Depois de tantos dias de quarentena em Bruxelas, decidi adoptar uma posição positiva. Abracei a “nova normalidade” e comprei um bilhete de avião para Portugal. Vou fazer a mala com a mesma vontade de abraçar a família, começar a contagem decrescente do costume, verificar a meteorologia com dias e dias de antecedência. Contudo, sei que o regresso será marcado por uma ansiedade diferente. Como será a nossa vida após a Covid-19? Vamos todos embarcar numa realidade díspar e distante daquela a que fomos habituados.
Portugal é um dos principais destinos turísticos europeus. Os turistas escolhem o nosso país, elogiando o clima, a gastronomia, e também a segurança e baixa criminalidade. Mas será que as nossas qualidades também conseguem competir e fazer face a uma pandemia? O país procura ganhar esse mote, garantindo que vai receber emigrantes e turistas com todas as medidas necessárias. A nova campanha do Turismo de Portugal, #TuPodes, corresponde ao desafio. Mas infelizmente, a crise provocada pela Covid-19 não depende apenas das acções e medidas tomadas pela vontade política. O turismo de amanhã vai exigir a mudança de todos. De todos.
Muitos restaurantes e hotéis regressaram com novas regras e atenção redobrada, mas apesar dos cortinados ajeitados, das persianas puxadas e das janelas já entreabertas para que “o ar puro entre”, o balão de oxigénio não chega a todos e afecta o estado de saúde do turismo em geral. Está mais claro do que nunca que a indústria do turismo não tem capacidade de resposta perante situações adversas e será preciso repensar o sector para desenvolver um futuro mais tecnológico, mais sustentável e mais seguro. Temos que aproveitar esta oportunidade para repensar a colaboração entre os diferentes actores do turismo: produtores, distribuidores, consumidores, agências de protecção ambiental, etc., procurando integrar um modelo de economia circular no sector.
A sustentabilidade é, e será, a palavra-chave para compreender o turismo de amanhã. A conservação da biodiversidade, o respeito pela autenticidade sociocultural das comunidades, a garantia do bem-estar social e segurança económica dos países acolhedores com o uso sustentável dos recursos ambientais precisam de fazer parte dos pilares do novo modelo de turismo.
Com os recursos tecnológicos, o advento das milhas, as aplicações de viagens e outras ferramentas da indústria, viajar pelo mundo tornou-se acessível para carteiras de vários tamanhos. Mas o reverso da moeda é o igual aumento dos impactos negativos da actividade no planeta. A transição para um turismo sustentável, em termos de recursos e com baixo carbono é necessária, mantendo um forte foco na competitividade do sector.
Hoje a dificuldade está em aliar a reflexão sobre um turismo sustentável com a crua realidade. A indústria do turismo precisa urgentemente de liquidez. Qual será o empresário que irá investir na direção do suspenso green deal europeu? Que governo dirá não a um turismo de massas? Que empresa de bandeira investirá, quando depende de dinheiro público para sobreviver e pagar salários? Por cá, já temos o exemplo recente da TAP.
Da Europa surgem algumas respostas interessantes. Esta semana um Emmanuel Macron assertivo falou do “momento da verdade” e nos apoios às grandes empresas impôs como condição o investimento na sustentabilidade e no verde. A Comissão Europeia lançou agora uma nova plataforma, Re-Open EU, com o intuito de facultar aos Europeus as informações necessárias para planear com toda a confiança as suas viagens e férias, mas sobretudo com o objectivo de promover turismo interno. Viaje cá dentro.
Existem ainda muitas dúvidas sobre o futuro do turismo pós-Covid-19. Mas é certo que se a União Europeia quer continuar a estar na vanguarda verde e sustentável, terá de resistir à tentação de alterar o rumo.