A economia Portuguesa crescerá cerca de 2,3% em 2018, a taxa de desemprego fixar-se-á perto dos 7% e o défice orçamental próximo dos 0,7%. Estes indicadores representariam, em condições normais, uma economia saudável, estável e promissora.

É neste contexto que o debate público se centra na especulação imobiliária, no fim da gerigonça, no significado da Social Democracia do PSD e pouco mais. É neste contexto de aparente serenidade e de relativo afastamento dos holofotes internacionais, que a nossa classe política volta ao seu registo comum.

Os mais responsáveis discutem o ciclo económico, o ainda elevado peso do crédito malparado no sistema financeiro, a crise dos mercados emergentes, o fim do quantative easing e consequente aumento das taxas de juro, a guerra comercial e a tendência protecionista do comércio global. É importante a preocupação quanto à resiliência da economia Portuguesa à exposição a estas fontes de risco. Os sinais apontam para uma forte probabilidade de ocorrência destes eventos e para uma vulnerabilidade significativa da nossa economia. Neste sentido, seria de esperar que o debate público se centrasse, pelo menos, na resposta a estas questões e na melhor forma de mitigar os riscos referidos.

No entanto, mais assustador é o parco debate centrado em políticas de crescimento. Por um lado, Portugal tem um PIB per capita abaixo da média da União Europeia, semelhante ao da Eslováquia, e inferior a países como a Eslovénia, a Lituânia, o Chipre e a República Checa. Por outro, Portugal aparece, consecutivamente, nos rankings das melhores universidades, do turismo, de diferentes desportos e da gastronomia. Portugal tem dos melhores artistas, banqueiros, empresários, desportistas, investigadores, médicos e até modelos do mundo. Faz algum sentido a discussão sobre crescimento e qualidade de vida ser sempre tão superficial e inflamada por interesses políticos?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O FMI publicou no passado dia 12 uma análise sobre a situação económica do nosso país. Nesse relatório estima um crescimento potencial da economia Portuguesa, no médio prazo, de 1,4%, em termos reais. Na prática isto diz-nos também que os Portugueses vão continuar a viver em piores condições financeiras do que a média dos cidadãos da União Europeia. Esta limitação é causada, em grande medida, pelo facto de o crescimento por via do emprego estar a chegar ao limite espectável. Perspetiva-se que em 2019 a taxa de desemprego venha a registar mínimos do período pré-crise, o que conciliado com a tendência decrescente da população ativa (5,5M em 2008 vs 5,2M em 2017), sugere que o crescimento económico causado pelo facto de mais pessoas estarem a trabalhar, vai alcançar o seu limite a curto prazo.

Desta forma, o debate público deve-se centrar na melhoria da produtividade do trabalho, quer por via do aumento do investimento, quer por via da qualificação da força de trabalho. Este é o próximo passo.

Neste sentido, importa referir que:

  • Portugal, com uma dívida pública de 126% do PIB, é o terceiro país mais endividado da União Europeia, atrás da Grécia e Itália;
  • O sector privado Português também se encontra extremamente alavancado, com uma dívida de cerca 160% do PIB em 2017, valor superior ao da Grécia e Itália.
  • Em particular, as famílias Portuguesas têm um nível de poupança líquida (% rendimento disponível) significativamente abaixo da média da União Europeia (-2,6% vs 3,6%, em 2017).

Estas factores, e tantos mais, demonstram que o investimento público e privado nacional se irá manter limitado no médio-prazo. Assim, e embora se deva debater políticas de aumento da poupança privada e da eficiência dos investimentos públicos, é fundamental centrar o debate na atração de investimento externo.

A estabilidade social, o crescimento de sectores com grande potencial inovador, o sector do turismo, a qualidade de vida, as infraestruturas, os serviços tecnológicos e o talento são grandes atrações do investimento em Portugal. No entanto, barreiras para o investimento externo como a incerteza regulatória e fiscal e os elevados custos de contexto são entraves para os investidores.

É essencial que o espectro político nacional encontre consensos de longo-prazo em matérias como:

  • A taxa do IRC, e restante fiscalidade corporativa são factores que afetam a competitividade das empresas Portuguesas. Na Irlanda, o imposto sobre o lucro pode chegar aos 12,5% (25 % para o lucro gerado por actividades não comerciais). Na Polónia, 19%. E na Hungria, 9%. Em Portugal, 31,5%. Assim, políticas de longo-prazo que permitam a redução do IRC são essenciais para atrair investimento externo;
  • Os agentes internacionais consideram que a regulamentação e fiscalidade do mercado empresarial são complexas e instáveis. É necessário simplificar, definir estratégias e objectivos de longo prazo e comunicar com clareza;
  • O talento é, neste momento, o ativo mais valorizado por investidores e Portugal é visto como um dos países da UE com maior potencial. É necessário promover a retenção de talento e o dinamismo do mercado de trabalho para atrair investimento externo;
  • O sistema judicial é visto como um dos principais entraves para a entrada de investidores internacionais. A complexidade, falta de transparência e eficiência do sistema judicial são apontados como factores de pouca atratividade da nossa economia. A sua reforma e modernização deve ser uma prioridade para os agentes políticos Portugueses.

Desta forma, Portugal conseguirá tirar partido das qualidades já referidas, bem como das oportunidades geradas pela incerteza política em mercados como o Reino Unido e a Itália, a tensão social originada por tendências populistas e o clima de insegurança em alguns países Europeus.

Outro ponto relevante é a qualificação da força de trabalho. Este factor é, não só, um catalisador de investimento externo como, per si, também contribui para a produtividade do trabalho. Como anteriormente referido, o talento é hoje um dos ativos mais valorizados a nível mundial e embora Portugal seja presença constante nos rankings universitários das mais diversas áreas, uma parte relevante dos jovens acaba por procurar outros mercados. A retenção do talento parte, essencialmente, da dinâmica do mercado, do desenvolvimento dos trabalhadores e das condições de trabalho.

A dinâmica do mercado é catalisada, em grande medida, pela atração do investimento externo anteriormente discutida.

Por outro lado, as empresas portuguesas também têm de assumir a sua responsabilidade nesta discussão. O treino e desenvolvimento dos seus trabalhadores tem de ser uma prioridade para as empresas que devem tirar partido da, cada vez mais ampla, oferta de programas de executivos e outras iniciativas de qualidade. As condições de trabalho têm de se aproximar da realidade europeia na mesma proporção que o talento Português se tem aproximado dos melhores exemplos mundiais. Não faz sentido que a geração dos 1000 seja eterna e que as empresas valorizem licenciaturas, mestrados, doutoramentos e outras formações da mesma forma. As multinacionais não podem ter uma disparidade salarial entre países muito superior ao natural ajuste relacionado com os diferentes custos de vida. São as empresas de grande dimensão que, muitas vezes, servem de benchmark para o mercado laboral e estas têm um grande interesse na discussão.

Um dos aspetos de maior atratividade para investidores internacionais é, justamente, o potencial de melhoria da produtividade, o que torna evidente a clara simbiose entre os factores referidos. Assim, é necessário que o estudo dos mesmos seja feito de forma integrada e transversal ao sector público e privado.

Desta forma, daremos o próximo passo para que Portugal atinja o seu potencial e se torne num dos melhores países do mundo.

Alumni da Nova School Of Business and Economics