O poder do Partido Socialista talvez nunca tenha sido tão grande, alastrando-se a várias instituições, cobrindo diversos territórios, sustentado por interesses comuns, apoiado por uma miríade de clientelas, avalizado pelos fundos europeus e pela cobertura financeira do Banco Central Europeu.

O poder é de tal ordem que começa a ser cada vez mais difícil distinguir onde termina o PS e começa o Governo, ou mesmo onde termina o PS e começa o Estado.

Na Assembleia da República, apesar de não ter a maioria absoluta, o Governo tem beneficiado do apoio do BE e do PCP, ou pelo menos de um dos dois. Esta conjugação inédita, fruto do muro parlamentar erguido por António Costa, tem sido ainda mais eficaz do que a tão desejada maioria absoluta.

Desta forma, o PS tornou cúmplices e cooperantes dois dos partidos que mais barulho faziam na nossa democracia, outrora de protesto, mas agora do sistema. Com estes apoios, o poder do PS estendeu-se aos sindicatos. Na CGTP via PCP e na UGT via o seu secretário geral, mantendo as greves e as manifestações de rua mais pacíficas.

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Adicionalmente, o PS teve a cobertura do PSD em vários momentos, como a redução dos debates parlamentares quinzenais, a procura não correspondida por acordos de regime e a ausência de uma oposição forte durante um largo período da pandemia.

Para açucarar ainda mais este panorama, o Governo tem convivido com um Presidente da República cooperante, pouco disponível para confrontações políticas mediáticas, preocupado com a estabilidade democrática, mas também com a sua própria popularidade.

Com a extrema esquerda amordaçada, um PSD enfraquecido, um Presidente da República comprometido e uma pandemia geradora de poderes acrescidos, o PS tem encontrado uma passadeira vermelha para a sua inesgotável fome de poder, estendendo o seu domínio às mais diversas instituições, como a Procuradoria Geral da República, o Tribunal de Contas, o Tribunal Constitucional, a Procuradoria Europeia e o Banco de Portugal.

Neste último, o controlo foi conseguido através da nomeação de Mário Centeno, que saltou diretamente da pasta de Ministro das Finanças para a de Governador do Banco de Portugal.

Na Procuradoria Europeia, em vez de escolher a candidata com a melhor avaliação do júri internacional, o Governo optou pela escolha do Procurador José Guerra, anteriormente nomeado pelo Governo de José Sócrates para o Eurojust, o órgão que estabeleceu a ligação entre as autoridades portuguesas e inglesas na investigação do caso Freeport.

No Tribunal de Contas, o Governo optou pela não recondução de Vítor Caldeira, que vinha a desenvolver um bom trabalho, e nomeou José Tavares, que tem sido muito menos incómodo.

Na Procuradoria Geral da República, o Governo deixou sair a Procuradora Joana Marques Vidal, um rosto importante no combate à corrupção, nomeadamente nos casos relacionados com José Sócrates e Armando Vara.

No Tribunal Constitucional, para o qual a eleição dos juízes é feita por voto secreto e carece da aprovação de pelo menos dois terços dos deputados, nada será feito sem o PS.

Não contente com este nível de poder, para além de minar as instituições que deveriam ser independentes para se oporem a qualquer outro poder, o PS tem vindo a aquartelar a administração e as empresas públicas. Prova disso foram as nomeações de 12 dirigentes da Segurança Social com ligações ao PS e o aumento brutal dos militantes do PS na Carris, em particular nas suas chefias.

Esse controlo alastrou-se à RTP, com a nomeação de Alberto Arons de Carvalho para o Conselho Geral Independente da RTP, um homem com fortes ligações ao PS, que foi Secretário de Estado da Comunicação Social de 1995 a 2002.

Em todos estes casos, o mérito não foi o critério mais relevante. O mais importante foi aumentar o poder e silenciar toda e qualquer voz oposicionista e independente.

Mas o controlo não se esgota ao nível nacional. Com a presidência de câmara de mais de metade dos municípios, o PS tem a sua rede de implantação local. E como se tudo isto não fosse suficiente, fruto da pandemia, o PS beneficia agora de transferências recorde da União Europeia que lhe permitem andar por este País a usar o PRR para fazer propaganda e prometer obras, como foi o caso da recente promessa de uma maternidade em Coimbra.

Está assim comprovado que o colossal montante de fundos europeus será acima de tudo uma bazuca para a armada socialista, em vez de ser um instrumento plenamente alocado ao desenvolvimento de Portugal.

A qualidade da nossa democracia depende de diversos fatores, como as eleições livres, a lei, as instituições democráticas, a diversidade de partidos, a educação e participação da sociedade civil e a liberdade de imprensa. Por isso, quando o poder de um partido se torna tão hegemónico e os seus tentáculos abraçam tantos desses elementos, a plenitude democrática começa a ficar seriamente ameaçada.

Por essa razão, neste momento da nossa História comum, urge travar o avanço da mancha cor de rosa. Para isso, os portugueses disporão de três eventos importantes. As eleições autárquicas de 26 de setembro, as eleições no PSD de janeiro de 2022 e as eleições legislativas de 2023.

O primeiro e o último evento terão consequências diretas para o poder socialista. O segundo, com consequências indiretas, mas nem por isso menos importantes, poderá condicionar o resultado das eleições legislativas de 2023, sobretudo se resultar no ressurgimento de um PSD mais forte e dinâmico, verdadeiramente capaz de contrabalançar este imenso poder socialista e constituir uma alternativa que enriqueça a nossa democracia.