Vim ao Porto almoçar. Vou encontrar-me com uns amigos. Peço a salada de quinoa nacional, de entrada, quinoa produzida no Ribatejo. As rabanadas com doce de ovos são as mesmas de sempre, mas os ovos, orgânicos, de galinhas do campo, dão-lhes outro sabor. A esplanada está cheia, os miúdos a brincar, os pais e mães jovens, já com dois, três filhos. Quem diria que seríamos um dia um país com esta natalidade? A reindustrialização de base tecnológica dos últimos doze anos mudou o país de norte a sul. Éramos os empregados de mesa e mau inglês da Europa, agora somos um país de engenheiros. Uma referência na investigação. E aqui, onde o sotaque do norte intercalado com outras línguas, numa Babel colorida, organizada pelas quatro bandejas de quem serve, são todos profissionais formados.

Não me posso esquecer, enquanto cá estou, quero aproveitar para comprar uns sapatos Pezinhos de Lã e ver a loja física – as ex-funcionárias das Lãs do Liz, que se reiventaram quando a fábrica declarou insolvência, lançaram a marca e ela impôs-se, a qualidade é assim. Concorreram ao projecto da Rede Nacional de Artesanato Qualificado com cinco máquinas. Já são setenta e exportam em quantidade. A alta velocidade facilita muito a mobilidade, a presença nas feiras internacionais. O comboio para Madrid deu jeito. Um saltinho e chegam a Paris. Os sapatos. Elas não. Querem ficar aqui – perto do mar, da praia para onde vão de bicicleta, e da escola para onde as crianças vão a pé.

Toca o telefone. É o Luís, o filho mais novo dos meus amigos. São as saudades da mãe. Chegou de Boston, do MIT, onde esteve a estudar matérias sustentáveis na construção de equipamento náutico. A segunda parte da formação é na Universidade Atlântica de Ponta Delgada. Digo-lhe que vi a notícia de que a Universidade Atlântica de Ponta Delgada ganhou o prémio de melhor centro de estudos europeu. Sem surpresa, responde ele. A mãe diz que o verá no fim de semana e aproveitará para visitar a Laura, a filha mais velha, na Terceira. Essa não tem saudades da mãe, até porque o tempo no controlo da estação hidroeléctrica não a deixa parar. A empresa onde está, de capitais mistos, exporta 80% da produção de energia para França. Desligam o telefone – o rapaz está com pressa para um mergulho antes das aulas.

Jantarei em Lisboa, talvez em Santa Catarina, de frente para o Tejo, num dos seis restaurantes permitidos naquela linha de restauração. A viagem é rapidíssima. Mais de cem anos depois, voltámos todos ao comboio e a Europa já não é a seguir aos Pirinéus.

Olhando para trás, para o período em que Portugal vivia entre a derrocada do BES, a sucessão de escândalos políticos e financeiros, e o descontrolo da pandemia, vejo que apesar de parecermos outros, somos os mesmos. Em melhores circunstâncias. Com mais alegria.

O que António Costa e Silva não referiu na sua proposta revolucionária, foi que as pessoas felizes produzem mais, produzem melhor. A economia da felicidade é mais do que um campo de estudo. É uma prática.

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