Enquanto o Verão aquece em França, as eleições deste mês de Julho de 2024 envolveram mais drama do que um episódio de uma novela mexicana. Protagonistas principais? Antes de mais, o presidente Emmanuel Macron, que tudo arrisca para tentar controlar os extremos na esperança que o seu partido pseudo Liberal, Renaissance, triunfe (pseudo, sim, mas pelo menos centrista).

Seguidamente, Marine Le Pen, com o seu “boneco de cera” Jordan Bardella pela Rassemblement National e Jean-Luc Mélenchon de foice e martelo na mão, líder da La France Insoumise.

As artes obscuras da política avançam a pleno vapor, fazendo lembrar aquele filme antigo, de 1962, O Candidato da Manchúria.

Para quem não se lembra, O Candidato da Manchúria é um clássico onde um pobre soldado americano é capturado, sujeito a lavagem cerebral e se torna num peão para interesses políticos ocultos. Bem, na França de 2024, não temos lavagem cerebral literal, mas todos os candidatos tentaram fazer lavagens de imagem com estilo.

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Começando por Marine Le Pen, a protagonista da Rassemblement National que, desta vez pivoteada por Jordan Bardella, tenta reinventar-se mais uma vez. A eterna candidata, que canaliza o espírito do seu pai enquanto tenta parecer mais palatável para o eleitorado francês, adoptando um olhar fixo no nacionalismo e juntando uma pitada de xenofobia light (dependendo do dia).

Depois de anos de esforços para parecer mais mainstream, Le Pen está de volta, pronta para captar aqueles que têm saudades da velha política e do ainda mais velho nacionalismo francês. La grande heure! Dirão os saudosistas. Será Bardella o candidato da Manchúria moderno? Estará ele programado para repetir os mesmos discursos incendiários como um disco arranhado? Ah, a doce nostalgia!

Do outro lado do espectro, temos Jean-Luc Mélenchon, líder carismático da La France Insoumise, que promete lutar contra o establishment enquanto, sentado no seu trono de privilégio, balança os punhos no ar e exige a revolução dos cafés parisienses. Promete uma revolução esquerdista com um sabor francês inconfundível pois, afinal, sem violência, não serão verdadeiramente Franceses. Munido do seu estilo oratório a lembrar um cross-over entre Robespierre e um excêntrico professor de teatro, Mélenchon tenta convencer os eleitores de que é a única verdadeira esperança para o futuro de França. Das duas, uma, ou tenta doutrinar as massas ao estilo comissário soviético ou exagerou no café.

Por último, é claro, não nos podemos esquecer do atual presidente Francês, Emmanuel Macron, e do seu arriscado movimento com o Renaissance. Depois de cinco anos no Palácio do Eliseu, Macron tenta mostrar que pode ir além do centro e atrair eleitores de ambos os lados do espectro político. Arriscando a sua reputação mas planeando um futuro político para 2027, faz all in one e mete todas as fichas em cima da mesa, apostando na sua visão de um futuro progressista para a França. Será que ainda ressoa com os Franceses? Será ele o verdadeiro candidato da Manchúria, programado para mudar de opinião consoante a brisa política?

Enquanto isso, os eleitores assistem, de pipocas na mão e um olho no Twitter, tentando decifrar quem é o verdadeiro candidato da Manchúria destas eleições. Será que é aquele com um plano secreto para devolver a grandeza da França (certainemment!) ou aquele que promete redistribuir todo o queijo e vinho pelo povo? (oh!)

À medida que as urnas fecham e os resultados são anunciados, os eleitores assistem com um misto de fascínio e resignação. Enquanto o teatro político chega ao seu clímax, uma reflexão torna-se necessária: será que toda esta polarização e drama político servem apenas de alimento ao ego de alguns poucos, assim como no filme? Será que somos todos atores num palco político onde as cortinas fecham e abrem apenas para iludir?

No rescaldo destas eleições, só podemos esperar que estes candidatos mantenham as suas mentes intactas e seus discursos consistentes. Quando os candidatos se preparavam para mais discursos inflamados de vitória e de derrota, os eleitores franceses eram deixados com a promessa de mais quatro anos de incerteza e comédia política. Afinal, é sempre hora de nos  relembrarmos que, às vezes, a política é mais teatro do que realidade. Em todo o lado.

Enquanto isso, talvez seja hora de rever O Candidato da Manchúria para entender como a política realmente funciona, ou talvez só para recordar duas coisas: o talento de Angela Lansbury e que, na verdade, a única coisa que importa em política é discutir ideias ao centro, com racionalidade.