O aumento dos custos de energia que muito tem afetado as famílias e as empresas têm estado entre as principais notícias dos últimos meses. E não é para menos: segundo dados da ERSE, entre outubro deste ano e do ano passado, as comercializadoras de eletricidade no mercado livre aumentaram cerca de duas vezes e meia os preços de eletricidade. E não é só o preço relativo da eletricidade que aumenta, sabemos que o nosso consumo tem tendência a aumentar à medida que usamos mais coisas que precisam de energia, como uma placa de indução para substituir um fogão a gás, ou um carro elétrico. De acordo com dados da DGEG, o consumo de eletricidade per capita aumentou 5 pontos percentuais nos últimos 10 anos.

Se por um lado é verdade que o aumento dos preços na energia são em parte resultado de fatores externos, como a guerra na Ucrânia, por outro lado é esperado que com o crescimento do consumo e  a sobre-utilização da rede de distribuição os custos de energia das famílias tem tendência a aumentar. É por isso urgente que as famílias portuguesas encontrem novas ferramentas para mitigar o impacto deste aumento de custos. Uma dessas ferramentas passa pela produção da sua própria energia. Atualmente já existem soluções que podem fazer sentido do ponto de vista económico e que beneficiam de importantes recursos naturais – Portugal é um dos 3 países da Europa com maior potencial de geração de energia solar fotovoltaica e este é um recurso que deve ser aproveitado.

Para podermos aproveitar a totalidade do nosso potencial solar há muito que se pode fazer:

1) A indústria tem o dever de encontrar soluções que promovam o auto-consumo das famílias. Nota-se que em muitos países, os líderes de mercado em meios de autoconsumo como sistemas de painéis solares são também as as principais comercializadoras de energia, logo as que têm menos interesse em que as famílias se tornem mais dependentes da rede elétrica. Aqui os incentivos devem estar alinhados e as soluções devem ser criadas no sentido de maximizar o auto-consumo e por sua vez a poupança das famílias nos custos com eletricidade.

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2) À sociedade, cabe a parte mais pedagógica. Muitas vezes as barreiras à transição energética estão na falta de informação: toda a gente sabe qual será o impacto que o aumento de cêntimos no litro de combustível, mas quantas pessoas sabem medir o impacto do aumento do preço por kWh? Ou qual o valor mensal que pagam em energia por ter o frigorífico ligado? É fundamental que as famílias comecem a exigir a quem lhes vendem serviços de energia, que o façam de forma absolutamente clara e compreensível, sem letras pequenas ou asteriscos.

3) Ao Estado cabe o dever de simplificar o acesso das famílias aos incentivos destinados à transição energética. Estes incentivos devem ser criados de forma a que as famílias não precisem de realizar todo o esforço financeiro primeiro. Este ponto é particularmente importante para as famílias que não têm capacidade de investimento para o autoconsumo, pois são as que mais sofrem com o aumento dos preços da energia e é fundamental que não fiquem de fora das ajudas públicas.

4)  A reguladores e organismos públicos, cabe a desburocratização e a atualização com novas tecnologias. A adoção de meios de autoconsumo ainda pode ser bastante burocrático e complexo, muitas vezes bloqueado por fatores externos à funcionalidade, como a estética. O caminho para a poupança e transição energética vai exigir alguns compromissos necessários em benefício da funcionalidade. É também importante que agentes públicos, políticas e pacotes de incentivos se mantenham a par de novas tecnologias e inovações numa indústria que está em rápida mudança, o que significa que muitas das soluções que nos vão ajudar nesta transição energética podem ainda não ter sido inventadas.

O autoconsumo é uma das ferramentas mais importantes a que as famílias podem recorrer para  combater o aumento dos custos de energia, a pobreza energética e para acelerar a transição energética. Já existem soluções que ajudam as famílias, e nos próximos anos deverão existir muitas mais.

Portugal tem uma das posições mais privilegiadas do mundo para beneficiar de algumas destas soluções, como a produção de energia solar, e não aproveitarmos este recurso seria o mesmo que não aproveitarmos a nossa costa marítima para a pesca ou o turismo.