Para um cidadão como eu, que não nasceu ontem, não faz qualquer sentido ou, melhor, é uma perfeita idiotice que por isto ou aquilo os políticos destes tempos de incertezas e desarrimos volta não volta lhes dê na veneta de fazerem uma data de asneiras que aos olhos do cidadão comum, que não seja idiota chapado – nem tenha pelo partido onde invariavelmente vota paixão igual à que tem pelo clube do coração -, mais do que asneiras são grossas palermices, que encontram o expoente máximo nessa tonta mania de se porem a traçar linhas vermelhas aos adversários e inimigos, por dá cá aquela palha.
Quem como eu, que já cá anda há longos anos e comeu do pão que o diabo amassou, acha que já viu, escutou e sentiu tudo, está redondamente enganado.
Desde que me conheço, passei por várias guerras no mundo, a primeira delas a terrível II Grande Guerra, com o seu rasto sangrento de destruição, fome, muitos milhões de mortos e feridos; por golpes de estado e revoluções; por cruéis e mortíferos atentados terroristas como o da Al-Qaeda a 11 de Setembro de 2001; por pavorosos tremores de terra e outras calamidades da natureza; por crimes bárbaros e hediondos; por canalhices e trafulhices políticas aos molhos, traições, hipocrisias, esfaqueamentos pelas costas, “Até tu, Brutus?”; por uma Justiça que é uma desgraça; corrupção que nunca mais acaba; criminosos e cadastrados a serem tratados com benevolência e nas palminhas e as vítimas completamente ignoradas, maltratadas, desprezadas; por uma a comunicação social enviesada, pobre e dobrada à esquerda, e etc. por aí afora Parece que só me faltará ver ao vivo um porco a voar, mas, vai-se a ver, a realidade ultrapassa de longe a ficção e, quando menos se espera, lá surge algo que nos faz abismar e, incrédulos, meio pasmados, pomo-nos a dizer para nós mesmos: Santo Deus, mas está tudo doido?
Sou um pessimista e vejo tudo a negro? Talvez o seja, não serei eu a negá-lo, mas o que vejo, percepciono e sinto não é outra coisa que não seja a realidade que a vida a toda a hora me estende à frente dos olhos: maus políticos e governantes; insegurança em roda livre; serviços públicos em cacos em que o cidadão incauto se vê enredado numa teia burocrática de papeis inúteis que lhe roubam a paciência e o sossego; o ensino público que é a desgraça que se sabe e com milhares de alunos sem professores; a saúde; os tribunais aspas aspas; crimes a qualquer hora do dia ou da noite, assaltos por tudo quanto é sítio, mafias organizadas que à Hollywood abatem a tiro em plena luz do dia mafiosos rivais, cadastrados perigosíssimos estrangeiros e nacionais que se piram das nossas cadeia de alta e baixa segurança com a facilidade de quem limpa o rabinho a criancinhas; violência doméstica quanta se queira, velhotes a levarem porrada dos filhos e dos netos e a serem deixados a morrer ao abandono em casa é o pão nosso de cada dia; zonas do país onde nem pensar em pôr os «butes» é mato, outras zonas em que se arrisca a levar uma facada ou um tiro e a ficar sem a carteira, o telemóvel e outros pertences e às vezes até mesmo a vida, crimes e assaltos de criar bicho, sair à noite para ir ao cinema ou ao teatro é o sais; o interior norte e centro do país que o Terreiro do Paço galhardamente despreza e abandona à sua sorte apenas dele se lembrando só pelas eleições a arder todos os verões; com as suas trabalhadoras pobres gentes noites e noites sem irem à cama e suando as estopinhas para de mangueiras de quintal, baldes, ramos de arvore o que calha à mão para, na ausência de bombeiros que não chegam para tudo, de coração apertadinho e lágrimas a correr pela cara abaixo, a tentar salvar a casa, os haveres de uma vida, o carro, as máquinas agrícolas, os animais e os velhos pais e avós acamados e sem mobilidade – este é nosso maldito fado, de políticos sem gabarito para a resolução de vez do problema, com todos os verões a repetir-se a desgraça, a tragédia, as mortes, a destruição de uma vida inteira de trabalho e canseiras, as lágrimas do desespero e da impotência daquelas gentes desprezadas por Lisboa-parasita a escorrer outra vez pela cara abaixo, todos os verões a repetir-se a hipocrisia e a desfaçatez dos políticos da capital prometendo irem ser tomadas medidas urgentes, castigar a sério os incendiários, achando que com estas tretas e que atirando dinheiro para cima dos problemas estes ficam automaticamente resolvidos Blábláblá, a mesma cassete repetida todos os verões, e por aqui me fico que isto já vai demasiado longo e um tanto maçador, apenas quero assinalar que é este o retrato vivo do país que o cidadão comum observa e regista. O resto é conversa fiada.
