Fiasco. São as chamas lutas para televisão ver: hoje luta-se. Amanhã já ninguém se lembra.

Zero candidaturas. Nem uma, nem duas, nem três: zero! Foi este o número de adesões à imensamente apregoada linha de crédito para a limpeza de florestas. A história desta linha de crédito começa em Março de 2018, tempo de luta contra o então inimigo público número 1, a saber o eucalipto. O primeiro-ministro, o Presidente da República e vários membros do Governo puseram capacete na cabeça, arrancaram uns raminhos de eucalipto e declararam ufanos que estavam a limpar a floresta e a combater os incêndios. António Costa aproveitou um debate parlamentar para anunciar várias novidades para a floresta. Esta linha de crédito para a limpeza de florestas foi uma delas. O número de adesões que  registou um ano depois – zero – espelha o profundo desconhecimento  da presente classe política sobre esse país que existe para lá da faixa litoral. Em Março de 2019, quem reparou que foram zero as candidaturas à linha crédito? Certamente menos que aqueles que recordam o espalhafato mediático criado em torno da luta pela limpeza das florestas.

Mistificação. O legislador sonha-se libertador mas no caso das mulheres em Portugal a sua vida mudou e muda apesar das leis.

A falta de mão de obra nos anos 60 do século passado, as crescentes habilitações escolares das raparigas, o acesso a água canalizada, as redes de  esgotos e a electrificação do país que permitiu a vulgarização de electrodomésticos fizeram mais pela qualidade de vida das mulheres que muitas das leis que se tornou lugar comum incensar como libertadoras. Por muito chocante que tal seja para os ouvidos sensíveis de quem imagina que tudo se deve ao intervencionismo estatal, em matéria de vida das mulheres as máquinas de lavar roupa, os frigoríficos e os supermercados com os seus horários alargados foram mais importantes que os manifestos feministas. O legislador que sonha países criados à força de decretos-lei e os políticos que se vêem libertadores privilegiam o papel das leis. Ou seja o seu papel. A realidade essa não se compadece com esses egos exacerbados e os activismos que os sustentam. Foi assim no passado com a sua legislação repressiva para as mulheres e continua  perturbantemente a ser assim no presente do activismo igualitário: como entender, por exemplo, que os adolescentes de hoje – criados na narrativa dos direitos existentes e a existir – se entreguem a práticas como as relatadas por Laurinda Alves no texto Já te safaste hoje?

A luta do “vai ali ver se chove”. Esta luta varia de objecto ao longo do ano. Nesta época refere-se invariavelmente ao “mau tempo que impediu os tradicionais desfiles de Carnaval”.

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O único que há de tradicional neste caso é mesmo o “mau tempo” que não é mau tempo algum mas sim o tempo próprio da estação, a saber o Inverno. Já o resto – desfiles e samba incluídos – são opções para enregelar os corpos, queimar dinheiro e fazer de nós parvos. Experimente-se, por exemplo, fazer uma pesquisa no portal dos ajustes directos pelas palavras Carnaval ou samba e constata-se que são milhares e milhares de euros afectados ao que nos é apresentado como o esforço de uns foliões. Este ano foram cancelados os desfiles de Carnaval em Sesimbra, Ovar (com uns fantásticos 224 389 euros em contratos para  a organização do Carnaval), Estarreja e Funchal, Buarcos/Figueira da Foz. Para o ano o espectáculo do “mau tempo que impediu os tradicionais desfiles de Carnaval” tem regresso marcado. E assim continuará enquanto o contribuinte for ali ver se chove na hora de se pronunciar sobre estes dislates.

Patético. As lutas que entram em luta com as outras lutas para apurar qual luta é a verdadeira luta.

“Uma escola de Matosinhos fantasiou os alunos de “africanos” e as críticas não tardaram. Na sequência de um desfile de Carnaval em que alunos e adultos pintaram a cara de negro, o estabelecimento de ensino foi acusado de Blackface.  A escola alegou que pretendia “celebrar a diversidade cultural” e que também desfilaram alunos com fantasias da China e do Brasil.

Não deixa de ser patético que as acusações de racismos caiam cada vez mais entre aqueles que se achavam no terreno da luta contra o racismo. O melhor símbolo desta espécie de “luta dentro da luta para apurar quem representa a verdadeira luta contra o racismo” é aquela senhora ministra da Cultura e da Democracia do governo da Suécia, Amanda Lind de seu nome, que acabou a ser acusada de apropriação cultural por usar rastas (a apropriação cultural é assim uma espécie de racismo gourmet-intelectual). A acusação foi formulada por uma artista negra, Nisrit Ghebil, cuja obra por sinal se apropria da cultura europeia sem qualquer problema.

E assim chegámos a este patetismo em que não passa um dia em que não se descubra racismo numa camisola, num anúncio, nuns chinelos… com os acusados de racismo a fazerem penitenciais pedidos de desculpa enquanto os acusadores usufruem do que de melhor e mais interessante existe na cultura que acusam de racismo, apropriação cultural, colonialismo e outros ismos que lhes ocorram no momento.

Crime. As lutas que trazem água no bico ou mais precisamente o Marx do costume.

Alguém sabe explicar porque é que a morte de uma criança pelo pai é noticiada como um crime de violência doméstica enquanto a morte da uma criança pela mãe é apresentada como uma tragédia resultante de uma depressão? A enorme algazarra criada em torno da violência dita doméstica – circunscrita para os demagógicos efeitos à violência exercida por homens contra mulheres – mostra-nos como somos uma espécie de fáceis paus mandados em tempos de indignação. Não duvido que dentro de alguns anos muitos dos activistas da presente luta contra a violência doméstica serão os primeiro a mostrar-se indignados com os absurdos legislativos que agora defendem, como os tribunais especiais para a violência doméstica ou a doutrinação dos juízes. (Recorde-se o espanto e a surpresa dos socialistas com o recurso às escutas telefónicas no processo Casa Pia, escutas essas feitas ao abrigo de legislação aprovada por eles mesmos!)

O que agora se está a aprovar e a defender em matéria de agravamento de penas e de ausência de prova nos casos de violência doméstica a par das  campanhas fulanizadas contra os juízes vai um dia ser-nos atirado à cara. Basta esperar que um ministro ou filho de líder político… de preferência de esquerda sejam investigados e condenados segundo os procedimentos que agora se defendem.

PS. Depois de anos a ouvirmos as candidatas a misses a desejarem a paz no mundo, a Miss Portuguesa 2018,  Carla Rodrigues, perdeu o título porque  apoiou publicamente Juan Guaidó e  fez um apelo à entrada de ajuda humanitária na Venezuela. Quantas feministas se solidarizaram com Carla Rodrigues?