Num inquérito de 2020 desenvolvido pela fundação Calouste Gulbenkian, constatou-se que os jovens entre os 15 e os 24 anos participam mais na dimensão cívica, isto é, em atividades com impactos sociais, cívicos ou políticos. Porém, na dimensão convencional verificou-se um declínio da sua envolvência, como a ida a comícios políticos. Atualmente, os jovens manifestam-se mais, preferem organizações horizontais, menos hierarquizadas, focada em causas específicas, meios menos convencionais. Querem fazer parte da construção de petições, são ativistas, querem ter voz e envolver-se em manifestações em massa, uma vez que representam o palco perfeito para puderem “gritar” bem alto as suas dificuldades, as suas soluções, um megafone de ideias. Um veículo através do qual, as suas reivindicações são ouvidas pelos partidos políticos. As redes sociais são igualmente fóruns de debates e exposição de ideias, como por exemplo o twitter. Nestes meios digitais, podem falar diretamente com os políticos e partidos, podem manifestar-se, o que facilita o contato entre eleitos e eleitores, principalmente entre mais jovens.

É fundamental credibilizar a classe política, combater a corrupção e plantar, em todas as ações, transparência. No âmbito dos conselhos municipais de juventude, os mesmos deveriam, todos, possuir autonomia financeira e gestão orçamental própria ou conjunta, direcionada ao desenho de políticas públicas para o respetivo concelho. Todos os municípios e freguesias do país, devem possuir um orçamento participativo jovem.

Os partidos políticos têm de ter vontade de reformar o país, aumentar a representatividade dos jovens nos lugares de decisão, cimeiros, integrando-os em governos, Presidência da República, Assembleia da República, autarquias locais, parlamento europeu. A idade não pode ser uma condicionante, a falta de competência, sim. Temos de valorizar o mérito, temos de lutar pelas causas dos jovens, como o acesso à habitação, ao trabalho justo, ao combate às alterações climáticas, à igualdade de género, à propina zero no ensino superior público. Os jovens têm de ser verdadeiros protagonistas da sua geração, temos de ter jovens a representar jovens. Estes, afastam-se porque sentem que as suas opiniões não são valorizadas. Estamos diante da geração mais qualificada de sempre, a geração com mais acesso à informação e conhecimento de sempre, o que falta mais? Vontade (interna)política.

Devemos criar quotas para jovens nas eleições legislativas, europeias e autárquicas como forma de os integrar na política, a par da sua mobilização. Todos devem ter a oportunidade de servir Portugal. Precisamos de estabelecer parcerias com os mais velhos, uma vez que uma equipa vencedora é aquela composta pela juventude e experiência, mas sem abertura é impossível esta sinergia positiva. São necessários jovens a fazer comentário político nas televisões, nos jornais, em podcasts, mas sempre com a premissa da rotatividade. Carecemos de criar nas escolas, uma disciplina sobre literacia política ou integrá-la na de cidadania, em que cada partido com assento parlamentar falaria sobre o seu programa político, a sua ideologia, o que defende. Assim, os jovens estariam mais preparados e com mais conhecimento de fundo sobre o sistema partidário português. Uma outra medida interessante, seria a criação de um estatuto de estudante-autarca, em que a finalidade seria a de o estudante ter os mesmos direitos que um trabalhador estudante, podendo participar e envolver-se mais no poder local, sem que as aulas, testes e estudo fossem prejudicados.

Os partidos políticos têm de falar mais para fora, com uma linguagem mais aberta, mais descomplicada. Os políticos têm de andar mais pelas ruas, ouvir o coração do povo e não esperar pelas eleições. Os jovens de todo o país poderiam criar um fórum apartidário de discussão de ideias, por forma a que no final fosse desenvolvido um pacote de medidas a ser integrado pelo governo eleito. É importante, também, afirmar que a política não se faz só nas juventudes partidárias ou nos partidos políticos. A sociedade civil conta e tem sempre de contar. Política é a arte de querer contribuir para a construção da Polis. Considero ainda que o voto deveria ser alargado para os 16 anos em todas as eleições do país, como forma de combater a abstenção, visto que os partidos seriam compelidos a defender de forma materializada e comprometida as causas e dificuldades dos mais jovens, “descendo à terra”. Se há maturidade para casar aos 16 anos, se já podem ser imputados por crimes, se já podem trabalhar, por que é que não podem votar?

As organizações partidárias, devem pugnar pela liberdade plena de incluir o pluralismo, o debate democrático, não ostracizando silenciosamente os “divergentes”. O pensamento próprio e crítico é a pedra angular da participação cívica, e é na diferença que construímos soluções mais reforçadas.

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