Podem chamar de neomarxismo, nova esquerda ou extrema-esquerda, mas a verdade é que tomou conta da maior parte dos valores ocidentais. Não interessa aqui a discussão entre as diferentes definições de marxismo ortodoxo e outras escolas de pensamento, nem sequer a origem da fábula de George Orwell. O problema é que quem ousa debater contra eles de forma séria e eficiente, é logo apelidado de extrema-direita.

É do interesse deles que se simplifique questões complexas e se tratem as suas visões como mantras religiosos. É do interesse deles que respostas cuidadosamente reflectidas sejam observadas como preconceitos arbitrários. Por exemplo, no feminismo: a igualdade de oportunidades numa sociedade, independentemente do género, é um direito fundamental que não pode ser negociado; e só nos países islâmicos radicais é que se normaliza essa assimetria. Mas o feminismo de hoje nos países ocidentais é uma caricatura ridícula do que foi no passado, e assimila apenas argumentos marxistas que não tratam dos direitos das mulheres, e são, sim, armas ideológicas muito concretas que promovem o colectivismo e a divisão da sociedade entre opressores e oprimidos.

O que a extrema-esquerda faz é adotar causas universais e distorcer cada uma delas de acordo com o seu próprio “logos”, seja a igualdade de género, o ambiente ou o desenvolvimento económico e social. É fundamental para a extrema-esquerda que a liberdade de expressão seja amordaçada. Os seus argumentos tentam inverter a realidade e tornar uma questão de salvaguarda da justiça democrática, mas é evidente que são uma forma autocrática de cortar pela raíz a possibilidade de reflexão, discussão e evolução do pensamento por parte das pessoas comuns.

O recente caso, no Brasil, do corte de acesso a uma plataforma da internet revela o modus operandi habitual dos neomarxistas que tomam conta do governo dos países: primeiro controlam o Estado de Direito, e depois a informação, retirando a possibilidade de qualquer contraditório. Quando estes dois pilares (justiça e liberdade de expressão) começam a ser atacados, é razão para nos preocuparmos seriamente. Os piores males fazem-se sempre pelos “melhores” motivos e foi isso que aconteceu no passado: pela defesa intransigente do povo ariano ou pela compaixão soviética pelos oprimidos. O resultado foi sempre catastrófico, mas parece que a humanidade nunca aprende com os seus erros.

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A direita populista foi a melhor notícia possível para os radicais de esquerda que tomam conta do mundo. Da América do Norte (Trump) à América do Sul (Milei e Bolsonaro) e principalmente na Europa (desde Le Pen ao Chega), a direita moderada e social morreu ou está a agoniar nos resquícios de uma discussão séria, científica e profunda, que já não interessa a ninguém. Principalmente a uma sociedade que não lê, prefere as explicações simples ou as teorias das conspiração, a respostas que impliquem mais de dois minutos de atenção e foco. A direita populista são os trogloditas sem cérebro, em tudo iguais aos seus gémeos separados à nascença: a esquerda radical. A direita populista tem preconceitos arbitrários e não conhece os temas sobre os quais tem opiniões tão fortes. A direita populista é a base de sobrevivência e razão da existência da esquerda radical.

Hoje, a verdadeira guerra, não é entre extremistas de direita e esquerda. Hoje, a verdadeira guerra, é pelo ressurgimento dos moderados e pela primazia da resposta científica, contra a hiper-simplificação das visões da sociedade, da economia, da justiça, do bem-estar individual e coletivo, do desenvolvimento sustentável e do avanço da humanidade. E será tão importante reconquistarmos este terreno, como foi há oitenta anos a invasão da Normandia pelas tropas aliadas.

Esta semana, o assunto fundamental para certa elite da esquerda radical, foi um membro do Governo ter dito que a mulher lhe preparou a mala. Evidentemente, uma posição aplaudida pelas “feministas” de serviço. Alguém avise este conjunto de pessoas que o país está a arder e há seres humanos a morrer nas salas de espera dos Hospitais. Há um país real para lá dos seus preconceitos de classe média superficialmente letrada. Sim, porque esta auto-denominada liderança intelectual tem a profundidade de uma carica e é vazia, para lá da sua previsibilidade aborrecida e monótona. Perdem-se em filosofias estreitas e visões românticas dos seus próprios pequenos e insignificantes mundos. Mas as verdadeiras feministas do passado, que lutaram efetivamente pelos direitos das mulheres, iriam sentir-se envergonhadas pela conversão ideológica do seu sacrifício. Porque a luta dos homens e mulheres por uma vida melhor não pertence a uma ideologia, mas faz parte da História da humanidade e tem sido feita através do esforço individual de milhões de anónimos ao longo dos milénios.

A discriminação na sociedade ocidental não é entre homens e mulheres, principalmente não é política. A discriminação e assimetria advêm da supremacia dos instintos humanos coletivistas contra os valores fundamentais da nossa civilização. Por exemplo, há em Portugal uma estranha moralidade sobre a chamada “cunha”. O estudo foi da Fundação Francisco Manuel dos Santos e foi noticiado no Jornal de Negócios. Há cada vez menos esperança num país onde a cunha não é vista como obstáculo à valorização do mérito, mas como algo determinante para a mobilidade social. É imoral e pequenino este pensamento: deita por terra qualquer miragem de meritocracia ou vantagem no liberalismo económico. O Estado devia intervir para corrigir estes desequilíbrios, mas sabemos que é dentro do próprio sistema burocrático que está a raiz do mal.O tráfico de influências é claramente corrupção, e uma das razões para esta tolerância tacanha está na permissividade da justiça perante este flagelo. Sabemos que sem justiça nunca haverá paz, mas também é verdade que uma sociedade sem valores nunca poderá ter uma economia forte. Pior ainda, um país assim não tem futuro.