A presença de uma “preocupação” para com as gerações futuras tem vindo a aumentar  substancialmente na mentalidade dos governantes. Tem-se procurado a aplicação de  medidas com o intuito de assegurar aos jovens a melhor qualidade de vida possível. As  políticas tentam combater a elevada taxa de emigração compreendida nas idades entre 18  e 25 anos, e esse é um problema sério que afeta o nosso país.

Contudo, a verdade é que as políticas apareceram tarde. A geração “mais qualificada de  sempre” dificilmente permanece em Portugal. Existem até adolescentes que iniciaram o  ensino secundário há relativamente pouco tempo e já planearam toda a sua vida com o  objetivo de iniciar a sua fase de estudante universitário ou trabalhador “além-fronteiras”.  Há estudos que demonstram que metade dos jovens com menos de 25 anos revela vontade  de emigrar.

Certamente que há responsáveis perante uma situação tão catastrófica, são eles as  gerações de 70 a 80. Para situar a ação no tempo, os verdadeiros responsáveis têm, hoje,  idades compreendidas algures entre os 40 e os 50 anos. São mais do que uma simples geração, mas para efeitos práticos serão tratadas de modo unitário.

Há que analisar o passado destas pessoas. A adolescência é uma idade essencial, é aqui  que se fazem as escolhas que podem ditar o rumo de uma vida, decisões que certamente  irão influenciar entre uma passagem mais ou menos feliz, mais ou menos saudável, de  sucesso ou insucesso, enfim, é aqui que o ser humano começa a assumir consciência dos  seus atos. Não há dúvida que eram tempos diferentes, mas foi na fase da adolescência que  esta geração traçou o seu destino que, infelizmente, nos trouxe a uma sociedade frágil e  exposta. Através da matemática facilmente nos apercebemos que esta geração ultrapassou  a idade das decisões, responsabilidades e consciência num ambiente pouco propício para  a correta vivência da mesma, falo do período compreendido entre a década de 90 e os  anos 2000.

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Foi justamente nesta época que que se dá o boom do consumo de droga em Portugal. Não  é preciso recuar muito no tempo nem nos afastarmos da capital portuguesa para termos  conhecimento dos terríveis acontecimentos vividos e criados por esta geração. Foi perto  do bairro de Campo de Ourique que se fundou o “hipermercado da droga”, antigo e  famoso — atualmente apagado do mapa — “Casal Ventoso”. Era neste local onde passava  todo o tráfico de droga e prostituição da grande Lisboa. O fenómeno foi vivido por duas  razões: falta de informação perante o consumo de estupefacientes e o facílimo acesso à droga. Quantas pessoas desta geração conhecem alguém que perdeu completamente o  rumo da sua vida nesta época? Praticamente todas.

Os tempos de grande “felicidade” permitiram que a antiga geração futura estivesse  destinada ao fracasso ainda antes de assumir o mundo das derradeiras decisões. A  sociedade tinha um destino amargo, no fim de contas os tempos fáceis deixados por  “Homens fortes” — Homens estes que ultrapassaram tempos de guerra, como as Guerras  da Independência das províncias Ultramarinas — permitiram a que esta geração fosse  responsável pela construção de uma sociedade frágil e vulnerável a todos os perigos que  têm vindo a consumir a mesma.

A verdade é que esta geração viveu constantemente em batalhas que ela própria criou ou,  pelo menos, participou. Após os tempos loucos da droga viveu-se a Grande Recessão de  2007 a 2008 que afeta crucialmente Portugal nos anos compreendidos entre 2010 e 2013; a solicitação do terceiro pedido da intervenção do FMI e da Troika, que se manteve até 2014. Mais tarde, ainda em recuperação, em março de 2020 sofremos com a pandemia da  Covid-19. Todas estas crises que foram vividas têm enormes consequências na vida dos  jovens, veja-se por exemplo, a enorme dificuldade de um indivíduo de 25 anos na compra  da primeira casa. Todas crises deixam marcas negativas no presente e no futuro.

As autoridades políticas têm tido dificuldades em entender que uma sociedade tem,  necessariamente, de ser construída tanto para o presente como para o futuro. É uma  interpretação a contrario do impacto negativo das crises, vejamos, se há uma boa  preparação no presente, existirão boas condições no futuro. É na organização para os  tempos que se avizinham que se consegue planear devidamente as decisões que terão de  vir a ser tomadas.

É necessária uma preocupação para com a futura geração porque é esta que trabalhará e  sustentará a economia nos próximos tempos. Por outro lado, não é essencial uma especial  atenção para com uma geração que compreenda pessoas entre os 40 e os 50 anos porque,  mesmo sendo parte integrante da população ativa, certamente que não irão abandonar o  seu estilo de vida, conforto e estabilidade para procurarem uma “nova vida” nos países  que a poderiam oferecer, isso é papel dos jovens. Mas é fundamental compreender que  com a devida preparação e implementação de medidas com os olhos postos no futuro, que  a nossa sociedade se possa tornar a “desejável”, porém é algo que leva tempo e pessoas  capazes na governação do nosso país.

Dentro de quem compõe a geração mencionada, há quem procure resolver os problemas  que permanecem do seu tempo, os que surgem no paradigma atual e, por fim, tentam  preparar a sociedade para as gerações futuras. Mas não têm conseguido obter muito  sucesso, infelizmente. A verdade é que foram deixadas muitas falhas ao longo dos anos e  há erros que nos perseguem há muito tempo e têm carácter mais urgente do que os  problemas que se avizinham, este é o pensamento de um português. Há muitas questões  a serem resolvidas e o planeamento do futuro é, infelizmente, a última preocupação.