Falávamos dos elevados preços da eletricidade na Europa já antes do conflito Ucrânia-Rússia. Este é um tema abordado há mais de um ano, onde vimos a corrida ao carvão e ao gás numa Europa e num Mundo que sempre exprimiu o seu compromisso em atingir a neutralidade carbónica em 2050. Algo que, à data de hoje, nunca me pareceu tão distante.

Tínhamos (e temos) grandes desafios perante a sustentabilidade do planeta e a Rússia, o 4º maior emissor de gases com efeito de estufa do Mundo, que tinha a meta de reduzir as emissões em quase 80% até 2050 e eliminar o carvão como fonte de eletricidade, despoletou uma crise, não só militar, mas também energética. Além da óbvia instabilidade geopolítica e económica que provocou, colocou em causa a neutralidade carbónica e os compromissos das Nações Unidas sobre a redução de emissões de gases com efeito de estufa. Ora, um verdadeiro boicote a um futuro sustentável.

Continuo a defender que a energia limpa é um trunfo na outra grande guerra que enfrentamos contra as alterações climáticas, mas infelizmente o atual conflito levou, de forma inevitável, à procura de soluções energéticas imediatas para muitos países, aquando definiram sanções no setor da energia à Rússia. Os combustíveis fósseis foram a opção óbvia e imediata. Ok. Explicou-se o adiamento temporário. Mas, entretanto, passaram mais de 6 meses e agora é preciso abandonar respostas provisórias e voltar ao plano A. Aquele que tem um grande objetivo, que importa recordar: queremos criar condições para um planeta saudável, que impulsione a descarbonização.

Nesta narrativa geopolítica há, felizmente, algumas boas notícias para a sustentabilidade. Voltemos aos preços da energia. Com a guerra na Ucrânia, os custos de petróleo e gás aumentaram por todo o Mundo e, particularmente na Europa, já os preços das energias “verdes” permaneceram competitivos, segundo o relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA). As fontes primárias, o vento e o sol, continuam a custar o mesmo: zero. O estudo, divulgado em meados de julho deste ano, diz, inclusive, que as energias renováveis no ano passado tiveram custos inferiores às opções mais baratas de produção de carvão nos países do G20. É um bom sinal, até porque ainda não temos nesta equação os preços atuais do carvão e do gás devido à presente crise energética, que não sabemos até quando permanecerá. Quando estiverem na equação, aí veremos um diferencial ainda mais significativo porque estes preços extremamente elevados tornaram os combustíveis fósseis pouco apelativos financeiramente.

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Parece-me, por isso, que temos agora mais uma excelente motivação e oportunidade para voltarmos ao nosso plano A. Estes números comprovam não só que as renováveis são mais baratas, mas que também são o lembrete necessário para que as economias abracem as energias renováveis no presente para terem um futuro melhor. Deste modo, podem libertar-se da volatilidade de preços e evitar a dependência externa, caso exista um novo conflito internacional.

Até porque, se excluirmos as taxas e impostos, as renováveis serão sempre efetivamente mais baratas. Portanto, os ganhos das energias “verdes” traduzem-se sempre num negócio sustentado e bastante lucrativo para quem o implementa.

A energia verde não consegue ainda colmatar a totalidade da procura, mas sabemos que o preço da eletricidade desce quando esta é mais representativa e sobe porque não há fontes renováveis suficientemente representadas na matriz de produção de energia. No futuro, o mercado da oferta e da procura deverá ser inclusive adaptado ao que está disponível no momento. No caso das energias renováveis significa ajustes de acordo com a estação e a meteorologia, reequacionando preços VS oferta e disponibilidades. Um processo semelhante à sazonalidade da fruta, que é sempre mais barata na sua época porque há mais oferta e a sua produção fica mais económica e sustentável, pois implica por exemplo, um transporte mais reduzido (produtos locais) economizando combustível e/ou uma menor necessidade de conservação/refrigeração o que reduz a emissão de gases com efeito de estufa.

É expectável que as nações se recordem do que prometeram ao Planeta e que utilizem a conjuntura a seu favor, convertendo o problema energético mundial numa oportunidade para rumar às economias de baixo carbono.