Qualquer cidadão atento e preocupado com assuntos políticos não se espantará com a clareza e a força da afirmação que proclamamos: a política contemporânea está feita um lodo! E esta degradação agrava-se perante os tumultos das campanhas eleitorais onde se debita muita informação (nem sempre verdadeira) para tentar captar pequenos rasgos de atenção e mediatismo, algo especialmente perverso numa época em que se exige honestidade, transparência e um discurso racional e coerente. Eram estes os valores que deveriam prevalecer, na medida em que o processo democrático prospera quando são apresentados aos eleitores argumentos bem fundamentados e baseados em factos, em vez de em falácias. Mas para isso seria necessária uma mudança na cultura da campanha eleitoral que, desafortunadamente, ainda desemboca em armadilhas e táticas que não têm qualquer intuito que não o de enganar.
As falácias são por definição falhas de raciocínios que leva a conclusões enganosas ou, pelo menos, pouco sólidas. Acontece que, infelizmente, em vez de serem um erro indesejável, as falácias transformaram-se numa norma em campanhas eleitorais, o que se traduz numa crescente desconfiança nos ideais democráticos na sociedade. Desde ataques ad hominem (onde se ataca a pessoa e não as suas teses ou argumentos) às falácias do espantalho (onde se caricaturam ou distorcem determinadas afirmações ou argumentos), passando ainda pelas derrapagens (onde se postula sem qualquer evidência de caráter empírico ou racional que uma determinada política ou medida levará a uma série de eventos catastróficos), este tipo de raciocínios sem qualquer suporte lógico não se limita a erodir a confiança entre cidadãos e políticos, mas procuram também impedir a criação de opiniões devidamente formadas e fundamentadas.
E é lamentável que assim seja: é triste que se procure manipular os eleitores, explorando a sua ingenuidade ou ignorância em relação a determinados assuntos, ao invés de promover uma cultura verdadeiramente democrática que passa, naturalmente, por uma campanha com menos falácias. Porque as campanhas políticas deveriam ser fóruns de um debate robusto e de troca de ideias e não plataformas de desinformação e atalhos argumentativos; porque as campanhas políticas deveriam promover os valores da transparência, da honestidade e da argumentação fundamentada, considerando que esse é o caminho que deve ser percorrido para elevar a democracia e garantir que os representantes eleitos são íntegros dos pontos de vista intelectual e moral. E é por isso que já é devida à nação portuguesa uma campanha política com menos falácias, na medida em que essa é uma campanha que respeita verdadeiramente o eleitorado e a sua inteligência, além de contribuir para uma democracia mais saudável para todos.