Embora não pareça justo, os estudos confirmam que o contexto socioeconómico das famílias e as suas habilitações literárias ditam e/ou condicionam o sucesso escolar dos alunos. Por exemplo, se as mães possuírem uma licenciatura ou bacharelato, 71% dos alunos têm um percurso escolar de sucesso, mas essa percentagem já é consideravelmente menor (19%) nos casos em que as qualificações são ao nível do 4.º ano de escolaridade (DGEEC, 2016).

A interpretação destes dados acaba por ser relativamente simples. A falta de recursos e condições nos contextos familiares pode dificultar a aprendizagem ou motivação dos alunos, mas também é verdade que o apoio prestado pelos seus encarregados de educação e a forma como estes valorizam ou percecionam a escola tem uma grande influência. E se, por um lado, as primeiras limitações se vão colmatando através da Ação Social Escolar e outros apoios disponibilizados pela escola e comunidade, existem outras mais difíceis de ultrapassar e que dependerão sempre da relação que se estabelece entre a escola e a família. Embora a solução possa ser aparentemente simples, a criação de uma relação escola-família equilibrada é muito complexa. As escolas “queixam-se” muitas vezes da pouca presença, disponibilidade, participação e interesse dos pais, o que se agrava à medida que os alunos avançam no seu percurso escolar e se tornam mais autónomos, ou do seu excessivo controlo e intromissão quando os alunos são mais jovens. Do outro lado, temos pais que nem sempre percebem a informação que lhes é enviada (seja por falta de literacia ou barreira linguística), nem sempre se sentem ouvidos ou acham que só são contactados quando existem más notícias.

Sugiro que repensemos este tema tendo por base os 4 C’s da relação escola-família: comunicar, conhecer, colaborar e capacitar.

A comunicação tem que ser a base desta relação, pois só desta forma é que ambas as partes se irão conhecer, respeitar o espaço que cada um ocupa, confiar, cooperar e interagir. Por isso, uma boa prática será criar um protocolo de comunicação escola-família que: defina as informações a transmitir, privilegie uma comunicação positiva e simples, diversifique os canais a utilizar (considerando o perfil, disponibilidade e necessidades) e tenha o cuidado de encontrar assessores de comunicação ou ferramentas que facilitem a comunicação em diferentes línguas ou respeitando as diferenças culturais.

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Uma vez ultrapassado o constrangimento da comunicação, tornar-se-á mais fácil para os profissionais das escolas conhecer as famílias dos seus alunos e compreender as suas necessidades, o que pode ser conseguido através de reuniões individualizadas, em horários flexíveis ou da realização de assembleias onde todos possam ser ouvidos e partilhar as suas dúvidas e questões.

O terceiro ponto diz respeito à colaboração. Os profissionais das escolas e as famílias devem trabalhar conjuntamente com vista a contribuir para a educação e desenvolvimento dos seus educandos e, como tal, a realização de atividades conjuntas será fundamental para criar uma relação de confiança e cooperação. Existem inúmeras práticas de sucesso, como por exemplo a colaboração com as associações de pais, solicitar aos pais que venham à escola apresentar ou partilhar a sua cultura, uma tradição, profissão ou passatempo ou realizar uma atividade com os alunos; permitir aos pais que assistam a algumas aulas no dia de anos dos seus filhos; realizar festas, atividades de voluntariado, desportivas ou visitas de estudos em que toda a comunidade educativa participe.

Por último, a capacitação pode ser importante, de modo a colmatar as lacunas sentidas pelas famílias. Uma prática cada vez mais comum consiste em capacitar os pais em diferentes áreas que lhes permitam compreender melhor os seus educandos, os seus comportamentos e/ou a fase escolar em que se encontram. Por exemplo, a capacitação na área digital para que os pais dominem as ferramentas de comunicação utilizadas nas escolas ou sobre os riscos da internet e das redes sociais. Esta capacitação e apoio pode ainda ser individualizada e pensada apenas para os alunos em que existe um verdadeiro risco de insucesso escolar, podendo consistir num “contrato escola-família-aluno” em que se define um conjunto de apoios e medidas a serem cumpridas por todos, de modo a minimizar as dificuldades sentidas.

Em resumo, embora o contexto familiar possa aumentar o risco de insucesso escolar dos alunos, se existir uma verdadeira relação escola-família, assente numa comunicação eficaz e no envolvimento, capacitação e apoio às famílias, esta história poderá ser diferente.

Acima de tudo, importa que, sabendo o impacto que o contexto familiar tem, se encontrem estratégias de sinalização precoce, que permitam que efetivamente todos os alunos tenham as mesmas oportunidades de ascender no “elevador social” independentemente das suas origens. Assim, e se sabemos à partida que o risco de insucesso está em alguns alunos, nomeadamente aqueles que têm famílias com baixo índice socioeconómico ou baixa escolarização, deve agir-se e atuar em conformidade, tendo a capacidade de adaptar os meios e os recursos desde os primeiros anos de escolaridade.

Fundadora da EDthink

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.