No final de um ano complexo, pautado por inúmeras adversidades, eis que o nosso Governo decidiu atribuir mais um subsídio, que na nossa infinita bondade acreditamos ser uma gota na miséria do País. Sim, Portugal perdeu qualidade de vida e de cidadania e o número de famílias vulneráveis calculado pelo algoritmo da Segurança Social é um claro indicador da falência do Estado Português, enquanto gestor e como alegado Estado Social.

Creio que estamos habituados a prestar contas, quer as entidades, quer os cidadãos que contribuem com os seus impostos e as inúmeras taxas e taxinhas adjacentes a qualquer conta básica. O que não estávamos habituados é à existência de tantos subsídios “extra” no mesmo ano e ao impacto destes nas contas do Estado.

O Tribunal de Contas no seu Parecer sobre a Conta Geral do Estado 2021 (PCGE2021_final.pdf (tcontas.pt)) emite notas, recomendações e analisa situações distintas, entre elas a principal preocupação dos cidadãos, que se traduz na falta de fiabilidade na Segurança Social para, por um lado, suportar a perda das receitas com políticas púbicas e por outro, a ausência de mecanismos de controlo, nomeadamente de pagamento indevido de pensões (e eventualmente outras prestações).

Voltemos ao Cabaz de Natal Socialista: são €240 que certamente fazem diferença na vida de algumas famílias. E a seguir? Passamos de um cabaz de €60 pagos em duas prestações para um de €240. Pelo meio todas as crianças e jovens até aos 24 anos receberam €50, independentemente dos rendimentos dos seus encarregados de educação. E a designada classe média recebeu €125. Estamos a transformar Portugal num Pais de abismos: os que recebem subsídios e os que pagam esses subsídios.

Sinto isto como um Cabaz de Natal Solidário. Em época de praticar o Bem, vamos ser solidários. Mas 2023 está à porta e não existem sinais da redução de impostos para as empresas, as novas tabelas de IRS são uma tragicomédia, a inflação galopante irá aumentar e €240 não mudam a realidade. Apenas se dissimula a realidade. Porque os portugueses vão continuar a sentir falta de fiabilidade nas políticas públicas e no imenso labirinto designado de Segurança Social. Os portugueses que recebem agora €240 daqui a 15 dias estão a pagar substancialmente mais em contas de gás, de electricidade, em gasolina e sobretudo em bens alimentares. As empresas estão a ser taxadas de forma a não se atrair investimento. As rendas sobem drasticamente. A taxa de juro tira o sono a quem ousou comprar uma casa. Mas é Natal, venha de lá o Cabaz Solidário porque durante uns tempos adormecemos a consciência colectiva.

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