O Sporting CP comprometeu-se a pagar 16,8 milhões de euros por 70% do passe de Paulinho (incluindo mecanismo de solidariedade), ficando o Braga SC ainda livre de pagar, aproximadamente, 2,8 milhões de euros em ordenados de Sporar e Borja. A avaliação de 24 milhões de euros de Paulinho estabelece um novo recorde em Portugal por uma transferência interna.
Mas o que representa, hoje, para o SC Braga 19,6 milhões de euros? De acordo com o Relatório e Contas de 2019/20, mais 1,1 milhões de euros do que gasta anualmente em ordenados.
Mais, o SC Braga paga mais em ordenados (18,5 milhões de euros) do que a sua receita operacional (16,1 milhões de euros). Daí, que para manter a qualidade do seu plantel e a competitividade desportiva, o SC Braga esteja absolutamente dependente de resultados positivos com transferências de jogadores na ordem dos 12,4 milhões de euros. Acresce a isto, o facto de nesta época não ter público presente no estádio, esperando-se um decréscimo das receitas de bilheteira e merchandising de 2,5 milhões de euros e uma desvalorização dos passes dos seus jogadores, em função da pandemia, na ordem dos 20% (de acordo com um estudo do CIES). Percebem-se as palavras de António Salvador: “Face às contingências dos tempos de incerteza que vivemos e aos valores envolvidos na transferência, seria um possível erro de gestão administrativa e desportiva impedir a realização do negócio.”
Contudo, a venda de Paulinho pode, também ela, vir a ser um erro de gestão administrativa e desportiva. Para o SC Braga consolidar-se (finalmente) como um grande em Portugal, tem de encurtar distâncias financeiras para o último dos três grandes (precisamente o Sporting CP). Em virtude do ranking da UEFA, Portugal poderá este ano apurar três clubes para a UEFA hampions League. Uma participação na prova poderá valer 30 milhões de euros ao Braga. Acresce o facto de Paulinho poder vir a estar presente por Portugal no Europeu, este ano, valorizando ainda mais o seu passe. Não poderia António Salvador aguardar uns meses mais, ou mesmo vender a outro clube que não o seu mais direto competidor no mais decisivo dos anos? Qual o preço a pagar, se os golos de Paulinho pelo Sporting CP, e não pelo SC Braga (acrescido à liderança de Rúben Amorim no Sporting CP e não no Braga), colocarem o primeiro dentro e o segundo fora da Champions?