Provavelmente de ascendência paquistanesa, faz cerca de um século que o meu avô materno islâmico, Omar Mitha (o acento no «á» foi oferta à descendência pelo poder colonial português), saiu da sua terra natal, Jamnagar no estado Gujarate do extremo oeste da Índia caracterizado pela forte emigração, para se fixar em Moçambique, na povoação do Fingoè, na província de Tete. Aí nasceu a minha mãe, a mais velha da geração islâmica moçambicana (há outra indiana), mais duas irmãs e um irmão.

Não conheci o meu avô, apenas chegaram-me memórias de um comerciante que terá sido pessoa de trato fácil, afável, pertencente à minoria islâmica na sua terra de origem, a Índia, o que dificultava a vida num contexto de uma esmagadora maioria hindu.

Até porque é a esse lado islâmico da família ao qual mais devo comparativamente ao lado católico do meu pai, por sinal filho de um sírio cristão (ainda há disso?!) e uma negra moçambicana, a guerra em curso entre Israel e o Hamas palestiniano acendeu uma luz nada simpática no lado escuro das minhas gratas memórias islâmicas de infância e adolescência moçambicanas.

Os islâmicos já andavam desavindos dos hindus na Índia, dos budistas na China, dos cristãos na idade média (entre os séculos VIII e XV), desavença retomada na atualidade (séculos XX-XXI), período em que não se esqueceram de investir numa guerra inédita contra os judeus após a fundação do Estado de Israel (1948).

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Fica para mim cristalino que o problema do Islão não está apenas em Israel ou no Ocidente, está por todo o mundo de onde a violência endémica islâmica nunca sai, permanecendo em hibernação à espreita de um qualquer pretexto para retomar a guerra, num ciclo interminável desde a origem, no século VII. É sobre esse barril de pólvora que a Europa prepara para se sentar nas gerações e séculos que se seguem ao acolher a imigração islâmica.

Freud explica. Está em causa um sujeito religioso coletivo que sofre da patologia do descontrolo endémico do instinto primário, entre o recalcamento malsucedido do mau instinto e a explosão da violência, característica identitária que uma religião tem de abandonar obrigatoriamente para sair do estádio primário, pré-civilizado ou violento e poder coexistir pacificamente com outras religiões. Entre as grandes religiões do mundo, apenas o Islão continua dominado por tal impulso de violência e guerra, para mais sem revelar capacidade de ultrapassar esse estádio existencial, a fase totémica ancestral da instituição de um culto em que o sacrifício violento é sacralizado, como referem os antropólogos. Só que isso deixou de ser tolerável a partir do momento em que a guerra foi substituída pela paz enquanto forma habitual de relação entre povos e, mais ainda, entre religiões.

Se o ideal de civilização é hoje o de vencer a violência e a guerra, se tais manifestações se devem tornar interditos absolutos nas relações humanas, existe uma resposta que o sistema internacional não pode insistir em adiar: todas as demais religiões devem impor tolerância zero em relação ao Islão onde quer que este possa instigar sementes de violência a partir de rituais e discursos religiosos. Essa é a pior antecâmara de todas as formas de violência social, identitária, bélica. É para isso que deveria existir a Organização das Nações Unidas (ONU) e contar, inclusive, com o contributo da parte do mundo islâmico que ambicione, de facto, integrar-se no consenso civilizacional da paz.

No sistema internacional, no século XXI não existem sementes de conflitos religiosos entre cristãos e judeus (nem sequer o nazismo foi uma causa religiosa, pelo contrário foi a rotura com a tradição cristã alemã!), nem entre aqueles e budistas ou hindus, nem os últimos entre si. A maturidade civilizacional de todas essas religiões levou a que limpassem dos seus cultos e práticas sociais que alimentam todas e quaisquer sementes culturais, identitárias, sociais de violência. Pode haver violência e guerra por inúmeras causas, mas quando no seu coração está a religião elas não se resolvem, persistem endémicas.

O mundo confronta-se, por isso, com um dever civilizacional simples: não tolerar toda e qualquer associação, direta ou mediada, entre uma dada prática religiosa e a violência ou a guerra. Tirando os cultos ancestrais, apenas a religião islâmica insiste em alimentar essa associação de forma manifesta ou, bem pior, latente, aquela que no futuro fará reemergir a violência religiosa, mesmo após ciclos de aparente tranquilidade.

Mas nem é necessário viajarmos ao futuro: quantas dezenas de cristãos são hoje assassinados todos os dias por todo o mundo apenas por causa da sua fé? Estamos no século XXI, não no início do cristianismo!

O mundo tem de dar a devida resposta ao Islão e não aceitar, de forma institucionalmente explícita, essa sua característica.

Ninguém deseja, pode ou deve minimizar o Islão, por isso mesmo deve cumprir o dever de fazer secar todas e quaisquer as sementes de violência instigadas por essa religião. Caso contrário, será impossível não admitir a legitimidade das guerras contra os que invocam a religião islâmica em qualquer canto do planeta. Não será uma guerra santa. O Estado de Israel não combate numa guerra santa, ao contrário dos seus inimigos. É uma guerra tão-só contra a pior semente humana da violência e guerra, a alimentada pela fé religiosa.

Felizmente que a mãe de todas as religiões monoteístas, a religião judaica israelita, finalmente deixou de estar disponível para fazer de cordeiro sacrificado para que outras religiões testem o radicalismo violento da sua fé para, depois, procurarem remorsos a ver se se civilizam, se se tornam sujeitos morais.

Quem tem uma relação afetiva para sempre com Islão herdado da sua mãe, e considerando o que a mesma significa para o nosso equilíbrio existencial, como eu, custa dizer, mas infelizmente existem guerras que são mesmo necessárias e legítimas na busca da paz.

A esquerda nunca hesitou em defendê-las e impor, sem cedências ou quaisquer condições, que um dos lados baixasse as armas. Foi isso que exigiu, por exemplo, ao nazismo, às ditaduras ou à colonização europeia e suas sequelas. É preciso impor a quem está no campo das sementes da violência que baixe as armas sem exigências, o princípio da construção da paz.

É por isso que hoje, à esquerda, só resta exigir aos radicais islâmicos palestinianos que baixem as armas e a paz chegará, coisa que a esquerda «pacifista» nunca se lembrou nos últimos 75 anos! Mas é também por isso que hoje quem quer a paz tem de dizer: Viva Israel Sempre!