Enquanto uns gritam vitória e outros lutam pela sobrevivência, ninguém coloca a pergunta mais importante de todas: como é que doze dos maiores líderes de uma indústria que move biliões de euros todos os anos assumem a liderança de um projecto revolucionário para a sua indústria que morreu em menos de 48 horas?

Florentino Peres, presidente do Real Madrid e pai da Superliga Europeia, sobrevalorizou o estudo da Opinionway que demonstrava uma receptividade positiva da Superliga por parte de 66% dos adeptos de futebol. Esta sondagem tinha uma validade estática, presa a uma realidade contextual prévia ao lançamento da Superliga e inócua de qualquer reação por parte dos seus opositores. Medir a receptividade da Superliga Europeia na opinião pública rapidamente se mostrou diferente de preparar a opinião pública para receber a Superliga Europeia. A pressão criada pela súbita queda das receitas em virtude da pandemia obrigou o G12 a saltar etapas, não avaliando bem as opções estratégicas a adoptar. Concretamente, Florentino and friends: (i) não conceberam um plano de comunicação em tempo oportuno, suportado no testemunho e apoio daqueles que são realmente os ídolos das massas, ou seja, os jogadores e treinadores (no ativo ou reformados); (ii) não sustentaram o valor da sua proposta nos reduzidos 4% de receitas da UEFA destinados a clubes que não participam na Champions League; e (iii) não esclareceram como é que os clubes de menor dimensão iriam (também eles) ganhar mais dinheiro e poder competir na Superliga Europeia.

A comunicação da criação da Superliga Europeia soube somente a ganância, prepotência e desprezo pelo futebol, quando na verdade (se bem comunicada) poderia representar uma disrupção desportivo-financeira positiva de elevado impacto para a indústria do futebol. Florentino and friends avançaram de forma impreparada, precipitada e amadora na direção da maior revolução da indústria do futebol desde Jean-Marc Bosman. Subestimaram o poder da UEFA, deixando-a cavalgar a solo na estrada da comunicacão sem contraditório. O G12 foi lento e reativo, quando se exigia que fosse rápido e proativo. Correu sempre atrás no tempo de uma narrativa que não era a sua, de desmentidos em desmentidos, de esclarecimentos em esclarecimentos, a doze e não a uma só voz.

O que nasce por dinheiro, morre por dinheiro. E o seu assassino de serviço, o presidente da UEFA Aleksander Ceferin, conhecia em profundidade as teias de influência da indústria do futebol. Motivado pela sua própria sobrevivência, Ceferin sabia que o G12 não seria impermeável às pressões dos seus mais diversos stakeholders e shareholders, fossem estes de natureza política, legal, financeira ou desportiva. Estrategicamente pressionou-os em tempo record para que de forma rápida e pública condenassem a criação da Superliga Europeia. Primeiro foram os funcionários do G12 a tomarem posições públicas de força contra a Superliga, como foi o caso de Strerling, Ibrahimovic, Jordan Henderson, Bruno Fernandes, James Milner, Gary Nevill, Jurgen Klopp, Pep Guardiola, entre outros. Seguiram-se manifestações dos clientes do G12, os seus adeptos, que vieram para a rua manifestar-se contra a proposta. Posteriormente, foi a vez dos patrocinadores do G12 que sustentavam a operação financeira dos clubes cortarem a sua relação económico-financeira, como foi o caso da marca de relógio Tribus patrocinadora do Liverpool. A estocada final surgiu através do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o coveiro da Superliga. Através de uma série de contactos com o sexteto inglês do G12 (City, Liverpool, Tottenham, Arsenal, United e Chelsea), admitiu que legalmente não seria capaz de travar a competição, mas que podia aprovar um duríssimo imposto sobre o luxo e dificultar ao máximo a autorização de residência para os futebolistas estrangeiros.

E a partir daí a estória é conhecida por todos. No final da noite de terça-feira, o sexteto comunicou a saída da Superliga Europeia: City às 21h25, Liverpool às 21h55, Tottenham às 21h55, Arsenal às 21h55, United às 21h55 e Chelsea às 23h50. Às 09h45 do dia seguinte Andrea Agnelli, presidente da Juventus,  admitiu que, na sequência do êxodo inglês, o projeto não tinha mais pernas para andar. Entre as 10h54 e as 12h25, deixaram também a Superliga Europeia o Atlético Madrid, Inter de Milão e AC Milan. Real Madrid e Barcelona ficaram a viver numa ilha deserta luxuosa no meio do Pacífico sem contacto o resto do mundo.

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