As negociações em torno do Orçamento de Estado para 2025 transformaram-se num longo e complexo enredo por inabilidade – ou falta de vontade política – do primeiro-ministro e do seu Governo. Se é verdade que a comunicação decorreu formalmente entre Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos e as respetivas equipas, o mesmo não se pode dizer do diálogo. Desde o tom inicial, da redutora centralidade do cálculo, do xadrez político, até à discussão da substância, o primeiro-ministro procurou mostrar que cedeu muito, sem cabalmente ter cedido. E com isso tenta convencer os portugueses de que quer um Orçamento aprovado na Assembleia da República.
Ora, uma negociação só é boa quando o é para ambas as partes. No caso concreto, o Orçamento nacional não tem de ser bom para o Governo e para a oposição. Tem de ser, sobretudo, bom para os portugueses e para Portugal. E não é. Por isso, existe uma divergência de fundo relativamente às prioridades políticas. Naturalmente que este desencontro que o Governo da Aliança Democrática insiste em prolongar tem uma base ideológica que nos divide e, simultaneamente, falha na humildade política que se exige a um Governo minoritário.
A responsabilidade pela apresentação de uma proposta é do Governo, como é também a exploração de todas as hipóteses de viabilização dessa mesma proposta. Se o primeiro-ministro diz não ao Chega e não quer dizer sim ao PS, está a escolher o seu caminho. A consequência é óbvia e já foi adiantada pelo Presidente da República: a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições legislativas.
A comunicação política presidencial é clara e responsabiliza tanto a oposição quanto o Governo. O mesmo Governo que aprovou a proposta de Orçamento de Estado para 2025, sem concluir o diálogo iniciado com o Partido Socialista. Aliás, é aquando desta iniciativa do Conselho de Ministros que essa negociação é abandonada. O primeiro-ministro escolheu o caminho mais fácil, demonstrando que não tinha, nem tem, verdadeiro interesse em negociar. Prometeu uma contraproposta irrecusável para recusar, de seguida, a contraproposta do PS.
Este Governo nunca teve um Orçamento de Estado seu e na primeira grande prova de legitimidade e de concretização programática falhou por opção. Nunca é demais lembrar que o atual primeiro-ministro e o seu executivo ainda governam com o Orçamento de Estado “pipi”, herança de António Costa. Montenegro é primeiro-ministro social-democrata à sombra de um orçamento apresentado e aprovado pelo PS.
Agora, que o Governo nos quer empurrar para uma crise política totalmente dispensável, percebemos que quanto melhor for a proposta de Orçamento de Estado para o Governo, pior será para os portugueses. Quanto mais Luís Montenegro se agarra à retórica partidária, para plantar as narrativas eleitoralistas de quem pensa que pode ganhar força indo a eleições, mais se afasta do essencial: as pessoas e as suas vidas, que estão cansadas de jogos de tática ou de aritmética políticas.