não temos, a adicionar a um novo aeroporto para o qual também não temos dinheiro e não será a vocação para o lucro do Grupo Magellan 500 que vestido de “pele de cordeiro” um dia não deixará de nos revelar a sua identidade de predador financeiro. Mas afinal quem é o Grupo Magellan 500? Das informações obtidas no Racius, o “Grupo” foi constituído em 6 de Agosto de 2020, denominado: Magellan 500 – Empreendimentos Aeronáuticos, Lda. Com um capital social de 5.000,00 € (!) – Vai ser este o dinheiro colocado à disposição do Estado para que o NAL seja “de custo zero para o contribuinte”? – dedicada à seguinte Atividade: Elaboração de estudos e gestão de projetos de infraestruturas aeronáuticas, ferroviárias e rodoviárias, de mobilidade e plataformas logísticas, assim como a prestação de serviços conexos, designadamente a elaboração de estudos e gestão de projetos de urbanização, de natureza comercial, hotelaria, restauração e turismo, de saúde e segurança, parques de estacionamento e, ainda, a prestação de todos os serviços de consultadoria visando a concretização e implantação dos referidos projetos. Seria interessante, para que aprendamos qualquer coisa, como tanta atividade se faz com zero trabalhadores no quadro. A sua sede fica na Maia e os seus acionistas são a Fairmont Pro (capital social de 5000,00 € e cujos sócios são Bruno Libreiro com uma quota de 500,00 €, e a Fairmont Portugal com uma quota de 4.500 €) com sede na Maia, por sinal na mesma rua que a Magellan 500, cuja atividade é Formação, investimentos e gestão de participações sociais ou outros investimentos. Assessoria, consultoria, administração, gestão e mediação de empresas e negócios. Prestação de serviços de marketing e publicidade. Estudos de mercado e sondagens de opinião, com uma quota de € 1.500,00 (30%) na Magellan 500 e a Sostratus (também com um capital social de 5000 €) com uma quota na Magellan 500 de € 3.500,00 (70%) cuja atividade é prestação de serviços de consultoria para os negócios, gestão, estratégia e engenharia, bem como de investimentos e participação em negócios, podendo, por deliberação dos sócios, adquirir participações em quaisquer sociedades, incluindo sociedades com objeto diferente do seu e sociedades reguladas por lei especial, agrupamentos complementares de empresas e agrupamentos europeus de interesse económico, bem como celebrar contratos de consórcio e associação em participação. Ou seja, temos um grupo de empresas todas vocacionadas para negócios, mas ninguém especializado em aeroportos. À falta de conseguirem vingar no seu projeto do aeroporto, talvez tenham dinheiro para abrir uma marisqueira em Matosinhos. A gerente da Magellan 500 é Maria Benilde da Silva Xavier de Andrade Brazão, por acaso também gerente da Sostratus juntamente com Carlos Alberto Monteiro de Andrade Brazão, desde a data de constituição da sociedade a 13 de Agosto de 2020. Não conheço esta senhora, mas deve ser uma reputada especialista e com vasta experiência em aeroportos. Do Relatório Financeiro Resumido de 2022 da Magellan 500, os seus indicadores são os seguintes: A empresa está classificada com uma rentabilidade financeira de 44% (no laranja) e uma rentabilidade económica de 22% (no vermelho). A sua Liquidez é de 29% (no vermelho) e o endividamento de 50%. No Relatório Financeiro Detalhado de 2022, a empresa tem resultados transitados = € -3.906,95€. Para melhor análise reproduz-se abaixo a atividade financeira da Magellan 500 de 2020 a 2022. Não tenho memória de um “grupo” financeiro, ainda por cima deste calibre, pedir para ser recebido no Parlamento para apresentar o seu projeto, sem que a solução de localização tenha sido previamente escolhida pelo Governo com fundamentação técnica e financeira. Mais grave ainda é que o Parlamento (deputados eleitos para representarem o povo português e o melhor interesse deste) conceda esse acesso e perca tempo com este tipo de empresas. Em minha opinião, a altura própria para esta apresentação é na fase de pedidos de esclarecimento em fase de concurso público, neste caso internacional. E duvido que a Magellan 500 tenha sequer dinheiro para comprar o Caderno de Encargos, quanto mais para apresentação das Garantias Bancárias que este tipo de projeto exige. Talvez o consiga através do Grupo Barraqueiro, mencionado como associado à Magellan 500 na página da PressReader. O Grupo Barraqueiro fará o que melhor entender quanto à sua estratégia comercial e financeira, por ser um privado. Não poderá fazer o que melhor entender no que toca ao dinheiro público. Tenho esperança que o Governo tenha uma resposta musculada e convide o “grupo” Magellan 500 a procurar “ingénuos” noutro lado (se tiverem capitais próprios para isso).