Vivemos neste limbo em que dizemos constantemente aos jovens que eles são o futuro (o que sempre me soou a uma certa desresponsabilização da geração “dos adultos”) e, ao mesmo tempo, dizemos-lhes que não têm futuro – porque não se adaptam ao presente, que foi construido por outras gerações.
Deixa os jovens em terra de ninguém. Os jovens são o futuro, mas não têm lugar à mesa quando estamos a pensar, planear, e implementar soluções com que vão ter de ser eles a lidar. Dizemos que estão cada vez mais por dentro dos “temas políticos da actualidade”, das agendas, das propostas, mas abafamos as reivindicações e as vozes que surgem.
Usamos a palavra “jovem” para enaltecer quem – supostamente – tem uma opinião importante para a sociedade em que vivemos mas, ao mesmo tempo, usamos essa mesma palavra quando queremos descredibilizar uma opinião que não nos favorece.
A participação política dos jovens em Portugal tem sido uma questão debatida nos últimos anos. Enquanto alguns acreditam que os jovens não se interessam pela política, outros argumentam que a falta de oportunidades para a participação ativa é o principal obstáculo.
Perguntam-me, vezes sem conta, se eu acho que os jovens estão com pouca participação política, se são apáticos, se eu considero que não querem saber. A resposta é sempre a mesma e, ainda assim, teimam em fazer mais um estudo, mais uma reportagem, mais uma rubrica para se chegar à mesma conclusão: os jovens querem saber (provavelmente até mais envolvidos politicamente que algumas gerações anteriores), mas não se identificam com a forma “tradicional” de fazer política.
A falta de representação política, a falta de informação sobre as opções políticas disponíveis e a falta de acesso aos processos políticos têm sido apontadas como as principais barreiras à participação.
A verdade é que os jovens portugueses têm demonstrado cada vez mais interesse em questões políticas. O aumento da participação nas manifestações e greves estudantis, bem como o aumento do envolvimento em organizações da sociedade civil, são exemplos disso.
De acordo com o estudo Participação Cívica dos Jovens em Portugal, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, a participação política dos jovens portugueses tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, especialmente nas manifestações e greves estudantis.
No entanto, o mesmo estudo também apontou que a participação dos jovens na política institucional, ou seja, a participação em partidos políticos, sindicatos ou associações de estudantes, é ainda bastante baixa em comparação com outros países europeus.
Segundo os dados deste estudo, apenas 6,9% dos jovens portugueses participam em partidos políticos, enquanto que a média europeia é de 14,7%.
Mas os jovens querem saber.
Nos últimos anos, enquanto desenhava o HUMAN, uma plataforma considerada a “Netflix do ativismo”, que pretende mobilizar e capacitar uma nova geração de ativistas, fui-me apercebendo que os jovens querem liderar o caminho da mudança.
Internacionalmente, desde a “Sunrise Movement” ao “March For Our Lives”, a Geração Z questionou os responsáveis sobre a crise climática, defendeu com sucesso a legislação de controlo de armas e impressionou o mundo com a forma como usam as redes sociais para ampliarem a sua mensagem.
A “March For Our Lives”, que atraiu uma multidão estimada em mais de 200 mil, serve como prova de que o ativismo da Geração Z não se restringe a um ecrã – eles aparecem quando lhes é importante e provam que os críticos estão errados.
Temos assistido ao mesmo em Portugal. Logo no início deste crescimento do movimento pela justiça climática, em 2019, a greve estudantil pelo clima mobilizou mais de 35 mil jovens entre Lisboa e Porto. A mais recente manifestação pelo direito à habitação foi organizada por muitos colectivos liderados por jovens – o mesmo se aplica à marcha no Dia da Mulher, à manifestação anti-racista ou por uma vida digna, e muitas outras lutas que importam às novas gerações.
Mas nem só de grandes mobilizações e manifestações se tem feito a participação política dos jovens em Portugal. No HUMAN, criámos as “Action Communities” (Comunidades de Acção) onde os jovens trabalham em propostas de soluções locais e nacionais, que apresentam nas autarquias (ou eles próprios implementam quando não são ouvidos).
Esta geração não tem tido nada de rasca. É uma geração que, de crise em crise, tem arregaçado as mangas e feito por mudar aquilo que podem.
As novas gerações já não se informam pelos mesmos meios, nem se mobilizam da mesma forma… o que não quer dizer que estejam erradas. A política, no seu sentido mais lato, é que tem estado à rasca para se adaptar e integrar estas novas vozes.
Os jovens não são só o futuro, são o presente.
O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.