Uma das bandeiras do Primeiro-Ministro António Costa é resultado de governar no período das qualificações, tendo criado o lema da “geração mais qualificada de sempre”. Na atualidade, a aquisição de um diploma de ensino superior já não é sinónimo de emprego, mas antes requisito base para a maioria das vagas existentes para o desempenho profissional em muitas funções técnicas e de relevo. A geração mais qualificada de sempre esbarra nas escassas oportunidades no mercado de trabalho, existindo, assim, um subaproveitamento evidente da mão-de-obra qualificada no nosso país, que acaba por procurar outras soluções – seja emprego fora da área de formação ou emigração, por exemplo.

A debilidade estratégica inerente ao reforço das qualificações de ensino superior da população evidencia-se não só na falta de enquadramento devido no mundo de trabalho, mas também nas fracas condições existentes para suportar um ensino superior acessível, universal e justo. A Associação Académica de Coimbra apresentou recentemente um estudo cujo propósito fora averiguar os reais gastos suportados pelos estudantes e suas famílias além do valor da propina na Universidade de Coimbra. Se já existia consciência face aos custos de vida e à carga que a propina acrescenta na vida dos estudantes e seu agregado familiar, com o estudo ExtraPropina, conseguimos retirar conclusões preocupantes.

Com a participação de 1328 estudantes da Universidade de Coimbra, percebemos que, entre alojamento, alimentação, deslocações dentro de Coimbra e entre residência primária e Coimbra, materiais escolares e outros encargos, o valor médio de despesa mensal extrapropina é de 518,62€. São quase 520€ além da propina, que na licenciatura representa quase 70€ mensais no caso de estudantes nacionais – sendo no caso dos estudantes internacionais 7000€ anuais – e nos mestrados e doutoramentos é, em grande parte, bastante superior. Outra conclusão alarmante será que 40% dos inquiridos admitem já ter considerado abandonar o ensino superior em função destes pesados encargos. Esta é a realidade de Coimbra, que com mais ou menos nuances, é semelhante à das várias academias do país.

Estudar no Ensino Superior é algo que, aos dias de hoje, acarreta um custo muito acentuado, a par das pressões existentes para o término do curso e ingresso no mundo do trabalho, o que fragiliza ainda mais aqueles cuja situação socioeconómica é mais desfavorecida. O sistema meritocrático é colocado desta forma em causa, sendo esta conjuntura propícia à perpetuação de desigualdades.

Medidas concretas, políticas sociais adequadas à atualidade e ao contexto são urgentes, tais como o descongelamento do valor da propina e respetiva descida e o aumento e melhoria da oferta ao nível da ação social. Mas é também pedido mais aos nossos governantes e instituições: é pedido que se cumpra com o ideal de ensino universal e acessível a todos. Ou nada será feito e será este o custo da geração mais qualificada de sempre?

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