A catastrófica epidemia de COVID-19 a que todos estamos expostos a nível global tem concitado da população um movimento forte não apenas de preocupação e adesão aos cuidados propostos, mas também de solidariedade para com os mais vulneráveis e com os profissionais de saúde.

A vitamina D merece séria consideração neste contexto.

A sua importância radica essencialmente em 4 pontos:

  1. A carência de vitamina D agrava o risco de infeção respiratória e a sua suplementação em pessoas carenciadas diminui, comprovadamente, esse risco.
  2. A carência de Vitamina D é altamente prevalente na população portuguesa.
  3. O convite ao isolamento social e a permanência em casa, especialmente num período de inverno/primavera, fará agravar a já esmagadora prevalência da carência de vitamina D da nossa população.
  4. A suplementação é barata e segura.

A vitamina D e o risco de infeções respiratórias

Entre as consequências nefastas de carência de vitamina D está o aumento do risco de infeções respiratórias. É forçoso reconhecer que não temos dados relativos especificamente ao COVID 19, mas será igualmente forçoso considerar provável que as implicações da Vitamina D sejam idênticas nesta condição em particular. Os fundamentos científicos para esta expectativa são muito vastos e sólidos, incluindo evidência relativa a outras estirpes de coronavírus. ([1],[2])

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Duas revisões sistemáticas recentes, com meta-análise ([3],5) de estudos científicos rigorosos, o nível mais alto de evidência científica, concluem que a suplementação de vitamina D é segura e eficaz na prevenção e infeções respiratórias. Citando diretamente as conclusões de Martineau e col (2019) em trabalho para o National Institute for Health Research (EUA)([4]): “A suplementação de Vitamina D mostrou-se segura e protegeu contra as infeções respiratórias agudas em geral. Os indivíduos com deficiência grave e aqueles que não receberam terapêutica em bolus tiveram benefícios significativos”.

A carência de Vitamina D em Portugal

Num trabalho que publicámos recentemente ([5])- Prevalence of Vitamin D deficiency and its predictors in the Portuguese population: a nationwide population-based study-, reportamos os resultados de um estudo sobre o estado de vitamina D na população adulta a nível nacional. Nele demonstramos que mais de 2/3 da população portuguesa tem níveis insuficientes de vitamina D.

Mais de 21% de todas as pessoas estudadas tinham níveis de vitamina D inferiores a 10 nanogramas por mililitro, indicando carência grave, associada a aumento do risco de infeções, entre várias outras doenças. Esta carência é especialmente marcada nos meses de Inverno e Primavera, bem como entre os idosos os fumadores e as mulheres. O problema é um pouco mais acentuado nos Açores, Região de Lisboa e Vale do Tejo, centro e norte do país do que no Algarve, Alentejo e Madeira.

Estes resultados questionam medidas oficiais recentes, apoiadas por campanhas de (des)informação, sugerindo que a carência de vitamina D no nosso país é um falso problema e que estamos a usar quantidades excessivas desta vitamina. A verdade, contudo, como fica demonstrado por este e muitos outros estudos nacionais, é que a carência de vitamina D é altamente prevalente na nossa população e que se impõe uma discussão aberta e séria sobre a suas implicações e sobre as estratégias para corrigir este estado de coisas.

A carência de vitamina D e o recolhimento domiciliário

A carência de Vitamina D em Portugal, já de si dramática, tenderá a ser fortemente agravada pelo recolhimento domiciliário a que a população está a ser aconselhada e, sensatamente, a aderir. Naturalmente, a carência de vitamina D que é espontaneamente mais acentuada no inverno e primavera será fortemente agravada enquanto as pessoas estiverem recolhidas em casa, e muito especialmente entre os idosos – vítimas principais do COVID-19.

A incidência de luz solar suficientemente forte sobre pele não protegida representa a fonte fundamental de vitamina D, não sendo substituível por fontes alimentares correntes. Na verdade, a alimentação é praticamente irrelevante para a Vitamina D, ao contrário do que sucede com todas as outras vitaminas e nutrientes essenciais. A única solução, na falta de sol, reside em promover o uso de suplementos de Vitamina D em dose suficiente – da ordem das 2000U/dia de colecalciferol ou equivalente.

Em Itália,([6]) peritos em geriatria confrontados com a epidemia avassaladora, lançaram um apelo a todos os médicos envolvidos nos cuidados de infetados graves para procederam à administração (endovenosa!) de Vitamina D ativa (Calcitriol), mesmo sabendo que esta  forma tem riscos bastante maiores do que as formas inativas que se utilizam correntemente.

A Vitamina D é acessível e muito segura

A Vitamina D (Colecalciferol ou Calcifediol) é dotada de uma extraordinária margem de segurança: são necessárias doses massivamente acima do recomendado para induzir risco de intoxicação, sendo mesmo esta de baixo risco para a saúde.

É certo que não dispomos ainda de estudos especificamente dedicados ao COVID 19, mas a probabilidade de que a Vitamina D possa ser útil, neste contexto é muito elevada!

Este facto, juntamente com segurança e o baixo preço a que pode ser adquirida parecem justificar que se use a esperança de benefício em favor dos nossos doentes, suplementando-os. Isto enquanto esperamos os resultados de ensaios clínicos já em curso. ([7])

Mais do que nunca, é altura de promover a suplementação de Vitamina D, muito especialmente entre os idosos e ainda mais naqueles que estão institucionalizados!

[1] Grant, W.B. e col. Vitamin D Supplementation Could Prevent and Treat Influenza, Coronavirus, and Pneumonia Infections. Preprints 2020, 2020030235 (doi: 10.20944/preprints202003.0235.v1).
[2] Zhang L and Liu Y. Potential interventions for novel coronavírus in China: A systematic review. J Medical Virology 2020;92:479 (DOI 10.102/jmv.25707)
[3] Martineau AR e col. Vitamin D supplementation to prevent acute respiratory tract infections: systematic review and meta-analysis of individual participant data. BMJ 2017;356:I6583 (http://dx.doi.org/10.1136/bmj.i6583)
[4] Martineau AR e col. Vitamin D supplementation to prevent acute respiratory infections: individual participant data meta-analysis. Heath Technol Assess 2019;23(2) (DOI 10.3310/hta23020)
[5] Duarte C e col. Prevalence of Vitamin D deficiency and its predictors in the Portuguese population: a nationwide population-based study. Archives of Osteoporosis 2020;15:36 (https://doi.org/10.1007/s11657-020-0695-x)
[6] https://www.unitonews.it/index.php/it/news_detail/la-carenza-di-vitamina-d-un-fattore-di-rischio-linfezione-da-coronavirus
[7] http://www.chictr.org.cn/historyversionpuben.aspx?regno=ChiCTR2000029732