Hoje trago-vos um assunto que tem intrigado mentes curiosas há décadas: a busca pela inteligência artificial geral. Ou, como é conhecido nos corredores mais nerdísticos, AGI, do inglês Artificial General Intelligence. É um tema que nos deixa fascinados e, ao mesmo tempo, nos desafia a ir além dos limites do conhecimento.
A lista de filmes que exploram o fascinante mundo da AGI é extensa. Se o leitor quiser uma maratona de filmes sobre AGI, recomendo Ex Machina (2014), Blade Runner (1982), Her (2013), A.I. – Inteligência Artificial (2001) e, claro está Matrix (1999). Embora nem todos sejam estritamente sobre AGI, cada um traz uma perspectiva única sobre as possibilidades, desafios e implicações éticas de máquinas inteligentes.
Caro leitor, pense comigo nesta incrível possibilidade: uma máquina capaz não apenas de realizar tarefas específicas com eficiência, mas também de compreender a essência dessas tarefas, entendendo o seu propósito intrínseco. Estamos a falar da sagaz tentativa de criar uma máquina capaz de pensar, aprender e compreender como um ser humano. Uma máquina que pode aprender por si própria, adaptar-se a novas situações e resolver problemas complexos com criatividade.
Esta é a visão da famosa AGI: uma máquina capaz de entender e aprender qualquer tarefa intelectual que um ser humano seja capaz de realizar. É uma definição um tanto mais restrita do que a da Inteligência Artificial Forte, que vai além e inclui a ideia de consciência. Mas deixemos esse tema para outro dia.
Mas que coisa é esta da AGI? Estamos todos fartos de ouvir falar de Inteligência Artificial. Não será a mesma coisa? A Inteligência Artifical é como aquele nosso amigo que sabe fazer uma coisa muito bem, tipo jogar xadrez, jogar à bola ou traduzir línguas. É especializado, entende? Já a AGI é tipo o MacGyver da tecnologia, é aquele ser inteligente que tem o poder de resolver qualquer problema, como aqueles chefs de cozinha que improvisam um banquete com qualquer ingrediente. A AGI é mais parecida com a inteligência humana, ela é capaz de aprender e se adaptar em diferentes áreas, enquanto a Inteligência Artificial fica mais naquele domínio específico.
Para além da fascinante filosofia da cognição artificial, por que razão nos devemos interessar no tema?
Bem, as aplicações potenciais são infinitas.
Imagine uma máquina que aprende autonomamente como usar, controlar (e, mais importante, o propósito) de qualquer eletrodoméstico, máquina industrial e veículo de transporte.
Imagine uma máquina capaz de conversar consigo de forma natural, compreendendo as suas intenções e respondendo de maneira inteligente, e possivelmente indo além – sendo mais sábio e menos tendencioso do que os seus criadores de carne e osso.
Imagine uma máquina capaz de desenhar novas máquinas, algoritmos e processos, que estão potencialmente muito além das nossas capacidades.
Imagine… Mas não se esqueça de imaginar também uma máquina capaz de fazer qualquer coisa que possa imaginar, incluindo nisso os seus piores pesadelos.
A AGI tem a capacidade de aprendizagem autodidata. Ou seja, não sabemos bem o que vai “escolher” aprender. É como uma caixa preta onde os parâmetros são ajustados, criados e usados de maneiras criativas, mas nem sempre conseguimos explicar exatamente como isso acontece. É uma potencialidade de aprendizagem misteriosa e surpreendente, por vezes até assustadora.
Mas a palavra-chave, caro leitor, é “imagine”. Apesar dos media estarem cheios de histórias de sucesso da AGI, devemos ter cuidado para não cair em expectativas irrealistas.
A AGI é um objetivo ambicioso, e devemos reconhecer que ainda temos um longo caminho pela frente. Os avanços na área da inteligência artificial têm sido notáveis, é verdade, mas não podemos ignorar os desafios que ainda nos aguardam. A complexidade da nossa mente sendo provavelmente o maior.
A mente humana é um verdadeiro quebra-cabeças. A nossa capacidade de compreender o mundo, aprender com as nossas experiências e aplicar esse conhecimento de maneira flexível é algo verdadeiramente fascinante. Tentar reproduzir essa complexidade numa máquina é um desafio monumental.
Não se engane caro leitor, estamos diante de um desafio épico, que exige avanços tecnológicos, mas também uma profunda compreensão da própria essência do pensamento humano. Estamos diante do desconhecido. A explorar territórios inexplorados.
Outra coisa fascinante sobre a AGI é que, até ao momento, não há um teste com o qual todos possamos concordar para avaliar, classificar ou até mesmo ordenar um agente de software com base no nível de generalidade da sua inteligência.
O melhor que conseguimos até agora, além dos testes específicos de tarefas, é conversar com a máquina e ter uma sensação muito subjetiva de quão inteligente ela é. E esse teste já foi proposto por Alan Turing em 1950, que o chamou de “O Jogo da Imitação”.
Para um mundo ávido por descobrir novas tecnologias capazes de revolucionar mercados, a AGI é realmente o Santo Graal. Dezenas de centros de pesquisa pelo mundo fora, com orçamentos enormes, esforçam-se para desvendar a AGI.
Mas a grande pergunta que trago é: qual o estado da arte da AGI? Que empresas tecnológicas e startups estão de facto a inovar? E em quais devemos investir?
Bem, esse é o ponto de toda esta reflexão – o fato de que, até hoje, nenhum modelo de computador chegou perto de entender qualquer coisa, muito menos possuir algo que possa ser chamado inteligência geral. Mesmo que problemas específicos e altamente complexos estejam a ser abordados atualmente, problemas que há apenas alguns anos atrás eram quase inimagináveis (por exemplo, controlo de processos nucleares ou previsão de formas de proteínas), essas tarefas são específicas e restritas a uma área de conhecimento limitada.
A promessa de máquinas pensantes é um investimento de longo prazo, para dizer o mínimo.
Cuidado com qualquer startup que se gabe de que seu software pode entender, pensar ou compreender o propósito de qualquer coisa.
Mantenha-se afastado de qualquer vendedor da banha da cobra que explique as incríveis capacidades futuras dos seus produtos com as palavras mágicas Inteligência Artificial.
Não deixe que o entusiasmo dos media o engane com máquinas que pensam. Elas não pensam.
A meu ver caro leitor, ainda estamos muito longe da AGI.
Para os próximos anos, devemo-nos concentrar em encontrar equipas de tecnologia avançada que desenvolvam soluções específicas para problemas específicos, com base em definições de “sucesso/prontidão” bem definidas.