À hora em que começo este texto, a minha filha mais velha (5A) deve estar a deleitar-se com os cozinhados da Lili, que ela adora – sejam almôndegas com esparguete (o campeão dos pratos), jardineira (pejada de ervilhas e cenouras), ou mesmo peixe cozido – para minha alegria e júbilo, que levei três anos a alimentá-la a leite com Cerelac, a ver se aumentava um mísero quilo…!

Pela minha parte, confesso, não podia estar mais aliviada com a abertura do pré-escolar. Não estando a trabalhar a partir de casa, não deixaram de ser cinco semanas muito duras, acumulando o acompanhamento das aulas à distância, com o trabalho propriamente dito, mais as restantes tarefas que esperam a maioria das pessoas com miúdos – banhos, jantares, brincadeira, cama.

Mas ninguém merece tanto o ouro como a Adila. “Nobre” (o significado do seu nome) não chega nem aos calcanhares do que esta educadora fez pelas duas turmas de que esteve encarregue na última quarentena, que decretou o fecho de todas as escolas, do berçário às universidades. Imaginam-se a captar a atenção de 40 crianças de 5/6 anos, durante seis horas por dia? Eu não.

E nem venham com simplicismos, do género “já para isso é que estudou esta profissão”. Não. Da mesma forma que uma pandemia deste tipo era imprevisível, supor que é “fácil”, não só acumular duas turmas de miúdos/as, como também mantê-los interessados enquanto aprendem números, letras, cores, padrões e por aí adiante, é desmerecer estas pessoas.

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A Adila, em particular, foi a maior. Só lhe conhecia vagamente o nome, uma vez que substituiu a educadora da minha filha quando aquela teve Covid. Para além de um profissionalismo irrepreensível permanente, a Adila conseguiu manter-se impávida e serena quando, logo no primeiro dia, uma mãe lhe resolve pedir contas do «absurdo» que aulas remotas eram, interrompendo-lhe a sessão.

Com meninos/as de várias nacionalidades para ensinar, alguns/mas com pais/mães/avós que não falam português, a paciência da Adila foi imensa, não descansando enquanto todos/as não estavam em pé de igualdade, o que implicou repetir ad nauseam os exercícios para quem tinha faltado – a maioria, por incompatibilidade dos adultos entre a telescola e o teletrabalho.

Só a meio das últimas cinco semanas, a partir de um detalhe muito subtil, me apercebi de que a Adila também tinha um filho pequeno, por coincidência, da idade do meu (2A). O que só me fez admirá-la mais ainda, já que nunca, nem uma única vez, se ouviu um pio da criança, um suspiro de impaciência da mãe por não poder estar com ela, nada.

Em suma: Obrigada Adila, e a todos/as estes/as profissionais da Educação que trabalham diariamente, e em condições (ainda mais) adversas, por uma escola com as diferenças mais esbatidas, em que todas as crianças possam ser iguais.