A Inteligência Artificial (IA) é hoje um tema e um assunto central e nuclear. Ele encontra-se no centro da agenda política, industrial e social dos tempos hodiernos. Numa óptica mais pessoal, considero a Inteligência Artificial como aquela que dá início à terceira revolução industrial. É algo tão vital e incontornável que, das duas uma: ou eu me adapto e trabalho para a tornar mais humanizada ou ela implementar-se-á, quer queira ou não, nas dinâmicas mais simples e ordinárias da nossa vida quotidiana. Esta é uma realidade incontornável e um processo irreversível.

O Papa Francisco, no seu mais recente discurso no G7, em Itália (2024), em que ressalvou a importância de que a Inteligência Artificial permaneça um instrumento nas mãos do homem. Do contrário, poderia reforçar o paradigma tecnocrático e a cultura do descarte, delegando às máquinas decisões essenciais para a vida dos seres humanos. Mais, encorajou um uso ético da IA (Inteligência Artificial) e convidou a política a adoptar acções concretas para governar o processo tecnológico em direcção à fraternidade universal e à paz.

Já o famoso físico Stephen Hawking alertava para os riscos da IA. Segundo ele, a IA poderá acabar com a raça humana. “É isso que queremos?”, perguntou o Pontífice, que prosseguiu com outra questão: “a Inteligência Artificial serve para satisfazer as necessidades da humanidade, melhorar o bem-estar e o desenvolvimento integral das pessoas ou para enriquecer e aumentar o já elevado poder dos poucos gigantes tecnológicos não obstante os perigos para a humanidade? É esta a pergunta basilar”.

Nesse sentido, o Papa Francisco recebeu, na audiência de dia 22 de junho de 2024, os participantes da Conferência anual Internacional da Fundação “Centesimus Annus Pro Pontifice”. O tema em debate foi “A Inteligência Artificial e o paradigma tecnocrático: como promover o bem-estar da humanidade, o cuidado com a criação e um mundo de paz”. O Papa Francisco propôs nesta audiência alguns pontos para a reflexão, a saber: “a necessidade de aprofundar o tema da responsabilidade das decisões tomadas usando a IA; a regulamentação; as mudanças no sistema educativo, profissional e de segurança; e, a quantidade de energia que o uso dessa tecnologia requer, já que a humanidade está a enfrentar uma delicada transição energética”.

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Por isso, eis o alerta do Papa Francisco: “não devemos perder a ocasião de pensar e agir num modo novo com a mente, o coração e as mãos”. Mais, o Papa Francisco concluiu com uma (enorme) provocação: “estamos certos de querer continuar a chamar ‘inteligência’ o que inteligência não é? É uma provocação. Vamos pensar nisso e vamos nos questionar se o uso impróprio desta palavra assim tão importante, tão humana, não seja já um cedimento ao poder tecnocrático”.

O Papa Francisco mostra-se consciente dos riscos da inteligência artificial e pede tratado internacional regulador. A defesa desta regulamentação de instrumentos poderá evitar o que ele alerta: “em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos. Os algoritmos, como tudo o mais que sai da mente e das mãos do homem, não são neutros” (Lusa, 2024). “No entanto, o tema da inteligência artificial é frequentemente percebido como ambivalente: por um lado, entusiasma pelas possibilidades que oferece; por outro, gera temor pelas consequências que deixa antever. A este respeito, pode dizer-se que todos nós somos, embora em graus diferentes, atravessados por duas emoções: ficamos entusiasmados quando imaginamos os progressos que podem advir da inteligência artificial, mas ao mesmo tempo amedrontados quando constatamos os perigos inerentes ao seu uso”.

O empreendedor Sérgio Salino, por seu turno, afirma que “à medida que as máquinas e robôs assumem uma quantidade crescente de trabalho, é essencial que os líderes mantenham o foco no lado humano de seus negócios. Devem lembrar-se que os colaboradores não são apenas pontos de dados, mas sim indivíduos complexos com talentos, competências e perspectivas únicas”.  Mais, “a implementação de uma abordagem de liderança humanizada requer esforço e um compromisso com a mudança, mas os benefícios valem bem a pena. Maior envolvimento dos funcionários, melhores taxas de retenção, melhor comunicação, maior inovação e maior satisfação do cliente são apenas alguns dos benefícios da liderança humanizada. Ao dar prioridade ao lado humano do negócio, os líderes podem criar um local de trabalho que seja bem-sucedido e gratificante para todos os envolvidos”.

Esta nossa modernidade exige, de todos e de cada um de nós, o compromisso, o envolvimento e o empenho na construção de uma cultura que se quer integral e integradora, humanista e humanizadora. A IA tem de ser, forçosamente, um desafio em ordem ao bem comum, capaz de potenciar e promover, neste contexto global, a dignidade de todos os seres humanos, com especial atenção e cuidado dos mais frágeis e dos mais pobres.