Ao longo destes dias foram sendo conhecidos os dados de mais um Estado da Nação produzido pela Fundação José Neves, que em conjunto com os dados partilhados pelo INE demonstram que os jovens continuam a ser uma das faixas etárias mais prejudicadas neste país, no que à sua carreira laboral diz respeito.

Sabemos que a dada altura, seguramente no pós 25 de abril, o país percebeu que era fundamental o aumento da sua competitividade com o exterior e que no caminho para o atingir o conhecimento e a capacitação dos portugueses era um factor muito importante de desenvolvimento, senão o mais importante. Nesse sentido, nas últimas duas décadas aproximámo-nos para perto da média da União Europeia e, na faixa etária entre os 25 e os 34 ultrapassámos a percentagem de jovens qualificados, para 45%, como soubemos através dos dados revelados pela Eurostat, em meados do ano passado. Cabe-me realçar que este aumento, se é inegável uma quota parte de esforço do estado, ao longo dos últimos 50 anos, a larga maioria de esforço continua a ser imputado às famílias portuguesas, pois são elas que suportam a maioria dos custos reais da permanência dos estudantes do Ensino Superior, aliás a Associação Académica de Coimbra no último mês informou-nos que em média um estudante gasta 518€ por mês ao que juntamos o valor da propina, perfazendo 587€. Naturalmente que registamos uma variação consoante a cidade, instituição de Ensino e grau de ensino, mas claro, estes valores são mais altos nos casos de Lisboa e no Porto, onde infelizmente se concentra a maioria do nosso sistema de ensino superior.

Por isso, e sem qualquer reserva em dizê-lo com o esforço pessoal de muitos jovens e das suas famílias, hoje Portugal está mais capacitado e cada vez mais competitivo, em níveis que aproximam cada vez mais da União Europeia. O regredir neste ponto, das qualificações dos Portugueses, é o caminho certo para regresso a uma passado não muito distante, uma passado ainda mais pobre com um grau de desenvolvimento que nenhum de nós defende para o futuro de Portugal.

E são também os jovens qualificados os mais prejudicados nos aumentos salariais. De 2011 para 2022 os salários nominais dos jovens licenciados estão no mesmo nível, o que significa uma descida de 13% de salário real, ou seja, tem menos capacidade de compra, auferindo de um salário quase igual, debatendo-se com custos de subsistência que aumentaram consideravelmente, em particular no passar deste ano. É de notar que só no ano de 2021 para 2022 a perda é de 6%.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É comum ouvirmos que a economia não consegue suportar o aumento dos salários, contudo, é impossível harmonizar a realidade dos dados recentemente anunciados pelo INE, onde vimos um aumento do PIB de 6,7% em 2022, com o Banco de Portugal a prever um crescimento de 2,7% para o ano corrente. Adicionalmente, verificamos os anúncios de lucros acima do esperado que as grandes empresas e grupos económicos têm atingido.

É típico ouvirmos a frase dos gestores, sejam eles do setor público ou privado, que o sucesso está intimamente ligado e dependente dos seus recursos humanos e ao talento que possuem.

A Geração Mais Qualificada de Sempre é aquela que mais ajuda a que a nossa economia se desenvolva, fruto do crescimento da economia tecnológica, do conhecimento e do talento que faz chegar aos diversos setores, promovendo a inovação, seja na forma como comunicam, como gerem informação e os dados e os aplicam de forma útil e inteligente, seja naquilo que produzem.

Ainda assim, não vêem reconhecido o seu trabalho da forma mais justa possível, com o aumento das suas remunerações.

E, por fim, concluo com a mais desanimadora das conclusões: continuamos e continuaremos a ter o nosso melhor talento, que nós criamos, a sair pela nossa porta fora à procura de outras oportunidades e condições para construir uma vida digna e de quem reconheça o seu potencial. Estou certo de que são muitos os jovens que bem preferiam permanecer no seu país, com os seus amigos, com a sua família, soubesse esse país reconhecer o seu devido valor. São muitos os que como eu têm colocado o tópico em cima da mesa, neste que não é só um problema do estado, sem prejuízo da sua também necessária ação para crescimento do tecido económico, mas é também um problema da sociedade civil, que tem uma quota-parte grande da responsabilidade e muito por onde dar resposta.

 

Presidente da Direcção do Conselho Nacional de Juventude

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.