Sabem aquela sensação de impotência quando queremos ajudar quem precisa de cuidados médicos urgentes? Sabem aquela sensação de conforto ao sermos auxiliados rapidamente por uma equipa de médicos do INEM? Uma equipa que presta os primeiros socorros e nos acompanha até uma urgência hospitalar, onde uma vasta equipa de profissionais competentes continua a assistência com toda a prontidão, para fazer tudo o que é possível fazer-se para cuidar de todos os que lá chegam. Podem não saber, mas não é com certeza preciso passarmos por situações destas para termos sensibilidade e empatia por quem diariamente tem como profissão cuidar dos outros.

Sobretudo nos momentos de aflição, encontrarmos um serviço de saúde que oferece assistência permanente e incondicional a todos o que dele precisam, é um orgulho e um conforto que se sente bem forte no peito. Mesmo com todas as imperfeições e problemas, que sabemos existir no nosso Serviço Nacional de Saúde. É também, verdadeiramente, uma satisfação sentir que o dinheiro que pagamos em impostos, é muito bem gasto, quando é gasto num serviço público que cuida de quem mais precisa.

Esta minha apreciação pelo Serviço Nacional de Saúde em nada está relacionada com qualquer perspetiva política. E não implica, aliás, uma oposição a hospitais privados e demais serviços privados de saúde. Tive o prazer de viver na Finlândia, durante seis anos, e experienciar como um serviço público de saúde de excelência coexiste com um serviço privado, também de alta qualidade. Contudo, não foi preciso descapitalizar e enfraquecer o serviço público, para justificar e apoiar a iniciativa privada. Na Finlândia, o financiamento público de um serviço de saúde está para além de perspetivas ideológicas de esquerda ou direita. O Serviço Nacional de Saúde é visto como algo estruturante para a sociedade e para o progresso do país.

É o Serviço Nacional de Saúde um serviço de excelência? Não sei responder de uma forma absoluta. É, com certeza, um serviço de excelência quando o comparamos com a realidade de alguns países… como os Estados Unidos da América, onde também tive o prazer de viver algum tempo. O que sei é que o Serviço Nacional de Saúde tem profissionais de excelência. Desde médicos e enfermeiros, passando pelo pessoal auxiliar, até ao pessoal administrativo e todos os que de alguma forma contribuem para que o serviço funcione.

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Como sei isto? Em parte, pela minha experiência. Eu e os meus familiares sempre fomos muito bem tratados em unidades de saúde como o Hospital Pedro Hispano e o Hospital de S. João, entre outras. E não, as minhas experiências não foram sempre boas ou perfeitas. Basta entrar na urgência do hospital de Guimarães ou Faro, por exemplo, para que a experiência comece a ser terrível. Tenho dificuldade em descrever o quão mau é o espaço físico e as condições de trabalho nestas urgências, e em muitas outras pelo País.

Mas é precisamente pelas condições serem, por vezes, péssimas que fica claro que o que vai mantendo o Serviço Nacional de Saúde a dar resposta e a cumprir a sua missão, são os profissionais que lá trabalham. É sobretudo por isto que sei que estes profissionais são, genericamente, de excelência. Apesar de todas as cativações, problemas estruturais, e toda uma série de limitações materiais e de todo o género, os profissionais da saúde continuam a manter o sistema a funcionar de uma forma que, diria, chega a ser heroica.

Mas serão então todos os profissionais de saúde sempre competentes, zelosos e inexcedíveis no exercício das suas funções? Com certeza que não. Existe algum sector, em algum país, onde só exista perfeição? Não me parece. O que não podemos é tomar a parte pelo todo. Um médico ou enfermeiro que falhe ou que eventualmente seja mesmo pouco profissional ou incompetente, não é, felizmente, representativo de todo o Serviço Nacional de Saúde. A esmagadora maioria dos profissionais da área da saúde trabalham, todos os dias, de forma competente e empenhada.

Recentemente, tornou-se pública uma conversa entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, onde este último expressava as suas limitações de agenda devido à intenção de participar na Web Summit. Acho, sinceramente, esta uma ótima intenção. E achei ótimo, na recente campanha eleitoral, ver o Sr. Primeiro Ministro e tantos outros políticos visitarem serviços públicos, por esse país fora. Só tenho é a lamentar que essas visitas tenham acabado, mal terminou a campanha eleitoral.

Gostava de ver o Sr. Primeiro Ministro a visitar, a meio da noite por exemplo, um qualquer hospital público. Seria fantástico vê-lo genuinamente interessado no trabalho, na dedicação e no esforço dos profissionais que lá pode encontrar 24 horas por dia. Com a frequente falta de boas condições de trabalho e limitações de todo o género, as comuns longas horas de serviço e o desafio de ter de lidar diariamente com os problemas e, muitas vezes o sofrimento, dos que servem, estes profissionais merecem todo o respeito e admiração. Muito mais do que a glorificação de qualquer empreendedor da Web Summit ou de um jogador de futebol, a minha verdadeira admiração vai para os médicos, enfermeiros e todo o pessoal auxiliar do nosso Serviço Nacional de Saúde. Era fantástico que os valorizássemos sempre, e não apenas quando estamos em campanha eleitoral ou quando acontece uma tragédia.