O interior de Portugal tem sofrido um êxodo muito significativo de jovens face à falta de oportunidades laborais e académicas. Num estudo desenvolvido pela plataforma Gerador foi revelado que aproximadamente 60% dos jovens entre os 15 e os 24 anos têm a intenção de se mudar para o litoral por motivos relacionados com as oportunidades ao nível da educação, mas também pelo emprego. O interior representa de forma aproximada 70% de Portugal e atualmente tem menos de 30% das pessoas. Existem concelhos do interior do país a perder 30% dos jovens, mas afinal qual será o sintoma do interior para a juventude?

Após uma leitura refletida dos dados recolhidos, podemos concluir que o interior tem sofrido uma enorme desertificação jovem, o que invariavelmente descapitaliza estes territórios, ao nível da fixação das novas gerações nas suas terras natais. Nenhum jovem deveria ser “obrigado” a ir estudar para as grandes metrópoles do país por não encontrar os cursos que pretende no interior. O Estado tem de ser capaz de criar estímulos e parcerias com as instituições públicas e privadas no sentido de abrirem o leque para todos os cursos universitários no interior também e instituições que facultem tais perspectivas. A escolha dos jovens não pode assentar entre ir para o litoral para seguirem os seus cursos de sonho ou desistirem das suas ambições académicas.

O Estado tem igualmente de ser capaz de criar mais incentivos fiscais para fixar empresas (por exemplo: multinacionais) e para as pessoas que trabalhem no interior, nomeadamente ao nível do IRC e IRS. Uma medida interessante seria a isenção de IRS no primeiro ano para todos os trabalhadores que adquiram uma casa no interior ou arrendem e por lá decidam viver, assim como, existência de um valor menor de imposto de selo e IMT a pagar sobre o imóvel localizado no interior, bem como, ao invés de terem de dar uma entrada de 10% para crédito, dar apenas 5%. Uma outra medida interessante, seria a isenção de IRC nos primeiros dois anos (exemplo) para jovens empreendedores que estabelecessem as suas empresas no interior.

Há muitas formas de conseguir capitalizar o interior, todavia, requer-se muita vontade, imaginação ao nível de políticas públicas “out of the box” e a auscultação de todos os interessados. Poderia ser fixado um salário mínimo do interior no valor de 900 euros ou criando-se um 15º salário para os trabalhadores do interior. Não obstante, para que exista uma verdadeira coesão territorial é fundamental a existência de mobilidade (igualmente verde e 100% limpa) que conecte todas as regiões do interior do país e simultaneamente com o litoral, aumentando a oferta de transportes públicos consideravelmente, não deixando nenhuma freguesia/comunidade de fora. Ora, é igualmente capital a existência de um TGV inter-regiões com a premissa de ligação do interior ao litoral do país num curto espaço de tempo, permitindo, por exemplo, que as pessoas que escolhessem as metrópoles para trabalhar, conseguissem chegar à hora de jantar às suas casas.

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Uma outra medida que considero relevante seria a criação do Passe ZERO, consistindo num passe para jovens (até aos 35 anos) em que os mesmos estariam isentos de pagamento em todos os transportes públicos do país, podendo viajar livremente por onde a sua vontade e espírito decidissem, contribuindo assim, para a verdadeira possibilidade de conhecerem todo o nosso Portugal sem custos, passando assim para os mais jovens a cultura e o conhecimento de todas as terras do nosso vasto país.

Porquanto considero importantíssimos todos os apoios já criados para fixação de jovens no interior. como o programa “Emprego Interior Mais (IEFP)”. Porém, é fundamental mais rapidez na atribuição dos apoios e na majoração dos mesmos. As autarquias do interior devem todas fornecer um apoio complementar para atração de jovens, por exemplo a isenção de IMI, bem como a isenção das taxas de licenciamento para a construção de habitação. Conquanto, não podemos esquecer que sem serviços públicos de saúde robustos, rápidos, capitalizados de recursos humanos e financeiros, será muito difícil atrair jovens e auxiliar os mais velhos.

Sem interior não há futuro em Portugal, ajudemos o interior a reerguer-se e a ser novamente interessante para a fixação de novas famílias jovens e assim, assegurar que o interior efetivamente conta com as novas gerações.