Existe uma curiosidade incessante sobre os inovadores como Steve Jobs ou Elon Musk. E se alguns consideram que é sorte, outros dizem que a sorte dá muito trabalho. Mas será que existe algum superpoder que tenham em comum?
Existem inúmeros livros e documentários sobre como nos podemos tornar mais eficientes e mais produtivos, como se o mais importante fosse seguir um conjunto de regras a que todos temos acesso. Os grandes inovadores constroem as suas próprias regras e os seus próprios mundos, mas qual é a característica que lhes permite chegar mais longe do que todos os outros?
A resiliência e força mental
Em grande parte dos casos existe um elo comum: a capacidade de estarem disponíveis para perseguir objetivos de muito longo prazo, com sucesso improvável, que impliquem desbravar novos limites de força mental. Contrariamente ao expectável, encontram em cada momento de adversidade uma nova fonte de força e motivação.
Eles estão disponíveis para o indefinido, para não saberem o que vem a seguir. E isso não é um obstáculo, é parte de criar o futuro. Abraçam o desconhecido e, apesar de tentarem antecipar o que acontece a seguir, percebem que o seu grande valor é conseguirem adaptar-se a qualquer novo ambiente fora da zona de conforto, mesmo depois de falharem.
Quinze anos e quatro tentativas depois
À quarta tentativa foi de vez. A SpaceX, a empresa de exploração espacial de Elon Musk conseguiu recuperar um foguetão que lançou em órbita, aterrando-o suavemente numa plataforma. Foram mais de 15 anos para se chegar a este resultado.
Em 2014, no programa ’60 Minutos’ da CBS, Elon Musk quando confrontado se depois dos três lançamentos de foguetões falhados e uma situação de quase falência das suas duas empresas alguma vez considerou desistir, respondeu: “Eu nunca desisto. Eu teria de estar morto ou completamente incapacitado para desistir.”
No caso de Elon Musk, se não tivesse tentado uma quarta vez, evitar o fracasso teria sido evitar o sucesso.
Evitar fracassos é evitar sucessos
O sucesso não é linear. E infelizmente, é rara a história de quem passa de sucesso em sucesso. Por detrás de cada sucesso, existem vários insucessos. No entanto, e apesar do próprio Elon Musk reconhecer que se dedica a projetos altamente arriscados e com pouca probabilidade de sucesso, ele defende que viver na incerteza entre ter um sucesso ou um fracasso é o único caminho para a inovação.
Este percurso de incerteza vale a pena, porque o resultado da inovação será suficientemente relevante para os riscos em causa. “Se algo é suficientemente importante devemos tentar, mesmo que o resultado mais provável seja o fracasso” – Elon Musk.
Mas será que isto quer dizer que o falhanço afeta de forma diferente os inovadores como Elon Musk? O falhanço afecta-nos sempre, não dá prazer, nem gratificação imediata, mas é a força interiorque construímos para saber continuar que determina chegarmos ao sucesso.
“O sucesso é passar de insucesso em insucesso sem perder o entusiasmo” – Winston Churchill
A chave para a força mental: a regra dos 40%
A regra dos 40% é simples: quando a nossa cabeça diz que não conseguimos, que estamos exaustos e não podemos ir mais longe e que vamos fracassar, ainda só fizemos apenas 40% do que precisamos de fazer para ter sucesso.
A regra dos 40% relembra que não importa o quão exaustos nos sentimos, que é sempre possível explorar uma fonte de energia inexplorada, e encontrar a motivação.
Esta é uma das regras dos seals americanos que Jesse Itzler, um empreendedor americano, passou a integrar na sua forma de pensar, depois de contratar um elemento das Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos para passar um mês consigo e com a sua família a ensinar-lhes como treinar a força mental.
De facto, esta teoria não implica que a nossa mente e o nosso corpo não têm limites; no entanto, permite-nos conhecer os nossos verdadeiros limites. Todos temos um tanque de reservas e todos conseguimos fazer muito mais do que pensamos tanto na nossa vida profissional como na nossa vida pessoal. Quando vamos às nossas reservas, quando puxamos por nós, encontramos novos limites.
Não seremos todos Elon Musk ou Steve Jobs, mas depende de nós aceitarmos o desafio de nos aproximarmos dos nossos verdadeiros limites.
Filipa Neto é empreendedora e co-fundadora da startup Chic by Choice. Estudou Economia na Católica Lisbon School of Business & Economics. Juntou-se aos Global Shapers Lisbon Hub em 2013.
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro do país, com base nas respetivas áreas de especialidade. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.