O debate político, na atualidade, parece preocupar-se mais em atacar o adversário ad hominem do que discutir com argumentos ou rebater as ideias do interlocutor. Assim, verificamos que desde há alguns anos determinados temas, como a imigração, têm vindo a ser afastados do debate público. Isto acontece porque há um lado da perspetiva ideológica que classifica automaticamente o outro como racista ou xenófobo, quando na realidade a maior parte das vezes apenas se quer trazer argumentos para uma discussão. Por que razão isto acontece? Acontece porque a imigração é um tema político e com uma abordagem política que, aparentemente, interessa bastante às populações e ao misturar o tema com racismo ou xenofobia evita-se a discussão, pois ninguém quer ser rotulado de racista ou xenófobo apenas por discutir um tema político com uma abordagem política. É uma forma de silenciar a outra parte, um método de cultura de cancelamento.

Pode-se ter perfeitamente uma opinião política mais restritiva sobre a imigração sem se ser racista ou xenófobo, como por exemplo achar que os imigrantes só devem entrar num país com contrato de trabalho. Neste artigo, quero-me focar apenas na forma como se evita uma discussão política e não no conteúdo da mesma. Não obstante, afirmo que na minha opinião a imigração é um fenómeno positivo para qualquer sociedade (na nossa até necessário), mas não se deve permitir uma política de portas abertas, onde o caos impera e a fasquia das condições mínimas humanas descem inevitavelmente.

Assim, evitando a discussão, com receio da mesma, vai-se criando um tabu à vista de todos. Tabu esse que só existe no espaço da discussão pública ou de algumas elites, pois a população não evita a discussão e é até bastante observadora e opinativa sobre o fenómeno. De seguida, a população verifica que a discussão no “espaço público” não existe, pois ninguém quer correr o risco de ser ofendido por ter uma opinião política sobre o tema e passar por racista ou xenófobo se não corresponder aos ditames do que alguns consideram correto.

A consequência do tabu, é que há quem queira discutir a questão da imigração e normalmente fá-lo apresentando como um problema e que deve ser resolvido de uma forma radical. A população, farta do politicamente correto e consciente da situação, apoia quem se propõe a falar sobre a questão, pois espera dos políticos o mínimo de coragem para discutir os temas que lhes interessa. Ora, se apenas há uma forma política de abordar o tema por falta de outras, é natural que esta tenha toda a atenção.

Deste modo, de quem é a culpa se formas radicais de abordar o tema da imigração começarem a vingar na maioria da população? Certamente será daqueles que tentaram cancelar a discussão ofendendo o interlocutor, bem como daqueles que, com receio de serem classificados pelos primeiros, evitam a discussão, evitando igualmente um tema relevante para a população, deixando espaço aberto a quem se propõe a abordar a questão de uma forma simplista por ausência de bom senso político que ficou por trazer à discussão.

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