Há um slogan de David Bowie que se tornou célebre nos finais dos anos 70, aquando do lançamento do álbum Heroes: “Tomorrow belongs to those who can hear it coming.

Considerado um dos grandes ícones da cultura pop, com um génio criativo peculiar, intuía como poucos o futuro. Percebia a importância de “ouvir” o que aí vinha, o que explica a sua constante reinvenção. Ditou tendências e deixou a sua marca não só na música, como na moda, nos estilos de vida, na expressão cultural.

Muito cedo percebeu as mudanças que ocorreriam na indústria da música e na relação artista-público com a chegada da internet. Assim, também hoje, nesta era do silício onde os dados são considerados o petróleo do século XXI, será necessário saber “ouvir” o que aí vem. É aqui que as indústrias criativas podem ser os “gamechangers”. Ser criativo é olhar para onde todos olham e ver o que poucos veem.

As novas tecnologias nem sempre vêm acompanhadas com um grande índice criativo. Por exemplo, os irmãos Lumiére, que inventaram a câmara de filmar, não conseguiam ver o potencial da ideia. Quando Georges Méliès os abordou para a compra de uma câmara de filmar, chegaram mesmo a dizer-lhe que o cinema era uma invenção sem futuro. Ou até mesmo Gutenberg, que revolucionou a forma de produzir e imprimir livros, não percebeu o total alcance da sua invenção e acabou por imprimir apenas um livro, a Bíblia.

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Um dos fundadores da Pixar, Ed Catmull, no seu livro Creativity, dizia que apesar das inúmeras inovações tecnológicas que tornaram possível a primeira longa metragem animada por computador – Toy Story – tinha uma preocupação constante: a de que os meios não esmagassem o fim, ou seja, que a tecnologia não impedisse o verdadeiro objetivo que era o de contar uma boa história; que não matassem a IDEIA.

A revolução digital pode ser encarada nos dias de hoje como uma grande oportunidade para a indústria criativa nacional, como os “Novos Descobrimentos”, onde não há fronteiras digitais e onde se podem conquistar mercados de todo o mundo sem sair deste retângulo à beira do Atlântico. Portugal tem já provas dadas nestes domínios. E tem, também, um futuro promissor através de uma nova geração de criativos premiados internacionalmente, com boas competências digitais, com muita vontade de trabalhar para além das fronteiras e que acreditam na sua “capacidade de audição”. Prova disso são os novos projetos que estão a nascer em plena pandemia.

Por tudo isto, é de acreditar que, num tempo em que ocorrem tantas mudanças em tão curto espaço de tempo, a comunidade criativa por inerência das suas competências é a que melhor se posiciona para ajudar as marcas a serem donas do seu amanhã.

Este texto insere-se numa série de artigos de opinião publicados no âmbito das iniciativas organizadas pela MOP, representante oficial do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, um dos festivais mais prestigiados pela indústria criativa em comunicação. Cada texto apresenta a visão de vários profissionais do setor, de tendências e perspetivas de futuro.