Em julho deste ano, o autoritarismo na Venezuela voltou a estar nas bocas do mundo, depois de o presidente Nicolás Maduro ter sido reeleito durante um contexto eleitoral duvidoso. Falou-se de fraude e, no rescaldo da situação, o mundo relembrou a falta de liberdade, de democracia e de respeito pelos direitos humanos existente no país.
Segundo Índice de Democracia do The Economist de 2023, o Estado venezuelano é autoritário, ocupando a 142.° posição entre 167 estados, em termos de níveis de democracia. O regime de Maduro, presidente desde 2013, é conhecido precisamente por esse autoritarismo, demonstrando facetas de culto ao líder, censura à imprensa, arbitrariedade (por exemplo, em relação à antecipação da data do Natal) e intimidação de opositores (por exemplo, Juan Guaidó e os seus aliados). No entanto, este tipo de ambiente político está longe de ter começado em 2013. Começou em 1999, quando Hugo Chávez, antecessor de Maduro, se tornou presidente, cargo que ocupou até à morte. Desde a presidência ditatorial de Chávez, à qual sucedeu a de Maduro, que a economia e democracia da Venezuela se têm vindo a deteriorar cada vez mais, situação que vitimiza, acima de tudo, o povo venezuelano.
Ainda assim, há quem ache que os protagonistas deste tipo de regimes devem ser homenageados. É o caso da Câmara Municipal da Amadora que, em 2016, sob a presidência de Carla Tavares, decidiu inaugurar uma praça com o nome “Praça Hugo Chávez”. A praça é uma rotunda e está localizada na freguesia de Alfragide, junto ao IKEA.
Há uma praça em Portugal que homenageia Hugo Chávez. Hugo Chávez, esse ditador que minou a economia da Venezuela, causando a fuga de mais de um milhão de venezuelanos e a fome de outras centenas de milhares.
Há uma praça em Portugal que homenageia Hugo Chávez. Hugo Chávez, esse ditador que lançou a censura sobre os meios de comunicação social e perseguiu opositores ao seu regime.
Há uma praça em Portugal que homenageia Hugo Chávez. Hugo Chávez, esse ditador antecessor de Nicolás Maduro, que tem continuado o seu legado de tirania, corrupção e repressão, perpetrando a miséria e promovendo a fraude eleitoral, como observado nas eleições mais recentes.
Isto não é aceitável, e chega a ser sórdido, tendo em conta os mais de 40 mil venezuelanos que residem em Portugal, muitos deles refugiados do Chavismo. Nunca tendo sentido as políticas de Chávez na pele, imagino que, para um venezuelano fugido do seu regime, o sentimento de olhar para uma praça nomeada em sua homenagem deve ser equivalente ao de um judeu que olha para uma suástica ou de um ex-prisioneiro de um gulag que olha para uma foice e um martelo. Tamanha falta de respeito por uma comunidade com grande expressão em Portugal não é aceitável, tal como não é aceitável que um país democrático, em particular um país democrático que sofreu 48 anos às mãos da ditadura, honre ditadores.
Mudar o nome de uma praça não libertará imediatamente o povo venezuelano nem acabará com toda a opressão do mundo. No entanto, constituirá uma mensagem de solidariedade para com todos aqueles que não são livres. Ser indiferente a esta potencial mudança é ser indiferente à liberdade, ao sofrimento, e até ao ser humano.
A Students For Liberty, juntamente com a Associação Venexos, já enviou um e-mail à Câmara Municipal da Amadora e à Junta de Freguesia de Alfragide a pedir a mudança do nome da Praça Hugo Chávez. Este e-mail foi enviado há mais de um mês e ainda não obteve resposta. A isto, acrescem as dezenas de petições públicas criadas neste sentido, que ainda não obtiveram resposta.
Deste modo, pedimos a estas entidades que tornem claro de que lado estão e pensem sobre este assunto. Em 2007, o rei Juan Carlos perguntava a Chávez: “Porque no te callas?!”. Agora, eu pergunto à Câmara Municipal da Amadora e à Junta de Freguesia de Alfragide: “Porque não mudam o nome da praça?”.