O tema dos salários dos políticos veio à baila neste Orçamento de Estado, devido à proposta de descongelamento que foi aprovada e mereceu um repúdio populista do Chega. É óbvio que a discussão de qualquer aumento dos salários dos políticos é sempre controverso e o caminho mais fácil será sempre optar pelo populismo, sendo contra qualquer aumento.
É certo que o nível salarial dos Portugueses é baixo, tal como também é certo que ainda não foram descongelados os salários de várias classes profissionais, mas a opção populista de ser-se contra o aumento dos salários dos políticos, apesar de simpática perante a opinião pública, não é intelectualmente séria.
Em vez de repudiarem o aumento salarial da classe política, talvez fosse mais útil repudiarem os baixos salários que são pagos em Portugal, de outra forma, parece estarmos condenados ao nivelamento por baixo.
Se me perguntarem se os políticos ganham mal, tendo a afirmar que a maioria da classe política não merece ganhar metade do que ganha. Mas o cerne da questão também reside na questão salarial, entre outras. Se pretendemos uma melhoria da qualidade dos políticos, temos que aceitar uma alteração salarial.
Quem é o gestor, o académico, ou o profissional de sucesso que aceita ver a sua vida pessoal completamente exposta, abdicando de muito tempo para a sua família para auferir um vencimento muito menor do que tem na sua atividade profissional?
Deixemo-nos de hipocrisias, a mudança de paradigma no que diz respeito à melhoria da qualidade dos políticos, passa também por uma remuneração adequada à responsabilidade de cada função.
Da mesma forma que sou a favor do aumento dos salários dos políticos, também sou a favor da responsabilização dos políticos quando são responsáveis por gestão danosa da coisa pública e disso não ouço ninguém falar.
Salários medíocres servem a políticos medíocres, salvo poucas e honrosas exceções que dedicam um período da sua vida à causa pública, encarando como uma missão temporária de serviço público. Mas convenhamos que são raríssimos os casos em que a missão de servir a causa pública se sobrepõe a qualquer benefício financeiro.
Para além do que disse anteriormente, não é menos verdade que o nível salarial em vigor atrai carreiristas da política que não sabem fazer mais nada na vida e gente que procura poder para se servir, depois queixamo-nos dos níveis de corrupção vergonhosos com que nos deparamos no nosso País.
O Chega cavalga a onda populismo, no que a este tema diz respeito, mas se tiverem um pingo de coerência, nenhum político eleito pelo Chega deverá aceitar qualquer aumento salarial e isso resolve-se com facilidade, façam uma doação do excedente dos salários a instituições de solidariedade e a causas sociais. Não vale criticar e depois afiambrarem-se com os aumentos que tanto contestaram!
Os salários dos políticos são baixos para gente decente e competente, e elevados para a maioria dos protagonistas atuais, incompetentes e negligentes, para não dizer outra coisa.
Assim os salários da classe política fossem mais elevados e a sua qualidade proporcional ao que recebiam, seria bom sinal!
Aumentem os salários e o grau de exigência e responsabilidade de quem desempenha funções políticas, é disso que necessitamos em Portugal. Já agora, coloquem como tema primordial na agenda política, o baixo nível salarial que é praticado no nosso País de uma forma geral, porque a analogia à classe política também é válida para essa circunstância e nenhuma delas serve o verdadeiro interesse das empresas e do País.