A Europa não se construirá de uma só vez, nem de acordo com um plano único. Estas foram as palavras de Robert Schuman no dia 9 de maio de 1950, quando se dirigiu aos países europeus, propondo uma união que, juntos, pudesse promover a prosperidade e a paz num continente devastado por duas grandes guerras. A visão de Schuman lançou as bases para o bloco europeu, mas o caminho que parecia promissor enfrenta hoje desafios que exigem renovação e ação decidida.
Passados 74 anos desde essa histórica declaração, a comunidade fundada por figuras como Jean Monnet e François Mitterrand encontra-se num momento de estagnação, sem uma visão clara e ambiciosa para o futuro. A crise económica de 2008, que afetou gravemente os países do sul da Europa, abriu fissuras na coesão da União, e as suas consequências prolongaram-se, intensificadas pela pandemia de COVID-19. Estas crises expuseram fragilidades estruturais, geraram novas tensões económicas e sociais e, mais recentemente, a invasão da Ucrânia pela Rússia colocou à prova a unidade política e estratégica do bloco, revelando um projeto muitas vezes hesitante entre avançar e recuar.
A gravidade do momento tornou-se ainda mais evidente com o recente encerramento de fábricas na França e na Alemanha, sinal da dificuldade que as economias europeias enfrentam para competir no mercado internacional. A raiz deste problema é estrutural: a falta de investimento consistente na competitividade industrial.
Como se costuma dizer: “Os EUA criam, a China copia e a Europa regula.” Embora humorística, esta expressão é uma crítica dura à abordagem da União Europeia, que parece muitas vezes limitar-se a supervisionar regras, enquanto outras potências assumem posições de liderança. A comunidade tem privilegiado consensos e evitado conflitos, apresentando-se como o “aluno bem-comportado” da cena internacional. Contudo, esta postura, embora meritória, ignora a realidade de um mundo onde uma competição feroz pela hegemonia económica e política coloca os EUA e a China em lados opostos do tabuleiro global.
Os EUA, por exemplo, têm avançado com medidas protecionistas, iniciadas por Donald Trump e continuadas por Joe Biden, como o Buy American Act e o Inflation Reduction Act. A estas, somou-se o CHIPS and Science Act, que representa uma estratégia clara para garantir a sua autonomia tecnológica e industrial. Este plano, que incluiu acordos com gigantes como a Samsung e a Toyota para investir em semicondutores e baterias nos Estados Unidos, demonstra visão e compromisso com o futuro.
Em contraste, a Europa tem-se mostrado menos coesa. Em vez de adotar uma estratégia unificada para fortalecer a sua competitividade, permite iniciativas que aumentam a pressão sobre a indústria europeia, como a instalação de fábricas de marcas chinesas, como a BYD, na Hungria. Estas fábricas, apesar de parecerem benéficas no curto prazo, intensificam a concorrência desigual no mercado europeu, colocando os fabricantes locais numa posição desfavorável.
Ainda assim, não é necessário ser de esquerda nem de direita para perceber o que é melhor para o futuro europeu. Basta olhar para os factos e compreender que temos os recursos, o talento e a capacidade de se reinventar. O caminho para o futuro exige uma aposta séria na inovação, na reindustrialização e no fortalecimento de setores chave, como as energias renováveis, as tecnologias verdes e os semicondutores. É essencial priorizar a autonomia estratégica, reduzindo a dependência de terceiros que não partilham os valores europeus, enquanto se reforçam alianças com parceiros tradicionais, como os Estados Unidos.
Enquanto jovem europeu, é desolador ver que muitos dos discursos sobre o futuro da minha geração raramente se traduzem em ações concretas. Porém, também acredito que o momento atual é uma oportunidade para a Europa se reafirmar. Com visão, coragem e liderança, a União Europeia pode ainda ser o motor de um futuro mais próspero e resiliente, onde a próxima geração não seja apenas uma promessa, mas parte da solução. O sonho de Schuman não está perdido – cabe-nos torná-lo realidade.