Há excepções, dirão, claro que as há e saúdam-se, algumas que merecem realce e são definidoras de seres humanos de grande nobreza de carácter, mas são apenas isso, excepções, quanto ao mais é o que se sabe, conhece e vê, o crime e as chatices do quotidiano estão à espreita a todo o instante, menos, claro, para os políticos que não moram em bairros manhosos e têm as costas guardadas, para os Ricardos Costas das SICs e para todas aquelas pobres almas que às paletes vão a todas as horas maçar-nos e moer-nos a paciência às televisões esquerdistas papaguear umas insanas e inenarráveis coisinhas esquerdoides, para toda essa gente que gira e se alimenta do Estado-polvo, para toda uma casta de privilegiados, que vivem encerrados na sua pindérica bolha mediática, Portugal, dizem eles sem se rir, continua a ser “o país mais seguro do mundo”. Só mesmo para galhofar, se não fosse um assunto sério demais.
Retomando a coisa das linhas vermelhas.
Com o país deixado em frangalhos pelos socialistas de António Costa, o que os portugueses mais quereriam era que Luís Montenegro e a sua AD agarra-se o toiro das tricas partidárias e das politiquices pelos cornos e pusesse com firmeza o país a dar a volta por cima, reformar o país, custasse o que custasse, pois de contrário nunca, jamé, como dizia o outro, se sairá da cepa torta, desta vil pobreza e deste amorfismo paralisante.
Mas Luís Montenegro tem vindo a deixar claro que não está para aí virado. Ele e o Presidente da República enquanto o concelho ardia foram à região do Tábua mostrar-se, atrapalhar mais do que ajudar, dizer aquelas obviedades de circunstância que são como a aspirina nem fazem mal nem fazem bem, ao mesmo tempo que, nessas zonas todos os anos martirizadas pelos incêndios, os habitantes locais e das cercanias juntando esforços, homens e mulheres, novos e velhos, lutavam com unhas e dentes contra o inferno das chamas.
Era uma boa ocasião para o primeiro-ministro repensar o que tem andado a fazer, lembrar-se do que os portugueses disseram ao país nas urnas a dez de Março, fazer um humilde meia culpa do seu insensato “não é não” e lança-lo longe, às profundezas do inferno, e, de caminho, chamando a conversas os partidos do espectro de direita, fazer uma grande maioria consensual para governar como deve ser o país e fazer as reformas que é preciso fazer e que desde há muito tempo já deveriam ter sido feitas.
Ao contrário disso, e com as incertezas e os apertos da aprovação ou não do OE, o que é que Luís Montenegro disse? Que “os portugueses não querem birras”.
Não, não querem, tem razão senhor primeiro-ministro, os portugueses não querem birras entre partidos políticos, nem politiquices, nem teimosias um tanto ineptas e absurdas. O que os portugueses querem é que os políticos se entendam, que ponham acima de todos os interesses os interesses de Portugal. Os portugueses disseram o que queriam nas últimas eleições legislativas. Que seja formado um amplo governo à Direita, composto por uma grande maioria para, assim, fazer as reformas a sério, por forma a voltar a pôr as rodas do comboio de uma governação competente e sensata bem assentes sobre os carris sólidos de um país confiante.